POEMA DE BENDINHO FREITAS
ELEGIA AO IMBONDEIRO DO CAZENGA
“Às árvores angolanas”
Quem não ouviu o choro do Imbondeiro? Quem não viu as lágrimas do Imbondeiro? Quem não ouviu os gritos do Imbondeiro? Ah! Se o Imbondeiro do Cazenga tivesse asas…
O imbondeiro chorava Não queríamos ver as lágrimas escorrerem! O Imbondeiro gritava não queríamos ouvir o clamor ecoar! Não ouvimos os bastas em cada ferida aberta Não ouvíamos a tosse do imbondeiro quando se afogava no alívio etílico de boémios noctívagos. Não vimos a cirrose do Imbondeiro proliferar.
O imbondeiro tentava a fuga, o voo Não lhe demos pernas, asas solidárias. Não lhe demos a mão fraterna.
Mas quando os olhos da árvore se fecharam quando seu forte tronco mordeu o chão quente do musseque quando a simbologia se desfez na lembrança restou a saudade dos boémios sem muro para lamentar suas vergonhas restou guardarmos as lágrimas não vertidas na primeira hora.
Bendinho Freitas nasceu a 25 de Maio de 1971 em Luanda. Jurista licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. Foi professor: leccionou história em algumas escolas secundárias de Luanda e Língua Portuguesa no Centro Pré-Universitário da mesma cidade. Funcionário público, quadro do Ministério da Energia e Águas, onde exerce o cargo de Director de Recursos Humanos, com passagem pelos sectores da construção e comércio. Publicou o livro “A Pitoresca Etnia das Palavras”, poesia, edição da UEA 2016. Em 2000 publicou poemas e contos no extinto Suplemento Vida Cultural do Jornal de Angola. O poema ora apresentado foi extraídos de uma compilação inédita de poemas temáticos, dedicados às árvores angolanas.