Às vezes pasmo
Vezes sem conta acordo cedo, um hábito diabólico para me entender com o mundo, viver um certo silêncio para descortinar o tanto que ouço. Embebo-me de leituras in initas, lendo de tudo o que considere bom e tenho já algum arcaboiço para os de inir. Não leio tudo, por alguns, passo apenas um olhar leve e largo de seguida, coisas sem sumo e que não me obrigam a re lectir e a puxar pela cabeça, relatos jornalísticos em romances que às vezes tanto vendem, mas não é esse o meu propósito, leio para aprender e só o que esforça o nosso intelecto nos ensina. Literatura de cordel agrada a muitos, que fazer? A cultura da maior parte de leitores é essa, a malta pretende não esforçar-se, quer o produto concluído numa simples passagem pelo texto, entendo e não, para mim e não só, ler é emigrar para dentro da alma, é viajar o desconhecido, descobrir em cada frase o esquema complicado do produtor, ir ao dicionário, encontrar signi icados, pescar em mares de altas de inições. Literatura não é ler jornais, mas sim buscar o in inito das cabeças dos criadores, o que será alvo de estudo um dia e as provas o con irmam. Escrever livros signi ica sempre obra literária? Claro que não. Talvez por isso haja poucos escritores e muitos a escrever. Literatura é arte e a arte instiga, faz duvidar, pesquisar, interiorizar, coisa de que muitos fogem. A malta tem preguiça intelectual e o anúncio do jornal facilita-nos a vida. Vender muito não signi ica ser bom, embora quem de ina isso é o leitor, mas esse próprio, o leitor, em grande parte, não é conhecedor nem sequer busca o saber procurando como se estuda na escola, ler o que nos di iculta para obtermos sabedoria nas artimanhas da arte. Literatura sem espectros de arte são descrições apenas, sem aprofundamento do sonho literário nascido há anos por gente que estudou e se dedicou ao tema. Não se estuda literatura fácil, e porque será? Já se questionaram sobre isso? Porque razão se estuda Beckett, Joyce, Cervantes, Saramago, Borges, etc., escritores di íceis, muitos icam por citar, e não se estuda Rolling que bateu o recorde de vendas? Pois, a diferença está entre o que é literatura e o gosto do comum, mas esse, embora dê dinheiro aos autores, ica na mesma: saciando apenas com a descrição fácil de um livro sem arte. A arte não é coisa fácil, sabemos, e há quem os apelide de loucos, e por isso pergunto: Somos todos médicos além de grandes especialistas em fazer crítica literária? Por isso às vezes pasmo.