Um pintor experimentado
Van, depois dos 40
Esta primeira sala é uma espécie de introdução ao que veremos mais adiante. É uma contagem regressiva no tempo / espaço Van, desde a arte mais contemporânea até a prática mais tradicional. Mas cuidado público, não perda a sua capacidade de surpreender-se!
E que surpresa quando no mesmo espaço convergem pintura, vídeo, cerâmica, retrato, diferentes técnicas de gravura e inalmente, uma grande instalação com claros indícios a Arte Povera, e essa marca, tão característica de Van, que são as folhas secas de árvore. E eu me pergunto: haverá alguma manifestação de arte que este artista não se atreva a experimentar? Acredito que não. Van é multifacetado.
No conjunto de pinturas acrílico e óleos, há uma angolanidade ameaçadora, com linhas fortes e muito agudas, que se projectam através de um cubismo harmonicamente revisitado desde a abstracção geométrica e simbologia africana.
São vários as peças que carregam uma história pessoal para o artista, trabalhos que brincam e folgam coma abstracção das formas sem cair completamente nelas, ecom uma pigmentação muito ocre, que sempre nos lembra os cores naturais desta terra única. Terra angolana da sua província natal, Bengo; que coloca em todo o seu esplendor a partir da peça Morro de Salalé-Labirinto: um monte de terra penetrável que podemos ir e pegar nas entranhas de um país Africano que se orgulha de seus ruídos, sua lora e sua fauna. Orgulhoso de toda a sua história.
Por outro lado, há um grupo de trabalhos desenvolvidos com técnicas mais tradicionais datado do inal dos anos 70. Estas peças, nos apresenta áVan muito cauteloso formalmente. Naquela época, era um jovem discípulo de seus professores cubanos Choco e Nelson Dominguez, dos quais sempre esteve atencioso a todas suas liçoes. Se você observar bem e conhece um pouco da arte cubana da década de 70, poderá ver as claras in luências. Por outro lado, as gravuras mostram uma abrangente con iança em suas diferentes técnicas: Vantem coragem com a xilogravura, a serigra ia, a aguarela e outras.
O artista nos apresenta uma grande diversidade cultural africana a partir de uma geometrização figurativa influenciado por ideogramas angolanos tradicionais, elementos simbólicos da cultura Cokwe, assim como ao apego ( dividido entre a sensualidade e o dogmático) que sempre teve a forma feminina.
Seu trabalho Mulheres junto ao rio, nos faz lembrar para o tema daslavadeiras tão presentes em todo o avantgardedo século XX, no entanto, mas lembre-se de Matisse ou Gauguin, sempre a imagem de zungueiras ao longo do rio Kwanza vem à mente.
E é que os trabalhos apresentados nesta exposição carregam o peso das histórias pessoais do artista como no caso do Retrato de meu pai, Guarda Fronteira, Dia-Van, entre outros.
Quase terminando este tipo de "retrospectiva textual" de Van, devo falar das peças cerâmicas. Elas são requintadas na sua factura e com um brilho ao qual não estamos muito acostumados, pois a paleta de Van, é pelo menos discreta. Mas nas peças cerâmicasvemos uma faceta que o artista não nos mostra commuita frequência, mas quando ele decide fá-lo esmagador.
E esse é o termo que uso para termi- nar esta crónica. A exposição "Van- Depois dos 40 anos", é uma exposição contundente. Apresenta um grande caminho percorrido por este artista, onde na qual nos revelou uma estreita relacção com sua melhor fonte de inspiração: Angola, África e o universo.