Jornal Cultura

Domingos de Barros Neto tece fiapos de memórias

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omingos Fernandes de Barros Neto já nos habituou a uma escrita de expressivo corte clássico, no esmero da linguagem e na clareza da exposição das ideias, como lemos em Sombras do Passado e Nzaji, o Último Contratado.

No passado dia 9 de Novembro, Barros Neto entregou ao público luandense as suas Memórias – num Diário Fragmentad­o, um registo de um período crucial da sua vida, pintado a um ritmo discursivo axio-teológico.

Assim se lê, na página 18: “Sob o peso de problemas que, talvez, nem eu sei bem explicar, julguei oportuno parar no plano pró-sacerdócio e re lectir um pouco, para depois agir humana e normalment­e.”

Tomada esta decisão, o jovem seminarist­a Domingos Neto inicia o período de dois anos de hibernação sacerdotal, vivendo na cidade como um vulgar cidadão, com todas as di iculdades, desa ios e tentações, em busca da de initiva certeza da vocação.

Num registo diarístico, o autor reflecte sobre o dia- a- dia da cidade de Luanda e das suas gentes, dos seus medos e da sua revolta, e confrontas­e com os grandes temas da actuali- dade global que vai lendo nos jornais e magazines.

Por isso, o livro que temos em mãos é o diário de um cidadão do Cosmos à procura do sentido da Humanidade e não apenas o con lito íntimo entre a vocação para Deus e o destino “mundano”. Pois que, no volume II das Memorias que parece terão continuida­de até completar uma tetralogia, o autor leva-nos à Luanda de 1972:

“Hoje, Luanda apresenta-se como uma face de menina bonita, bela e requintada, mas de uma beleza arti icial graças às múltiplas massagens arti iciais, a cosméticos dos mais variados quadrantes.

Luanda ficou bela, moderna, usa vestidos, lançou fora os panos e quimones de outrora mas, por baixo, sente- se o bafo de toda uma hipocrisia e cinismos de um a menina casada mas com vícios assustador­es. Luanda de hoje é, para mim, um verdadeiro enigma!”

Como um tecido feito de iapos dispersos, de memorias registadas em cima dos acontecime­ntos, esta obra a continuar veste bem a nossa alma sedenta de guardar um passado que aponta o caminho para o futuro.

Domingos Fernandes de Barros Neto - nasceu no Cazengo – Kwanza-Norte (Angola) em 1945.

Viveu a sua infância no Dondo (Cambambe), e em Luanda onde concluiu os ensinos primário e liceal.

Formou-se em iloso ia em Itália e, em Angola após a independên­cia concluiu o curso de Direito na Universida­de Agostinho Neto.

Foi professor do ensino liceal em Angola (Luanda, Bailundo, Huambo Saurimo e Dundo).

Trabalhou na Embaixada de Itália em Angola como tradutor, assistente comercial e adjunto da área da cooperação universitá­ria italo- angolana.

Foi igualmente Diretor da SADIA - Sociedade Angolana dos Direitos do Autor. Passado à reforma, dedica-se actualment­e a actividade­s de advocacia e, sobretudo, de sistematiz­ação literária.

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