Jornal Cultura

10 de Novembro de 1995 Dramaturgo e activista Ken Saro-Wiwa enforcado na Nigéria

-

en Saro-Wiwa, de seu nome Kenule Benson Tsaro-Wiwa, nasceu no dia 10 de Outubro de 1941. Era o ilho mais velho de uma família proeminent­e em Ogoni, que é hoje Bori, estado de Rivers, Nigéria. Saro-Wiwa foi educado no colégio do governo de Umuahia e na Universida­de de Ibadan.

Posteriorm­ente, ocupou uma ampla variedade de cargos administra­tivos no governo, incluindo o de comissário de educação no Rivers State no inal dos anos 60, e comissário de informação e assuntos internos no início dos anos 70. Além disso, ele foi editor e escritor, e serviu como presidente da Associação de Autores Nigerianos.

Dois dos seus trabalhos mais conhecidos foram extraídos de suas observaçõe­s e experiênci­as da guerra do Biafra. Sua magnum opus, 'Sozaboy: um romance em inglês podre', um conto de um garoto ingénuo da aldeia recrutado para o exército. 'On a Darkling Plain', um diário de suas experiênci­as durante a guerra.

Durante a guerra de Biafra (19671970), foi administra­dor civil para o porto de Bonny, perto de Ogoni no Delta do Níger. Passou a ser empresário, romancista e produtor de televisão. A sua série de TV satírica Basi & Co. foi supostamen­te a novela mais assistida na África.

Ken Saro-Wiwa foi consistent­e em expressar a sua preocupaçã­o com o tratamento dos Ogoni dentro da Federação Nigeriana e em 1973 foi demitido de seu posto como Comissário Regional de Educação no gabinete do Estado de Rivers, por defender uma maior autonomia Ogoni.

Durante os anos 70, construiu seus negócios no sector imobiliári­o e no varejo e, nos anos 80, concentrou-se em sua produção de jornalismo e televisão.

Uma caracterís­tica constante de seu trabalho eram referência­s à exploração que ele via à sua volta, à medida que a indústria de petróleo e gás expunha os Ogonis, deixando-os poluídos e privados de direitos.

Em seu livro de contos, Forest of Flowers (1986), usou a história Night Ride, para re lectir sua ira contra empresas multinacio­nais de petróleo, como a Shell, apropriand­o-se da terra da população local:

“Uma velha tinha se arrastado até ele. Meu ilho, eles chegaram esta manhã e cavaram toda a minha fazenda, minha única fazenda. Eles ceifaram a labuta das minhas sobrancelh­as, o orgulho dos meses de espera. Eles dizem que vão me pagar uma indemnizaç­ão. Podem me compensar pelos meus trabalhos? A alegria que recebo quando vejo os vegetais brotando, a revelação de Deus para mim na minha velhice? Oh meu ilho, o que posso fazer?

Que resposta agora ele poderia lhe dar? Eu vou investigar isso depois, ele respondeu suavemente.

Olhe para isso depois. Ele quase podia odiar a si mesmo por contar essa mentira. Ele amaldiçoou a terra por jorrar óleo, ouro negro, como eles chamavam. E ele amaldiçoou os deuses por não secarem os poços de petróleo. O que importava que milhões de barris de petróleo fossem extraídos e exportados diariament­e, desde que essa pobre mulher chorasse aquelas lágrimas de desespero? O que ele poderia olhar depois? Ele poderia disponibil­izar terras alternativ­as? E os legislador­es revisariam as leis apenas para trazer um pouco mais de felicidade a esses infelizes que a busca por petróleo reduzira a uma existência animal? Eles devem enviar os royalties do petróleo para os homens cujas fazendas e terras foram saqueadas e arruinadas. Mas os advogados estavam a cargo das companhias petrolífer­as e do governo e das empresas. Então, como ele poderia investigar isso depois?”

Em 1990, Saro-Wiwa ajudou a fundar o Movimento para a Sobrevivên­cia do Povo Ogoni (MOSOP). Ele alegou que a receita do petróleo de Ogoniland, no delta do rio Níger, no leste da Nigéria, estava sendo usada para enriquecer a elite nigeriana e que Ogoniland estava sendo arruinada pela conseqüent­e poluição. Ele começou a se dedicar à melhoria dos problemas das regiões produtoras de petróleo do Delta do Níger. Focando em sua terra natal, Ogoni, ele lançou um movimento não violento pela justiça social e ecológica.

Em 1992, Saro-Wiwa foi preso por vários meses, sem julgamento, pelo governo militar nigeriano.

Saro-Wiwa foi vice-presidente da Assembleia Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas e dos Povos (UNPO) de 1993 a 1995. A UNPO é uma organizaçã­o internacio­nal, não-violenta e democrátic­a (da qual o MOSOP é membro). Seus membros são povos indígenas, minorias e território­s não reconhecid­os ou ocupados que se uniram para proteger e promover seus direitos humanos e culturais, preservar seus ambientes e encontrar soluções não violentas para os con litos que os afectam.

Em Janeiro de 1993, o MOSOP organizou marchas pací icas de cerca de 300.000 pessoas Ogoni - mais da metade da população Ogoni - através de quatro centros Ogoni, chamando a atenção internacio­nal para a situação de seu povo. No mesmo ano, o governo nigeriano ocupou a região militarmen­te. Ele foi tão efectivo em atacar as companhias petrolífer­as e o governo nigeriano, acusandoos de travar uma guerra ecológica contra os Ogoni e precipitar o genocídio do povo Ogoni, que em 1993 as companhias petrolífer­as saíram de Ogoni.

O MOSOP planejou boicotar as eleições presidenci­ais de Junho de 1993. A oposição política desenvolve­u-se a partir do MOSOP sobre esta questão e, em Maio de 1994, um tumulto ocorreu em uma reunião em Giokoo, resultando na morte de quatro Ogoni. Embora SaroWiwa não estivesse presente, foi preso por supostamen­te instruir seus partidário­s a “lidar com” seus oponentes políticos. Grupos de direitos humanos alegaram que seus métodos eram baseados na não-violência.

Saro-Wiwa e outros quatro Ogoni foram julgados e condenados por um tribunal militar especial e lhes foi recusada a possibilid­ade de recurso. Saro-Wiwa foi enforcado com oito outros activistas Ogoni em 10 de Novembro de 1995. Depois disso, várias testemunha­s da promotoria declararam que haviam sido subornadas para testemunha­r contra ele.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola