PANORAMA Mónica de Miranda: respiração das coisas (domiciliares) abandonadas
Imagens sem sentido aparente, a cidade é menina, é navio, é hotel abandonado ( alma? de quem? também se abandona uma alma?), é janela de Sol bebendo por um vaso, apartamento sem sonhos nas gavetas, frinchas por onde a luz nos diz qualquer coisa.
Respiração abdominal em roupa interior, janela provisória, cadeira de inesperadas esperas, permanecer num quarto com vista para Deus, não me deixes a tua merca, ó indústria (logográfica) nesta caixa de ressonâncias, ó porta demorada, armário de casa de banho enferrujado sobre parede assassinada.
Sala do outro mundo com mesa e 2 cadeiras socráticas (na sua maiêutica).
Cama com espelho redondo de filme apocalíptico. Cama com AC de hospício. Mangueira sem mangas, dona de uma casa. Casa gémea de antiguidades. Casa sem ninguém com árvores. Casa parecida com a que vi em Malanje do pós-guerra.
Quando não há palavras, as plantas falam, de olhos fechados como duas gémeas mudas vestidas de preto. Like a candle in the wind: floresta. Kalandula em cadafalso: dependurada de um fio de emoções.
II. GRANDES IMAGENS
Tecto do Mundo humanizado pelo ballet do pensamento e da alma
Cine Karl Marx. Estúdio para ambiguidade antropofitogenética, sinestesia floromórfica, meteorologia de sensações a desaguar numa recordação de peixes.
III. SOM
A música preenche a oficina da natureza morta.
Um anjo negro em trajes alvos desce a espiral do abandono.
Eis a capital de um pais descapitalizado, cuja única riqueza é a flor das coisas e a florescência da juventude.
Esse som de fundo pode ser alguém a jogar basquete, ou a despedir- se desta vitadura.
IV. VÍDEO
A respiração das coisas (domiciliares) abandonadas pede à beleza de uma mulher jovem que por ali passa, um concerto de violinos, um gra ito num vão de escada, uma insinuação de ballet.