Jornal Cultura

“Making a living in the dry season”,

-

aking a Living in the Dry Season ( Fazer pela vida no Cacimbo), da antropólog­a Inês Ponte, e exibido no passado mês de Novembro no Centro Cultural Brasil-Angola, é um filme de investigaç­ão baseado numa longa permanênci­a da autora uma aldeia agropastor­il das terras altas na província do Namibe, em Angola. O filme é um retrato íntimo do dia- a- dia de uma família que examina, através da prática da criação de bonecas, uma dupla noção de trabalho, isto é, o trabalho na elaboração e o trabalho para ganhar a vida.

“Foi um alívio quando Madukilaxi começou a criar a boneca que eu lhe pedi algum tempo atrás, porque eu poderia filmar todo o processo. Tendo vivido numa fazenda nas montanhas de Angola por cerca de seis meses, eu esperei cerca de um mês para a minha anfitriã criar uma boneca para o meu projecto de pesquisa”, explica a antropólog­a. Finalmente, quando ela começou a criar, ela

foi explícita sobre o motivo de seu atraso: “Ondjila nondjala, no djitunga ovana vaInes!”. Tendo aprendido Olunyaneka desde a sua chegada, finalmente Ponte entendeu o comentário: “a fome da [ estação seca] está chegando e eu estou fazendo uma boneca para Inês!” O comentário de Madukilaxi também abriu o desafio de fazer um filme etnográfic­o sobre esta obra do artesanato local.

Making a Living é baseado nesse pedido para a Madukilaxi para fazer uma boneca. Por isso, o filme examina uma dupla noção de trabalho, consistind­o no trabalho de elaboração do brinquedo e no trabalho de ganhar a vida. Neste íntimo retrato do dia- a- dia de uma família, Lipuleni, a filha pequena de Madukilaxi, também acompanha o trabalho e no final as três mulheres celebram os seus esforços com uma festa.

De cariz etnográfic­o, esta narrativa de 35 minutos mostra a vida dura numa aldeia localizada numa região semiárida que tem uma curta estação chuvosa com chuvas irregulare­s e uma longa estação seca com escassez regular de suprimento de alimentos, e incorpora o conhecimen­to sobre o método de fazer bonecas e sobre o filme como pesquisa.

O ilme analisa okutunga (artesanato) com ovilinga (trabalho) de maneira re lexiva. A ilmagem foi e inspirada nas abordagens de Ruy Duarte de Carvalho segundo o qual que o cerne do ilme etnográ ico consiste numa re lexão sobre a produção dando voz corpórea aos participan­tes ilmados, como forma de dar voz aos que não têm voz.

Making a Living in the Dry Season foi produzido em 2016 e recebeu menção honrosa no festival “Frames – Portuguese Film Festival” na Suécia.

A autora

Inês Ponte nasceu em 1979, em Portugal, e estudou Antropolog­ia Visual no Reino Unido, com formação em Documentár­io e Antropolog­ia Social a partir de casa. Desde 2006, trabalha como editora, operadora de câmara, produtora, pesquisado­ra e assistente de redacção de projectos documentai­s e de pesquisa na Índia, Brasil, Portugal, Angola e Reino Unido. Actualment­e ensina cursos teóricos e práticos sobre cinema e visualidad­e, concebe e colabora em projectos audiovisua­is e media com base em Portugal e em Angola.

 ??  ?? Cenado filme cartaz Making a Living Lipuleni a menina
Cenado filme cartaz Making a Living Lipuleni a menina
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola