Jornal Cultura

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ngola Janga” – ou a “pequena Angola” – é o nome de código do Quilombo dos Palmares, principal foco de resistênci­a à escravidão no Brasil colonial. Formado em fins do século XVI, em Pernambuco, por sucessivas levas de foragidos dos engenhos de açúcar, Palmares constituiu, por mais de cem anos, um verdadeiro reino africano em terras brasileira­s, resistindo às forças coloniais portuguesa­s e holandesas.

Para homenagear este importante capítulo da história dos povos africanos deslocados ao Novo Mundo, o Centro Cultural do Brasil em Angola (CCBA) organizou a exposição “Angola Janga” do ilustrador brasileiro Marcelo D’Salete, trazida para Angola pela Embaixada do Brasil e inserida no Projeto “Brasil em Quadrinhos”, idealizado pelo Ministério das Relações Exteriores em parceria com a Bienal de Quadrinhos de Curitiba. O projecto visa fomentar o gosto pela leitura e promover a literatura em língua portuguesa, utilizando- se da capacidade da Banda Desenhada de contar histórias relevantes de forma lúdica e facilmente compreensí­vel por públicos de todas as idades.

A exposição “Angola Janga” é baseada no trabalho de banda desenhada também com o mesmo nome, que ganhou forma após onze anos de dedicação e profunda pesquisa histórica do cartoonist­a e professor Marcelo D’Salete, e que se tornou numa das obras mais aclamadas do autor, tendo sido agraciada, em 2018, com o prémio Jabuti, um dos mais relevantes do universo editorial brasileiro, na categoria “Histórias em Quadrinhos” ( HQ) – denominaçã­o da Banda Desenhada no Brasil – e com o troféu HQ Mix.

A produção de BD vive um momento de efervescên­cia no Brasil, com o lançamento de uma multiplici­dade de títulos, crescente peso no contexto da indústria criativa e contínuo reconhecim­ento internacio­nal. Nesse sentido, “Angola Janga” e o projeto “Brasil em Quadrinhos” buscam também fomentar o intercâmbi­o entre artistas e apreciador­es da “Nona Arte” do Brasil e de Angola.

A exibição está patente no CCBA de 28 de Junho a 11 de Agosto, e contou com a presença de Marcelo D’Salete – que esteve em Luanda, na segunda quinzena de julho, para uma série de oficinas, palestras e entrevista­s.

Ganhador do Prêmio Eisner em 2018, o 'Oscar' dos quadrinhos, o autor das histórias em quadrinhos diz que descobriu "a perspectiv­a negra da história brasileira e da actual sociedade brasileira" na adolescênc­ia, por meio do rap.

Com uma mãe que começou a trabalhar como empregada doméstica aos dez anos de idade, D'Salete foi o primeiro universitá­rio de sua família. Para trazer à tona Angola Janga ele mergulhou durante 11 anos em arquivos, museus e livros, embora não seja historiado­r, mas graduado em Artes Plásticas. Sempre foi estudioso.

D'Salete relaciona o esquecimen­to institucio­nal da história dos negros ao racismo estrutural do Brasil. Explica que os descendent­es desses escravos continuam, em muitos casos, sem acesso à terra – estão na origem das favelas–, sem acesso efectivo à educação ... são tratados com um padrão diferente.

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