MULHER NEGRA
Mulher negra, eis que caminhas sobre os vitrais perenes deste dia jamais extinto no grande rio de sermos mais que o rumor do nada.
Na loresta das tuas tranças mil árvores despertam a mais fértil negação do silêncio neste lugar de nua memória.
Do teu coração, mulher negra, sobem as queimadas do cacimbo encruzilhadas de sóis na tessitura de um povo sempre extasiado na raiz do ngoma apelando à voz humílima do fogo.
Esse povo único emigra em cada gesto teu a linhagem de uma beleza metálica para que o dom da vida singre no teu ventre o surto ancestral de outro país.
E tu, mulher negra, sentas-te no trono beijando a luz da tarde com a notícia dos teus ângulos in initos.
Por quantos mistérios me segreda o marulhar da tua pele onde se fundem as mil cores da transparência do Homem quisera, ave cega, levantar meu voo dentro do zimbo do teu sangue ouvir cantar o som antigo de inventares o Mundo.
No teu rio de luas sem noite quisera, mulher negra, entretecer a asa de um sonho para este esconso vão de África onde o ngoma tece a palavra dos ídolos de pedra.