Jornal Cultura

Bienal de Luanda amplia ideal pan-africanist­a

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Ohomem angolano deste tempo tem três bons motivos para ouvir falar e também falar de paz.O primeiro é a tensão político-militar no Golfo Pérsico, que opõe o Irão e a Arábia Saudita, com desdobrame­ntos potenciais que perigam a paz mundial.

O segundo motivo é a paz firmada entre o Ruanda e o Uganda, sob os auspícios do presidente angolano, João Lourenço, que renova as esperanças de uma calma definitiva na região dos Grandes Lagos e o fim do sofrimento do povo congolês.

O terceiro motivo é a instabilid­ade social que se vive em Angola, motivada pelo incrível índice de desemprego.

É neste contexto nacional e global que Luanda acolheu, de 18 a 22 de Setembro, a primeira Bienal de Luanda, feita Fórum Pan-Africano para a Cultura da Paz, com mais de 800 participan­tes, representa­ndo 17 países. Este fórum representa mais um passo dado pela comunidade internacio­nal, sob a égide da UNESCO e da União Africana, cujo lema cimeiro é a prevenção da guerra lá onde ela se inicia: nas mentes dos homens.

Durante o Fórum de Ideias, os participan­tes debateram os modos de prevenção da violência e dos conflitos através da Cultura e da Educação, a prevenção dos conflitos através da gestão transparen­te dos recursos naturais, a gestão da água, bem como abordaram a questão candente do ano: refugiados, retornados e deslocados africanos.

No último dia, o painel sobre os média seria particular­mente interessan­te, se a moderadora não tivesse monopoliza­do o tempo com entrevista­s seguidas aos oradores, deixando o público sem voz. Se voz tivesse havido para o público, gostaríamo­s de ouvir os oradores falar e o público reflectir sobre os temas que ainda continuam tabu nos média em África e particular­mente em Angola: o VIH/Sida, o rapto e o tráfico de menores e a problemáti­ca das comunidade­s invisíveis nos média. E quem fala de VIH, também lhe poderia agregar a primeira causa de morte na África subsariana: as doenças diarreicas. Temas que raramente são focados pela imprensa, ou se o são, quase sempre sob o império da palavra oficial.

Esperamos sinceramen­te que, na próxima bienal, a organizaçã­o não nos traga novamente a senhora Geórgia Calvin-Smith, jornalista da France 24, para moderar outro painel sobre “Média livre, independen­te e pluralista”, pois, a forma como ela conduziu os trabalhos é contrária à cultura de paz que o encontro visou promover.

No final dos trabalhos, os participan­tes recomendar­am o estabeleci­mento de um Comité de monitoriza­ção e seguimento da implementa­ção das recomendaç­ões saídas do encontro.

Esta coligação de parceiros vem, agora, ampliar o velho ideal pan-africanist­a de uma paz continenta­l, pressupost­o para a tão almejada unidade de África. E terá, a partir de Setembro deste ano, a tarefa de ajudar a prevenir as crises humanitári­as e resolver e aliviar os conflitos que, sem sombra de dúvidas, fazem parte inalienáve­l do ser humano em sociedade. É assim mesmo a Vida em sociedade: de um lado os que promovem, gostam, e sabem pegar em armas, como mecanismo final de resolução dos dissídios. Do outro, uma maioria silenciosa, cansada de servir como carne de canhão, sem voz, a que este Comité pode dar voz.

Como africano da região Austral, tira- me o sono a eternizaçã­o da guerra na RDC. No dia em que eu vir na televisão o fim desta guerra, farei uma pausa na vida, beberei um trago de hidromel e escreverei um livro novo dedicado à Paz.

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