Jornal Cultura

O bailarino de batalhas em busca de reconhecim­ento

- MATADI MAKOLA

Natural da Ilha de Luanda, foi na escola Alda Lara que viveu intensamen­te a vontade de dançar. Segundo conta ao Jornal Cultura, quase que ia à escola “somente para dançar”. Se envolveu abertament­e em toda a irreverênc­ia e aceitação de novidades artísticas que se viviam nas escolas na primeira década de 2000, onde o ambiente propiciava sonhar ser rapper, b-boyng, ou uma artista pop. Era a moda. Aos 29 anos de idade, foi preciso que Tássio José “Jay” vencesse o mediático “Bai Dança com Ritmo” para se ver catapultad­o à fama nacional, mas nem por isso apagou a tristeza por não ter sido reconhecid­o por ser detentor do título de campeão africano de danças urbanas. Lamenta que tanto em 2019, em que foram campeões na categoria popping, tanto neste ano em que vencem na categoria opem style, do ministério de tutela não receberam sequer a gentileza de uma missiva ou a motivação de um telefona de congratula­ção

Para Tássio, o caminho entre sonho e a realização era uma missão impossível. Sempre teve consciênci­a de que ser bailarino em Angola não é uma escolha que se faz de ânimo leve, mas acreditava também que “não seria impossível”. Em casa, os pais fizeram resistênci­a, o que levou o próprio a recear por si. Apenas conseguiu o apoio do seu avô, num conselho que lhe parecia ideal para o momento e que jamais esqueceu, sendo estas palavras que lhe guiam e dão força até agora. “Para que as pessoas te aceitem, tu tens de aceitar e mudar”. Foi a assumir essa atitude que melhor defendeu o sonho de vir a ser bailarino, aceitando fosse que viesse vir do seu futuro, com o sentido realista a levarlhe a aceitar prematuram­ente até mesmo a pobreza. Embora dançasse sempre, define como início derradeiro a formação do grupo Brain New Cru, em 2013, que dançava poppin. Trymp, byboing, hip hop, os estilos que imperavam no Alda Lara. “Foi, no fundo, a minha grande escola”, reconhece.

Como há males que vêm para bem, no ano a seguir viaja para a África do Sul para ser submetido a uma operação cirúrgica. Nesse período toma contacto com vários bailarinos de renome no mundo anglófono, dentre eles o aclamado bailarino americano Poppin John, que veio a ser a sua grande inspiração. De Poppin recebeu instruções específica­s e vídeos sobre como poderia melhorar e definir melhor os seus passos. Passado um ano de exercício intenso, Tássio volta a dar a cara ao ambiente em Luanda e as reações foram imediatas. Estava claro que se poderia definir a partir dali um antes e depois. Os anos que se seguiram só foram para consolidar um sonho.

Faz parte dos que escolheram a dança depois de assistir ao filme “Step UP”, que inspirou uma grande parte dos bailarinos da nova geração a seguirem a força e a agilidade das danças urbanas Jay diz que “nem tanto”.

É co-fundador do grupo

Waveboot School, onde fazia parte Helena Neto “Heli Grove”, outra concorrent­e nesta edição do Bai Dança com Ritmo. Waveboot School fazia performanc­e em casamento e espectácul­os. Posteriorm­ente rompe com os membros e cria a dupla Jay e Wilson Pake “Will Pax”, que se mantém até agora. Dentre os nomes de destaque na dança urbana em Luanda, Will Pax é a grande referência do Bairro Palanca, John Monster (que faz parelha com Heli Grove) é a grande referência de Viana e Ariclene no Zango. Quanto a referência­s nacionais, aponta os grupos Mortal Kombat, Estilo Urbano e o bailarino Toko, um dos primeiros a se iniciar no popping, um estilo que vem conquistan­do espaço, sendo esta geração a que dá sustentabi­lidade ao género.

“Por exemplo, eu me vejo como o popper mais maleável do circuito. Eu gosto de quebrar padrões”, assume Jay.

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