Contigo aprendo muito
Comecei a ouvir falar de Orlando Sérgio em 1990 quando entrei no Elinga Teatro. Eu estreava a obra: "Luis Lopes" de José Mena Abrantes, e de seus contemporâneos fundadores no Elinga restavam poucos no activo fazendo teatro. Orlando já em Portugal, era referência de sucesso no grupo como actor, pois chegou ao topo representando "Hamlet" no Theatro D. Maria II. Vim a conhecê-lo pessoalmente em Lisboa, em Almada, em 1995, aquando de uma digressão do Elinga com a obra: "O Pássaro e a Morte", de Mena Abrantes. Foi um encanto para nós, jovens actores, ver um angolano na alta esfera do teatro em Portugal. Falou connosco com sua voz colocada de timbre forte, e foi generoso no despertar. Na altura fazíamos tudo para sair de Angola e ir conquistar o mundo, e muitos "ficaram". Mas eu percebi que ainda tinha de voltar para Angola para me preparar melhor. Voltei a vê-lo em em 1998 na Expo Lisboa, e assim começamos uma amizade até aos dias de hoje. Eu fiquei dois anos em Portugal (Coimbra), e voltei para Angola em 2000, já com outra "bagagem". Orlando também voltou nessa altue já em Angola viemos trabalhando desde 2001. Foram várias obras, das quais destaco: "Quem Me Dera ser Onda" de Manuel Rui em 2002; "Woza Albert" dirigido por Miguel Hurst em 2003; " Miguel K Quer Justiça" dirigida por Jean Vilela Newman em 2014, entre outras performances e vivências intensas na baixa de Luanda e por esta Angola, sempre em busca do lugar que as artes performativas contemporâneas angolanas merecem. Trabalhamos também em alguns filmes e televisão: "O Heroi" de Zeze Gamboa em 2002, e em televisão as series: "Minha Terra Minha Mãe" filmada no Brasil em 2008; " Caminhos Cruzados" em 2003, etc...
Sem dúvida uma das características de Orlando, é ser um "agitador" no bom sentido do pensamento com relação às artes, seres humanos e seus conceitos. Foi responsável pelo despertar das artes contemporâneas como pintura, hip hop, grafite, arquitectura, etc, na baixa de Luanda, abrindo as portas a tudo que é expressão do ser. É um kota muito experiente nos saberes das artes urbanas. Com ele aprendi muito! fácil, mas de densos e estimulantes enredos. Companheiro de conversas e confidências, nas inquietações da insónia, em almoços solares ou fins-de-tarde na Mutamba. Luanda e Lisboa, são nossos pontos de encontro, mas até a Maputo (quando trabalhei no Dockenama e organizámos um mostra dos filmes de Rua Duarte de Carvalho, com a sua presença) e a Ourique (onde reabilitei um monte alentejano) me foi visitar. Como não admirar a sua atenção e curiosidade por tudo o que se renova, perspicácia assertiva e conspirações infinitas? Não fora o raio da Covid estaria aí num grande boda contigo, amigo para a vida!
E é isso, não consigo imaginar a vida sem o amigo Orlando Sérgio que, desde há quase vinte anos, acompanha cada viagem, projeto, dúvida, desamor, carreira e, assim o es