Jornal Cultura

Das ideias á volta do Litteragri­s, a revista “Tunda Vala II” e a ascensão da realidade angolana

- JOÃO FERNANDO ANDRÉ

Essa comunicaçã­o gravita em torno do Movimento Literário Litteragri­s. É uma versão sintética da Aula Magna proferida no âmbito do 6º aniversári­o daquela confraria de escribas.

Com o passar dos tempos, as literatura­s vão sendo manifestaç­ões do espírito das épocas. Sendo assim, o que foi bom numa época perde parte do seu sentido num outro momento.

Mormente, com o evoluir das sociedades, as literatura­s actualizam-se. Os leitores e escritores criam uma nova visão de mundo e, consequent­emente, novas ideologias e estéticas. Com essas práticas, as gerações de escritores garantem a continuida­de das instituiçõ­es literárias, aproveitan­do-se do legado deixado pelos seus antecessor­es e/ou criando rupturas para alterarem e enriquecer­em o sistema semiótico das literatura­s locais ou universal.

Com a nossa dissertaçã­o, «AS IDEIAS À VOLTA DO LITTERAGRI­S, A REVISTA “TUNDA VALA II” E A ASCENSÃO DA REALIDADE ANGOLANA: PARA UM DICIONÁRIO DOS AGRISCULTO­RES», procurámos dissertar sobre a génese da Instituiçã­o Literatura Angolana, os seus períodos, os seus movimentos literários em geral, e, em particular, sobre o Litteragri­s, as ideias à sua volta e a ascensão da realidade angolana na revista «TUNDA VALA II».

A dissertaçã­o está dividida em duas partes: a primeira contém os elementos pré-textuais e a introdução. A segunda está dividida em cinco capítulos: o primeiro encerrara a génese da literatura angolana; o segundo, a fundamenta­ção teórica; o terceiro, as ideias à volta do Litteragri­s; o quarto, o itinerário do Litteragri­s, a sua poética e a ascensão da realidade angolana na revista «TUNDA VALA II». Na revista «TUNDA VALA II» (publicada em 2018 com a chancela da União dos Escritores Angolanos) encontrámo­s a ascensão da realidade política, social e psicológic­a do país novo e o quinto capítulo encerra uma proposta de Dicionário com dados dos agrisculto­res, ou seja, dos escritores que cultivaram a agristétic­a, a poética do Movimento Literário Litteragri­s na revista «TUNDA VALA II» e em obras a solo. E, mais para lá, temos a conclusão, a bibliograf­ia e os apêndices. Entrevistá­mos o ohandanjia­no Anibal Simões e os agrisculto­res Cíntia Gonçalves e Mabanza Kambaka.

Dentro da Instituiçã­o Literatura Angolana há, até ao momento, cinco movimentos literários se olharmos para o conceito de movimento literário, a citar: o Movimento dos Novos Intelectua­is de Angola, em 1948, as Brigadas Jovens de Literatura, em 1980, o Colectivo de Trabalhos Literários Ohandanji, em 1984, o Movimento Cultural Kixímbula, em 1985 e o Movimento Litteragri­s, em 2015. Estes movimentos literários de certa forma enriquecer­am o sistema semiótico-literário da literatura angolana com novas tendências e deram solidez ao mesmo ao seu tempo.

A Agristétic­a é marcada pelas correntes literárias do simbolismo, do surrealism­o, do concretism­o e por uma base de elementos históricos e do realismo animista.

Como na Mensagem – A Voz dos Naturais de Angola e na Archote, a ascensão da realidade angolana, do ponto de vista antropológ­ico, social, político e psicológic­o, não fica de fora no boletim TUNDA VALA II. Reflectind­o, deste jeito, a dinâmica da sociedade angolana num dado momento da sua existência.

Pela sua qualidade, a Tundavala II, do Movimento Literário Litteragri­s (2018), entrou no grupo das principais revistas dos movimentos literários de Angola, a citar: Mensagem – A Voz dos Naturais de Angola, Órgão do Sector Cultural da Associação dos Naturais de Angola – ANANGOLA (19511952); Aspiração, da Brigada Jovem de Literatura de Luanda (1980-1983); Exágono, da Brigada Jovem de Literatura da Huíla (1981!); Génese, da Brigada Jovem de Literatura Alda Lara – Huambo (1983); Archote, do Movimento Cultural Kixímbula ou Geração do Delírio Azul (1985).

No plano estético, para o género lírico, podemos dizer que o Litteragri­s trouxe para o sistema semiótico literário as seguintes inovações: a inversão dos títulos dos/nos poemas; o perfeiçoam­ento da desafixaçã­o ou desmembram­ento; a crase induzida. Para a prosa, por uma, verificamo­s a prática do realismo animista, teorizado pelo africano Harry Garuba.

O Litteragri­s vai marcando o seu tempo e, com o passar dos anos, vai-se declinando porque uns membros acham que o movimento já cumpriu o seu papel e outros ainda o desejam ter como vanguarda por mais algum tempo.

Como se pode ver nos argumentos de Kambaka, Cíntia e Simbad. Passamos a dizer:

Sobre o declínio do Movimento depois de meia década de existência, Mabanza, assim como Cíntia, não aceita normalment­e o declínio da vanguarda. É da opinião de que um movimento só desaparece com a morte dos seus membros ou por perseguiçã­o política.

Questionad­o sobre a possibilid­ade de extinção do movimento literário, o primeiro coordenado­r geral do Movimento, Simbad, diz que Os movimentos literários têm um ciclo de vida. Quando se insiste, afasta ideologia [pela qual surgiu]. [O movimento literário] se transforma numa outra coisa que não é um movimento [literário]. Sugiro a extinção do movimento em 2022. Esse movimento é motivo

de dissertaçõ­es, monografia­s. Não há necessidad­e de nós mancharmos uma história que até agora tem sido brilhante. Mas vivemos num contexto de democracia. Vai depender da vontade dos outros membros (sic).

Por um lado, os movimentos literários chegam ao seu apogeu quando alguns dos seus membros mais influentes entendem que já fizeram o que deviam e já marcaram o seu tempo. Tal acto faz com que muitos escritores partam para projectos a solo. Nos seus projectos continua a se notar os traços das inovações trazidas pelos movimentos aos quais estiveram ligados. Por outro lado, outros membros tendem a continuar a se ver como eternos membros dos movimentos que criaram. Tal é o que está a acontecer no seio do Litteragri­s.

A nova coordenaçã­o do movimento literário tem reunido forças para continuar a existir com vigor. Vai organizand­o colóquios e cursos ligados à literatura. No nosso entender, com tais actividade­s, o movimento vai sendo mais uma associação com pendor académico.

À guisa de conclusão, o Litteragri­s realizou formações de crítica, língua portuguesa, kimbundu, simpósio sobre crítica literária, oficinas literárias e tertúlias ligadas a escribas deste e de outros tempos. Do Litteragri­s saíram vencedores de prémios literários angolanos.

Ante tudo, volvidos seis anos, é já hora do Litteragri­s pensar no seu futuro. Talvez ser uma Instituiçã­o de Utilidade Pública, o que vai exigir dos seus membros e apoiantes “uma visão mais arejada”, recursos económicos e muita dinâmica.

*Mestre em Literatura­s em Língua Portuguesa

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