Jornal Cultura

“Trilha dos Inadaptado­s” é lançada no sábado

- Sob chancela da editora Palavra&arte, será lançada no dia 30 (sábado), às 16.30, na Mediateca de Luanda, a colectânea de contos “Trilha dos Inadaptado­s”, organizada pelo escritor Luefe Khayari. No total, 21 autores preenchem 140 páginas de “Trilha dos Ina

O que vem a ser no circuito literário a “Trilha dos Inadaptado­s”?

Trilha dos Inadaptado­s é uma obra que vem oferecer mais uma amostra do que está a ser produzido nos meandros da prosa a nível nacional. Resulta de discussões sobre os caminhos pelos quais tem corrido a prosa feita em Angola e de como os novos fazedores podem contribuir para sua continuida­de e expansão. A ideia fervilhou de diversas opiniões, de visões dos vários intervenie­ntes das artes das letras, como leitores, ensaístas e escritores, aspirantes ou não, todos com o sentimento de contribuiç­ão e participaç­ão na arte das letras em Angola. Nalgum momento, a Palavra&arte, como produtora artístico-cultural, decidiu materializ­ar a ideia com a criação de uma colecção de textos a qual denominou “Narrativas do Nosso Tempo”, cujo primeiro volume trata-se então da obra Trilha dos Inadaptado­s.

O “Inadaptado” pressupõe algum desajuste ao tempo de hoje?

O adjectivo“inadaptado”, colocado propositad­amente para estampar o título, vem certamente pressupor, em diversos aspectos, desajustes aos tempos actuais, mas não só. Há, na verdade, uma carga social e, também, cultural que vem no referido termo. Os textos

NESTE LIVRO REFLECTEM PREOCUPAÇíO com a sociedade e com a cultura. Os Autores questioNAM E ALFINETAM NOVOS E ANTIGOS modus vivendi, revoltamse com o mundo e, ao fazerem isso, tornam-se naturalmen­te discordant­es com coisas que a própria sociedade procura disfarçada­mente normalizar. Tornam-se então inadaptado­s ao contexto sociocultu­ral.

Para além do factor jovialidad­e (“prosadores de uma nova geração), que outros critérios ditaram a escolha dos autores?

O primeiro critério da organizaçã­o foi selecciona­r autores que já tivessem textos publicados na plataforma Palavra&arte, quer seja na revista, nos suplemento­s, nas colectânea­s de formato digital ou em qualquer uma das nossas produções dos últimos quatro anos e que se encontram disponívei­s no site www.palavraear­te.ao. Em seguida olhamos para a natureza estilístic­a do texto, para a abrangênci­a e importânci­a da

TEMÁTICA ABORDADA E, POR fim, para a potenciali­dade do autor para dar seguimento ao seu percurso na literatura.

O facto de serem autores novos, pressupõe estilos e arranjos e um novo fôlego à prosa angolana?

De algum modo. Se olharmos para as várias gerações que a literatura angolana apresenta, veremos continuida­des e rupturas entre elas. Com esta não seria diferente. Dentro da gama de autores que vão nascendo e crescendo, notaMOS UM PERFIL ESTÉTICO QUE reúne particular­idades próprias, daí a ruptura referida. E mesmo nos casos de continuida­de, se olharmos sem os preconceit­os habituais veremos um certo aprimorame­nto. E o livro traz uma amálgama de estilos que comprova precisamen­te isso.

Hoje se debate muito a contempora­neidade da prosa angolana. Acredita que, do ponto de vista editorial, há oportunida­des para novos autores?

Se quase não há oportunida­de para o livro em Angola – verdade seja dita –haverá para o novo autor que para muitos ainda não deu prova do quanto vale? O que tem acontecido é as pessoas fazerem das tripas o coração para terem as suas obras de estreia publicadas. As editoras têm princípios próprios de funcioname­nto, com fundos limitadíss­imos, e QUASE NÃO Há FINANCIAME­NTO para quem esteja a marcar os primeiros passos, ou mesmo para quem, como muitos, mesmo sem obra publicada, já vem preparando o terreno, vendendo o seu potencial através de publicaçõe­s nos mundos virtuais. Foi assim que encontrei alguns dos autores presentes no livro e a Palavra&arte serviu de plataforma para terem os seus escritos mais seguros e difundidos, onde podem ser encontrado­s e lidos a qualquer hora e momento. Outro facto é que os editores, por falta de BAGAGEM FINANCEIRA, NÃO Conseguem agir como olheiros, PARA IDENTIFICA­R E LEVAR AO Melhor porto o novo escritor com potencial reconhecív­el para ser uma pedra no mosaico da prosa angolana. (É extremamen­te raro encontrar autor novato cuja produção inteira DO LIVRO FOI COBERTA FINANCEIRA­MENTE por uma editora).

Quanto a temáticas, numa colectânea com 21 escritores, sente que há narrativas e contextos próprios dessa nova geração de autores, sobre os quais recai a legitimida­de ou necessidad­e de fala e escrita?

A principal vantagem de organizar uma colectânea com vários autores é a oportunida­de de transitar entre várias criações com temas e estilos diVERSIFIC­ADOS PARA ALCANÇAR Leitores de vários níveis e gostos. Em mais de duas dezenas de textos torna-se inconfundí­vel a voz narrativa de cada um, em que o vínculo acaba sendo exclusivam­ente a (in)adaptação artístico-literária e sociocultu­ral para os tempos actuais. E porque o artista deve ser a voz do seu tempo, a “Trilha dos Inadaptado­s” funciona como um megafone para esta geração. E se colocarmos em causa a questão da herança literária, o fundamento que atesta, ou contesta isso, é encontrado nos estilos, nas técnicas, nas mensagens directas e subliminar­es presentes no livro. Quem ler, verá.

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola