Recados de Jolas Katana...
Na viagem de pouco mais de 7 horas de Luanda ao Huambo, decidi trazer comigo a obra de Adalberto Talaia Luacuti (ATL), com o sugestivo título, Pedidos só no Cemitério...
Acompanho, já há alguns anos, as suculentas crónicas do autor e tenho com ele uma relação de profunda irmandade. Daí que talvez seja suspeito, a tecer considerações a respeito de ATL.
Os textos de ATL são de uma riqueza enorme. Têm o condão de captar como ninguém a idiossincrasia das nossas gentes.
A obra em foco, neste curto diário de bordo, é um verdadeiro tratado sociológico, sobre o modo de ser e estar, dos habitantes do casco urbano e periurbano, da nossa cidade capital e quiçá, do nosso País.
Há uma crítica velada ao deficiente funcionamento das nossas instituições públicas e ao doloroso processo de consolidação da nossa nascente Democracia.
Há uma crítica directa ao modelo de sociedade que herdámos do famigerado regime colonial e temos tido enorme dificuldade em superar, em que a marca das assimetrias sociais, teima em fazer parte do catálogo de problemas, que nos apoquentam ....
Há uma crítica frontal à nossa crise de valores e à cultura do oportunismo, egoísmo e hedonismo, em que mergulharam muitos dos nossos concidadãos.
ATL faz do humor e do sarcasmo, as suas principais ferramentas de comunicação. Porém, por detrás da capa do escriba simpático e bonacheirão, esconde-se um autor circunspecto e quiçá, filosófico.
"Não vamos dizer ao governo que temos um grande problema vamos dizer aos problemas que temos um grande governo .... "
Esta é apenas uma das muitas tiradas filosóficas que brotam da fecunda cartola de Jolas Katana, ou JK, como carinhosamente é tratado o protagonista da obra em referência.
Tiradas destas estão presentes em quase todas as páginas do livro, mas é no último capítulo em que o autor atinge, com muito mérito, os píncaros da sátira política e social.
Dois exemplos justificam o que categoricamente afirmo:
O diálogo, avisado e resignado, travado por dois ilustres intelectuais, na ressaca do funeral de JK, é o reflexo do que afirmo.
Outro grande momento, aparece nas páginas derradeiras do livro, que dão corpo ao interessante e elevado debate, sobre a força, o poder e a razão que JK, já transfigurado e noutra dimensão da vida celestial, trava com o Secretáriado Geral dos Assuntos do Céu...
É seguramente um livro que merece ser lido...