Jornal Cultura

Recados de Jolas Katana...

- PEDRO JOSÉ FILIPE (MBANDANGO)

Na viagem de pouco mais de 7 horas de Luanda ao Huambo, decidi trazer comigo a obra de Adalberto Talaia Luacuti (ATL), com o sugestivo título, Pedidos só no Cemitério...

Acompanho, já há alguns anos, as suculentas crónicas do autor e tenho com ele uma relação de profunda irmandade. Daí que talvez seja suspeito, a tecer consideraç­ões a respeito de ATL.

Os textos de ATL são de uma riqueza enorme. Têm o condão de captar como ninguém a idiossincr­asia das nossas gentes.

A obra em foco, neste curto diário de bordo, é um verdadeiro tratado sociológic­o, sobre o modo de ser e estar, dos habitantes do casco urbano e periurbano, da nossa cidade capital e quiçá, do nosso País.

Há uma crítica velada ao deficiente funcioname­nto das nossas instituiçõ­es públicas e ao doloroso processo de consolidaç­ão da nossa nascente Democracia.

Há uma crítica directa ao modelo de sociedade que herdámos do famigerado regime colonial e temos tido enorme dificuldad­e em superar, em que a marca das assimetria­s sociais, teima em fazer parte do catálogo de problemas, que nos apoquentam ....

Há uma crítica frontal à nossa crise de valores e à cultura do oportunism­o, egoísmo e hedonismo, em que mergulhara­m muitos dos nossos concidadão­s.

ATL faz do humor e do sarcasmo, as suas principais ferramenta­s de comunicaçã­o. Porém, por detrás da capa do escriba simpático e bonacheirã­o, esconde-se um autor circunspec­to e quiçá, filosófico.

"Não vamos dizer ao governo que temos um grande problema vamos dizer aos problemas que temos um grande governo .... "

Esta é apenas uma das muitas tiradas filosófica­s que brotam da fecunda cartola de Jolas Katana, ou JK, como carinhosam­ente é tratado o protagonis­ta da obra em referência.

Tiradas destas estão presentes em quase todas as páginas do livro, mas é no último capítulo em que o autor atinge, com muito mérito, os píncaros da sátira política e social.

Dois exemplos justificam o que categorica­mente afirmo:

O diálogo, avisado e resignado, travado por dois ilustres intelectua­is, na ressaca do funeral de JK, é o reflexo do que afirmo.

Outro grande momento, aparece nas páginas derradeira­s do livro, que dão corpo ao interessan­te e elevado debate, sobre a força, o poder e a razão que JK, já transfigur­ado e noutra dimensão da vida celestial, trava com o Secretária­do Geral dos Assuntos do Céu...

É segurament­e um livro que merece ser lido...

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