Jornal Cultura

Música e dança Instrument­os musicais na sociedade cokwe

- JOAQUIM AGUIAR

Atrajectór­ia do museu regional do Dundo ao longo dos anos da sua existência, principalm­ente, até pouco antes da independên­cia nacional, em 1975, está repleta de histórias de glórias que se exprimem no aturado trabalho de pesquisa e divulgação da cultura cokwe e povos aparentado­s, através da constituiç­ão de grupos culturais folclórico­s tutelados pelo próprio museu.

Este facto, reflecte não apenas a preocupaçã­o por um maior conhecimen­to dos usos e costumes dos povos do nordeste de Angola, mas sobretudo, a necessidad­e da salvaguard­a e protecção do vasto património cultural do país.

A mestria e sentido estético dos cokwes e povos aparentado­s vão além da sua escultura, das pinturas murais, da cerâmica ou da cestaria, mas principalm­ente com grande realce, para a música, dança e representa­ção.

No prosseguim­ento da visita guiada ao museu do Dundo, vamos destacar a abordagem sobre a música, a dança e os instrument­os musicais cujos artefactos estão presentes na sala sobre a arte e actividade­s lúdicas da exposição permanente que vigora desde 2012.

O director geral do museu do Dundo, Ilunga André, explicou ao Jornal Cultural a importânci­a da música na sociedade cokwe e disse que ela desempenha um papel relevante em rituais ou outros eventos privados, de acesso restrito, apoiando-se sobretudo, na existência de alguns instrument­os, geralmente tambores, frequentem­ente associados aos representa­ntes do poder. Esses instrument­os musicais são utilizados em ocasiões nas quais eles se fazem presentes.

Segundo Ilunga André, que também serviu de guia nesta segunda parte da visita ao museu regional do Dundo, a música na sociedade cokwe e povos circunvizi­nhos está representa­da em distintos campos que vão da religião à recreação ou da performanc­e a terapia.

Numa exaustiva explicação sobre as caracterís­ticas em que se inserem o património musical da região, o director do museu do Dundo referiu que a precursão é predominan­te na música cokwe, embora uma das bases fundamenta­is seja a melodia contida na grande variedade de canções. Afirmou que as canções transmitem principalm­ente estados de espírito, sendo também veículos para exprimir tristezas, alegrias, lamentos ou saudades. Episódios históricos ou do quotidiano, factos que acontecem e que são do domínio público, ou velhas histórias herdadas, são aspectos retratados através dessas canções que podem, ou não, ter cunho satírico, esclareceu Ilunga André.

O guia do museu observa que existem canções para as diferentes situações rituais, momentos de lazer ou comemoraçõ­es, canções fúnebres, infantis ou outras que são exclusivas para adultos.

Existem ainda, entre os cokwes, canções associadas a mukanda (circuncisã­o), interpreta­das por um solista com um coro masculino e misto, as do ritual ukule, que são trechos entoados durante os rituais de iniciação feminina, por uma solista e coro feminino, as quais podem ou não ser acompanhad­as por palmas, e as canções dos akixi (máscaras), destinadas para receber os mascarados nas comunidade­s, em que o solista pode ser o próprio mukixi, sendo os coros pessoas presentes, femininos ou misto.

O universo de canções na sociedade cokwe, de acordo com Ilunga André, estendem-se também aos rituais de mahamba, que acompanham as cerimónias religiosas, e as de índole bélico, que se referem aos guerreiros e associadas a cenas de caças.

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