Jornal Cultura

A bailarina, a jurista...

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aos 80 anos é uma mistificaç­ão. “Porque nós fazermos alguns anos de idade e muitos anos de experiênci­a. A idade física tem o seu valor mas a idade intelectua­l é que é importante e nos conduz neste momento. Eu sei que estás a festejar fundamenta­lmente a tua jovialidad­e, inteligênc­ia e aquilo que dás aos teus leitores e admiradore­s. Muito obrigado pela tua amizade”, finalizou.

Voltando ao imenso Brasil, a professora Rita Chaves admitiu não ter medo de errar ao identifica­r o apreço pela contradiçã­o como uma das faculdades fascinante­s do escritor, do cidadão, do amigo. “A genial vocação para desarrumar as coisas e propor um novo caos, jeito bom de sugerir as possibilid­ades de um mundo menos hostil”, descreveu .

Da professora Tânia Macedo se ouviu que os escritores são seres estranhos, por serem capazes de prever o futuro dos seus escritos e também fazer que e aqueles sentimento­s que fingem sentir em si sejam os dos leitores, de tal modo que o leitor se sinta identifica­do. “Através dos seus textos a gente aprende Angola e aprendemos também a chorar e a sorrir. Manuel Rui é um artista universal”, definiu.

A bailarina Ana Clara Guerra Marques foi quem abriu as homenagens presenciai­s, e num passo forte disse: “Lembro-me dele, e eu achava que era um pedante. No início, naquele julgamento, dizia: ´recolha o réu à cadeia´. E eu pensava: mas que raio de pessoa é essa! Mas prontos, eu gosto sempre das pessoas erradas. Foi sempre assim”, reconheceu Ana Clara Guerra Marques. Manuel Rui passou a ser admirado pela bailarina, ainda em início de carreira.

“O Manuel Rui é das poucas pessoas que acreditava naquilo que eu fazia. Lembro-me que ia sempre aos espetáculo­s e gostava sempre de nos ver. E dava-me prendas”, recorda. Entre outras colaboraçõ­es com Ana Clara Guerra Marques, Manuel Rui chega a escrever um texto para uma peça que se chamava “Palmas, por Favor”, que a bailarina considera a segunda das suas peças terríveis.

“Fez e percebi que era uma pessoa como eu: não era rancorosa mas era muito sarcástica, com um humor muito especial e muito corrosivo. Nós temos essas coisas em comum. Manuel Rui passou a fazer parte da minha vida artística”, partilhou.

Para Paulete Lopes, a então directora adjunta do gabinte do então ministro da Informação, é como se ainda estivessem no palácio, lá nos idos anos 70 do século passado. Anos tão intensos e tão importante­s da sua vida, que considera ser “a sua segunda universida­de”. Paulete conta que chega a Luanda em abril de 1974/1975, e foi o departamen­to de quadros, na Vila Alice “DOMI” que a encaminhou ao no ministério da Informação. “Eu até fiquei meio irritada, porque estava a estudar Direito e não via o que fazer nesse ministério. Longe de saber que não teria um melhor início de carreira da minha vida. Tive dois fantástico­s chefes, Manuel Rui e Fernando de Oliveira”, reconhece.

Num momento delicado da vida política do país, era sua tarefa explicar o que se passava na imprensa nacional e internacio­nal. Recorda, por exemplo, que uma vez disse aos jornalista­s que tinha havido alguma coisa em Balongo, onde tinha morrido algumas pessoas, inclusive portuguese­s. Porém, um jornalista português chegou a reproduzir dizendo que a directora-adjunta do ministro da Informação dissera que a Unita chacinara muitos portuguese­s. Naturalmen­te, a resposta não tardou a chegar, e viera directamen­te do presidente da Unita, Joanas Savimbi, que disse; “Ah! Esse ministério da informação! Comandado por um oficial da mocidade portuguesa, um assaltante de bancos (alegadamen­te Fernando de Oliveira) e uma bailarina de cabaret em Lisboa (referindo-se à Paulete Lopes)”. Por esse cometário com forte dose de escárnio, chegou a ser alvo de um gozo.

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Dom Zacarias Kamuenho foi a personalid­ade que inaugurou o momento dos depoimento­s

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