Jornal Cultura

“Vivi dois anos em casa de Manuel Rui”

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““Em casa dele havia realmente um exercício democrátic­o, e estive dois anos e meio a morar lá e nunca me obrigou a pôr o cachecol do MPLA”, testemunha a viúva de Jaka Jamba

Recorda igualmente que um dia Manuel Rui chega ao ministério dizendo que era preciso fazer um concurso público para criação de um hino e uma bandeira. Lá se lançou o concurso e vieram nas casSETES DE FITAS E BANDEIRAS, Algumas delas até feitas a mão. Paulete chega estar directamen­te ligada na gestão do concurso público para a criação do hino e bandeira nacionais.

Tete Ramos disse ter muitas histórias com Manuel mas optaria pela menos dramática. Conta que em meados de outubro de 1975 tinha ido em serviço à Lisboa, com a preocupaçã­o de voltar antes do dia de proclamaçã­o da independên­cia. Chegou na madrugada do dia 8. Porém, entre os dias 5 ou 6, estando eu ainda em Lisboa, Arménio Ferreira leva Tete Ramos a um jantar promovido pela “malta da esquerda revolucion­ário”, PONTIFICAN­DO ENTRE OS PRESENTES Manuel Alegre, Fausto e Adriano Correia de Oliveira, e este último dá a Tete Ramos uma encomenda para Manuel

Miraldina Jamba, a então líder da Lima, o braço feminino da Unita, disse achar deslumbran­te o destino deste menino do humilde bairro da Calomanda, no Huambo, que desde muito cedo bebeu da sabedoria da sua mãe, a exímia professora Angélica, a inspiração para a poesia, pois tinham nela uma poetisa por excelência. Conta Miraldina Jamba que a tia Angelica (mãe de Manuel Rui), nos idos anos 90, dedicava-se a dar explicação gratuitame­nte, a pessoas que hoje são grandes senhores. Dessa educação esmerada resultou o escritor, humanista, o sábio de um percurso brilhante.

“Em 1975, no governo de transição, Manuel Rui trabalhou com dois secretário­s de estado, Jaka Jamba, pela Unita, e Hendrick Vaal Neto pela FNLA. Apesar do momento conturbado que se vivia naquela altura, Manuel Rui tentava manter o equilíbrio entre as partes, a ponto de promover em junho a Semana da

Unidade Nacional, com várias actividade­s em prol da paz. Recordo-me que naquela altura eu era a presidente da LIMA, e pela primeira vez as senhoras da OMA, braço feminino do MPLA, e AMA, braço feminino da FNLA, sentaramse à mesma mesa num debaTE, NA EMISSORA OFICIAL, HOJE Rádio Nacional de Angola, para falar da situação do país e fazer apelos à paz e à concórdia”, pontua.

Ainda a revelar de Manuel Rui, condessada­s entre o escritor e o político, recorda que nas primeiras eleições, em 1992, muitos quadros da UNITA estiveram sob custódia, e que Manuel Rui foi a pessoa que teve a coragem de lhes tirar dessa condição.

“Em casa dele havia realmente um exercício democrátic­o, e estive dois anos e meio a morar lá e nunca me obrigou a pôr o cachecol do MPLA”, testemunha a viúva de Jaka Jamba.

Jaka Jamba chegou a traduzir, no ano 2000, para a língua umbundu a obra “Quem me Dera ser Onda”, e Miraldina traduz em 2002 a obra “Ombela”.

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Paulete Lopes foi directora adjunta do gabinete do então ministro da Informação, missão assumida por Manuel Rui
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Tete Ramos disse ter muitas histórias vividas com o escritor, sendo que muitas delas poderão vir a ser publicadas em livro

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