Não Chorem mais, porque Tchipa deve ser celebrado
“Não chores mais, mamãzinha, que amanha mesmo voltarei” o refrão do coro que mexeu com os militares e marca todos aqueles que viveram o período da guerra civil deve servir para celebrar a vida e obra de Jacinto Tchipa. O artista e cidadão comprometido teve grande projecção e popularidade nacional nos anos, morreu na passada quartafeira. Dono de sucessos com: “Kunbi Lianda”, “Tchivale Tchival”, “Sissi Ola”, “Maié Maié” , “África”, “Cartinha de Saudada e foi um verdadeiro combatente.
Neste momento recorremos a um amigo, com uma relação profissional de longo tempo, Nguxi dos Santos, um companheiro de bancada parlamentar e Lauriano Tchoia, um conterrâneo e colega de armas, com passagem também no movimento da canção das fileiras das FAPLA.
Natural da Caala em 1958 temas obras discográficas: “A Cartinha do Soldado”, “Sissi Ola” e “Reconstrução Nacional”, “Os Meus Sucessos” e iniciou o percurso um ano depois da independência com “África”, primeiro single gravado pela Valentim de Carvalho em 1976. Na fase inicial tem passagens pelos agrupamentos África Ritmos, Orquestra Inter Palanca, Marimbas, dentre outras colaborações.
Militar das Fapla desde 2 de Março de 1974 é na segunda metade da década 80 do século passado que é sucesso nacional e tem como grande parceiro, Eduardo Piam na produção musical não foi por acaso que em 1986 e 1987 conquista o Top dos Mais Queridos. Dentre os vários sucessos “Cartinha de Saudade” é um marco para os militares nas frentes de combate, curiosamente mexeu com os entrincheirados das duas partes.
Após as primeiras eleições multipartidárias no país, em 1992, Jacinto Tchipa ganha um outro palco e é eleito deputado à Assembleia Nacional, onde serviu durante 16 anos pela bancada parlamentar do MPLA. Dentre vários feitos conta na toponímia informal de Luanda com um bairro baptizado com o seu nome. Do seu empreendedorismo depois do pioneirismo na estação de serviço (dizem que no bairro Jacinto Tchipa surgiu uma das primeiras) estava a aposta na agricultura e pesca.
O também oficial superior na reserva lutava para determinar o seu próximo projecto discográfico, infelizmente as actuações eram raras por questões de saúde e a falta de sensibilidade dos promotores culturais. Uma das suas ultimas aparições aconteceu em Novembro do ano passado no Live no Kubibo e ficou marcada pelo desabafo em relação ao reconhecimento oficial, mas felizmente enquanto vivo teve pelos seus fãs e soldados que ouvindo a sua música mobilizaram-se para dar o melhor ao país.
Nguxi dos Santos conheceu Tchipa nos anos 80 quando este acompanhava os integrantes do África Ritmo na zona no Bairro Operário onde vivia com Kinito Tambores de Fogo. Recorda o tempo do programa "Revista Musical" na TPA uma edição do dia 27 de Fevereiro de 1988. Diz que teve uma relação familiar e está na forja um documentário. Reconhece que há um antes e depois da música cantada em Umbundu depois do surgimento de Jacinto Tchipa superando os que o antecederam.
O colega de bancada parlamentar e poeta Lopito Feijó Jacinto afirma o seguinte " Tchipa foi sem sombras para dúvidas, um bom homem e quando cá esteve combateu vários bons combates sempre prol das liberdades dos homens africanos e dos angolanos em particular. Sem medo de errar considero mais um vitorioso combatente que por nos passou e deixa obra para uma eterna posterioridade.
acrescente "devo também dizer que ele era um artista emprestado a política e ele tinham consciência disso pois, sempre um deputado politicamente muito comedido mas também muito atento aos acontecimentos da vida política nacional e internacional. Um autor e compositor que dominava minimamente para não dizer bem profundamente o seu metrié, era um verdadeiro artista. Jacinto Tchipa para mim foi um homem cuja as propostas artísticas eram sempre inspiradas na realidade social, política, cultural e se quisermos até económica dos povos africanos, angolanos e do Sul em especial pois era da alma deles que buscava os motivos de inspiração a sua arte musical.