Escritor apaga velas de 80 anos com estudiosos da literatura
Só é livre quem aprende ensinando. Hoje vocês me deram uma grande lição de amor”, disse o escritor Manuel Rui, num grande esforço para não deixar as lágrimas correrem o seu rosto, diante de uma assistência diversa mas unidas no mesmo propósito: celebrar os 80 anos do escritor.
Nascido a 4 de Novembro, o escritor Manuel Rui apagou as velas do seu bolo de aniversário de 80 anos no seio daqueles que o admiram e estudam minuciosamente a sua obra. Promovida pela Mayamba Editora, foi precisamente no recinto da Faculdade de Humanidades (FH) da Universidade Agostinho Neto onde acadêmicos, estudantes e distintos convidados se fizeram presentes para comemorar o segundo dia da jornada de actividades em sua homenagem.
Dentre os presentes no anfiteatro da referida faculdade, o ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Filipe Zau realçou manter uma especial consideração por Manuel Rui Monteiro, muito além da simples entre um escritor e um leitor. Segundo afirmou o ministro, ambos privam uma amizade pessoal muito grande, que permitiu trabalhos musicais feitos em conjunto a com a poesia do escritor.
“E eu era um frequentador de final de semana, desde os tempos do recolher obrigatório, em casa de Manuel Rui, quer aqui em Luanda, quer no Mussulo. Discutíamos várias coisas e havia tertúlia com poesia e música. De maneira que eu não poderia deixar de vir dar um abraço ao Manuel Rui pelo seu talento, trabalho, e pelo facto de ser o poeta do nosso hino, e também por tudo aquilo que ele me ajudou a aprender, através da sua própria escrita”, disse o ministro.
Por outro lado, Filipe Zau manifestou sentir-se feliz pela cerimónia de aniversário ocorrer num ambiente acadêmico, sinal de que as gerações actuais e futuras possam beber muito mais de Manuel Rui através dos seus livros.
Desta vasta produção de Manuel Rui, o ministro adverte que não se pode ver as obras fora de um determinado contexto, apontando que devem ser lidas tendo em conta o contexto do momento em que se vivia na altura da sua publicação.
“É bom que se veja, através da literatura, as vivências de determinados períodos históricos, no decurso da vida de um escritor. Manuel Rui é um bom exemplo, viveu diversas fases do país e continua produtivo. Isso é importante porque a intelectualidade é isso, tanto na música, literatura, artes plásticas, artesanato. Porque os artistas falam não apenas para consigo próprio mas sim para uma sociedade”, apontou o ministro.
Luís Gavião, então adido cultural de Portugal em Angola, doutor pelo Centro de Estudos Sociais de Coimbra, foi um dos prelectores. Amigo e admirador do escritor angolano, fez a sua tese de doutoramento na obra de Manuel Rui, resultando em duas obras lançadas neste dia na Faculdade de Letras, sob chancela da Mayamba Editora. Trataram-se dos ensaios “Manuel Rui - Obra, Escritor e Pensamento” e “O Sul Descolonial na Obra de Manuel Rui”.
Na qualidade de anfitrião, o vice-decano da FH, Petelo Nguinamau, fez uma análise actual dos livros “Quem me Dera ser Onda” e “A Trança”, este último apresentado no anfiteatro da referida faculdade, em junho de 2014. Para o literato, a dimensão social na obra Quem me Dera ser Onda tem uma visão histórica e política, carregada de traços da ideologia r evolucionária de um Estado, frisando igualmente que o livro traz os constrangimentos e as frustrações, desde a alimentação às denuncias das classes sociais.
“O escritor dá protagonismo a um leitão que vai ter um destino extraordinário de ir viver num prédio nos primeiros momentos pós-independência. O livro levanta uma oposição constante, entre as crianças e os adultos. As crianças têm o idealismo, o sentido de elevação, enquanto que os adultos são egoístas, materialistas, limitados e muito mais prosaicos”, destrinçou.
Ainda ao debruçar-se sobre a obra mais traduzida e lida de Manuel Rui, Petelo Nguinamau avançou que o livro mostra que a sociedade humana deve aprender muito com as crianças.
Quanto ao livro “A Trança”, o literato chegou à conclusão ser um romance de outro tipo, que traz a narração de uma figura multicultural, que vai em busca da sua justificação existencial.
“Esse livro é um verdadeiro hino à cultura africana, mais exactamente aos ovimbundos, tanto em toponímia como em gastronomia”, disse.
Com uma agenda que se entendeu o dia todo, os alunos da FH ouviram igualmente as preleções dos professores Kaio Karmona, Aníbal de Carvalho, Gilson José, Domingas Monte, todos debruçando-se sobre a obra e vida do escritor Manuel Rui Monteiro. Por exemplo, a professora Domingas Monte fez uma recessão da obra Kalunga, para atiçar a vontade dos alunos a entenderem melhor a diversidade de temas com que Manuel Rui se socorre para dar vida às suas obras.
As comemorações tiveram início um dia antes, na manhã de 3 de Novembro, com o lançamento das obras infanto-juvenis “A Bola de Trapo” e a “Alegria e a Girafa”, que teve lugar na escola 1002, na Samba, sob responsabilidade da Direcção Provincial de Luanda da Educação.