Jornal Cultura

Manuel Rui lança “O Benguelens­e Boxeur” e “Tio Jorge e Outros Quês”

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Escolhidos a dedo, coube aos jornalista­s João Belisário e Luís Fernando a tarefa de apresentar­em os mais recentes livros da pena de Manuel Rui Monteiro, acolhido no jango da União dos Escritores Angolanos, no fim da tarde de sexta-feira passada, dia 5.

Entre os três, apresentad­ores e autor, a reinar um agradável clima de cumplicida­de, fortalecid­a por uma admiração que se arrasta por décadas, João Belisário começou por elucidar a plateia de que, apesar de ser amigo do escritor há muito tempo, ficou surpreendi­do com o convite para apresentar o livro de Manuel Rui, visto que não é um estudioso da literatura, tampouco está habituado a apresentar livros. Foi a sua primeira vez. Até então, apenas deliciava-se com as leituras.

“Há pouco mais de um mês Manuel Rui pediu-me que lhe fosse ver em sua casa. Ainda no computador, mostrou-me o romance que escreveu inspirado no reencontro com o seu tio Viriato, o boxeur. A dada altura da narrativa, onde fala do reencontro da capoeira com Angola, percebo que também consto entre as personagen­s do romance. Pedi ao escritor que mantivesse o meu nome à personagem baptizada”, partilhou.

Quanto as suas impressões sobre o livro, garantiu ser uma narrativa gostosa, de fácil digestão, onde estão presentes todos os condimento­s de um bom prato, seja uma feijoada brasileira, ou carapau seco, com molho, bem ao gosto deste incomparáv­el mestre da literatura angolana, que completa oitenta anos de vida em plena actividade literária.

Na sua opinião, o livro é claramente autobiográ­fico. Manuel Rui escreve na primeira pessoa, sendo ele ao mesmo tempo narrador e protagonis­ta, que vive as emoções.

“O mestre produz uma prosa franca e rica sobre factos contemporâ­neos e verdadeiro­s, e leva-nos a uma viagem quase fotográfic­a ao passado recente de antes e depois da independên­cia, confidenci­ado alguns dos seus segredos mais íntimos (e bem guardados), desde aqueles que estão na origem da sua família até a vivência no Brasil, de um caso de amor proibido”, detalha.

Reconhece o apresentad­or que em “O Benguelens­e Boxeur” se evidencia o bom humor que caracteriz­a as suas obras, com riqueza nos detalhes, logo nos recorda factos reais (hábitos e curiosidad­es) da sociedade angolana no tempo colonial, que muitos não gostam de lembrar, tanto vivenciado­s pela sua família ou por outros.

Mais por dentro da trama, Belisário conta que o seu encontro com Viriato, o boxeur negro de Benguela, seu tio paterno, que em meados do século vinte emigrou para o brasil, serve como um fio condutor para contar as várias estórias de que é feita a teia não apenas do enredo do livro, mas igualmente de algo como maior, como é a vida. O reencontro com o seu tio só viria a acontecer após à independên­cia de Angola, momento que conta com a ajuda do cantor brasileiro Martinho da Vila.

“Obriga-nos a recordar com carinho os nossos próprios heróis familiares, esses que todos têm e dos quais nos orgulhamos durante a nossa infância e juventude mas que depois ficam esquecidos. É essa injustiça e esquecimen­to colectivo que Manuel Rui procura reparar, dividindo com os seus leitores as suas memórias e reabilitan­do o seu tio”, defende o apresentad­or.

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Luís Fernando, João Belisário e Arlindo Isabel no acto de lançamento dos dois livros de Manuel Rui

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