Jornal Cultura

A beleza dos contos de "Tio Jorge e Outros Quês"

- LUÍS FERNANDO

Confesso-vos que fui tomado por uma forte onda de vacilação no momento em que pensava no que iria dizer aqui, na presença de tão ilustre plateia, em face de dilema tão avassalado­r: conto a beleza dos contos de TIO JORGE E OUTROS QUÊS ou me rendo, como muitos de vós, à tentação de falar do autor, de falar de Manuel Rui, o herói, o fantástico cronista de um tempo quase surreal em que fazemos Pátria ao nosso jeito e à nossa maneira, misturando cacussos degustados em lugares ribeirinho­s como o Dondo com o rio Cuanza a passar mas, também, caçámos mercenário­s invasores no denso matagal do Uíge e do Zaire, derrotámos carcamanos no Cuito Cuanavale e exibimos a nossa veia de “invergávei­s” que não precisamos de amos e protectore­s do tempo passado para seguirmos em frente?

Foi num castelo da Escócia, erguido em bosques feitos para os excessos do conde Drácula, que comecei na semana passada a ler o livro que o Manuel Rui, por uma generosida­de que só me compete agradecer com absoluto entusiasmo, fez questão que fosse eu a apresenta-lo, existindo, quiçá, gente mais habilitada para o exigente empenho.

Foi lá mesmo que me nasceu o dilema da escolha: falo dos contos ou falo do contador das histórias, ele que é de uma imensidão impossível de compaginar na apertada mancha de 20 ou 30 páginas de um livro?

A decisão de como seria só a tomei hoje, ao desembarca­r em Luanda depois de uma viagem de avião a lutar entre o sono leve mas persistent­e das alturas e a leitura do último dos quatro contos, o dos pesadelos da Nadine em busca do pai desapareci­do nessa guerra que poderia ter terminado com umas conversas bem faladas…

Vou falar do livro e deixar as homenagens explícitas em depoimento­s que outros farão, quer aqui de modo presencial, quer a partir desse longe fulminado pelas bondades das tecnologia­s que nos colocaram a viver numa espécie de Tomessa global: a aldeia aproximou-nos – e como! – pelo que vamos ouvir gente a falar do Brasil, de Portugal e de outras paragens como se estivessem no jango ao lado.

POIS, O LIVRO…

Recupero o lugar-comum com que iniciei este texto de apresentaç­ão: temos um grande livro em mãos! Aos ouvidos de um adolescent­e da geração do polegar, esta afirmação insossa merecerá logo uma exclamação do tipo: bah…grande novidade, tio!

Ainda bem que as coisas acontecem assim. É a expressão melhor acabada para se exaltar o valor de uma marca: qualidade inatacável aquilo o que Manuel Rui produz, ao menos desde que o lemos – alguns desde QUEM ME DERA SER ONDA, outros desde ONZE POEMAS EM NOVEMBRO. Se não bastassem estes referencia­is, temos o conteúdo soberbo da Letra do Hino Nacional, escrito com todas as musas a cercarem MANUEL RUI na frescura dos seus 35 anos de idade!

O QUE NOS OFERECE MANUEL RUI EM TIO JORGE E OUTROS QUÊS?

4 contos, distribuíd­os por 100 páginas. O conto que dá nome ao livro é o primeiro, também o mais extenso, ocupa 37 páginas; O seguinte é o conto MONAMAIOR, depois o PÁTIO DAS INSÓNIAS e fecha com o conto intitulado A OLHAR PARA OS JACARÉS.

São belíssimas histórias, de leitura irresistív­el. Atrevo-me a considerar que ninguém em sã consciênci­a deixa a meio um relato destes, qualquer que seja o conto escolhido, e – lá está – são sempre contos que se lêem com a marca inconfundí­vel Manuel Rui a perpassar toda a história, do início ao desenlace. Sempre e sempre o humor supremo de Manuel Rui, as gargalhada­s que

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