“OS VENTOS AO SUL”
Na pratica, a crítica literária incorporase na instituição literatura como praxe mediadora, que assume o (in)grato papel de dissecar o que o sistema de leitores não faz por falta de conhecimentos ou de domínio sistémico dos meios. O crítico vai, assim, limitar-se a mostrar um possível caminho de leitura interpretativa, metodizando conceitos para melhor se observar a obra como uma estrutura homogénea composta por um conjunto (“corpus”) de textos.
Não sendo sua função validar ou autenticar qualidade, a crítica literária ajuda a melhor olhar a identidade do texto como um objecto literário, tornando evidente a relação entre a lua e o sol da obra, nomeadamente a pragmática (multiplicidade de sombras) e a emblemática (a luz que permite observar e a conservar a identidade).
A escola tradicional também indica o caminho de múltiplos olhares para o texto literário com as lupas que permitem, ao leitor (aluno), aprenDER A IDENTIFICAR GÉNEROS, Categorias, subgéneros ou talvez transgéneros.
Nesse contemplar crítico que a escola tradicional nos doa, as características ou caTEGORIAS FLEXÍVEIS ASSUMEM-SE como cartões de identidade devido aos traços estruturais, semânticos, sintácticos, fonológicos, formais, contextuais e outros. São apenas caminhos de múltiplos olhares.
Através de um desses olhares, pode-se distinguir a natureza literária do objecto literário, designando assim critérios de distinção baseados em certas normas. É possível, com base nisso, não se confundir texto literário com qualquer um outro texto na acepção universalista do termo. E se entendermos literatura enquanto arTE, SERIA PLEONÁSTICO REAFIRMAR que nem toda obra imprensa é literatura, assim como nem todo o autor é escritor.
NO CORPUS DOS VENTOS AO SUL
Já o dissemos acima: o plano crítico e a escola tradicional reconhecem que há dissemelhanças entre géneros, categorias, subgéneros ou talvez transgéneros, diferenças marcadas por traços estruturais, semânticos, sintácticos, fonológicos, formais, contextuais e outros.
Ora, o género literário é uma categoria de composição literária. Conforme a divisão CLÁSSICA DE FILÓSOFOS DA GRÉCIA antiga, como Platão e Aristóteles, desde a Antiguidade, os géneros literários agrupam-se em três: narrativo ou épico, lírico e dramático. Esses três pilares primários abrangem inúmeras classes aparentemente menores, comumente denominadas subgéneros. E é assim QUE PASSAREMOS A CLASSIFICAR, nesse ensaio, o romance histórico; subgénero, em cujo relvado jogará a obra “Os ventos ao sul”, de Fragata de Morais.
“OS VENTOS AO SUL”, que narra peripécias centralizadas nos Seculos XIX e XX, é um romance estruturado em quatro tomos, designadamente “O arrebatado”, “O degredado”, “O AVENTUREIRO” E, FINALMENTE, “OS seguidores”. Como o próprio Fragata de Morais apresenta, a obra retrata “A saga de uma família que tem sua origem no Porto [Portugal] em 1813 e cujo protagonista enfrenta o poder sendo deportado pela coroa portuguesa para Luanda A fim DE CUMPRIR UMA PENA DE degredo de cinco anos”.
Nessa narrativa histórica, FICCIONAL E DISCURSIVA, A MAIOR odisseia do personagem “precursor” inicia, após o cumprimento da pena, em terras dos povos Ambó. Diria que o referido romance preencheria bem um plano de aula, cuja narrativa se gruda e cabe na armadura de um romance histórico. E é nessa via terciária que conduzirei o meu texto.
IDENTIDADES DO SUBGÉNERO
As teorias ensinam-nos que o romance histórico é marcado por três destacáveis faces.
1. Num primeiro aspecto, defende-se que o facto histórico deve ser o ponto de partida para a construção do facto liteRÁRIO. OU SEJA, A ficção DEVE Representar e apresentar o passado histórico com qualidade “foTOGRÁFICA”.
Assim, a dado passo da narrativa, a história solicita a aferição do leitor sobre determinados elementos da própria narrativa.
2. Num segundo marco, o autor busca legitimar os factos históricos através de documentos e referências históricas. Por trás disso há a comunicação com o descrito no priMEIRO ASPECTO. OU SEJA, A ficção encontra uma comoda almofada na história.
Com base no texto, as referências históricas de monumentos como a Fortaleza de S. Miguel descrita na obra permiTEM CRIAR UMA MAIOR FIABILIDADE do facto literário. É a almoFADA QUE A ficção COLHE DA História.
3. Num terceiro momento, realça-se no romance histó