Salvador de Jesus Ximbulikha
Veio a ordem na Atmosfera Espiritual da soletração pioneira, alega-nos Génesis, do verbo que fez a Natureza. E do alto existencial, foi-nos doado, a cada ser compatível, o dom da voz, como artefacto gratuito. No tom Divino, disse-se à Luz, a outros elementos subsequentes e assim foi há milénios de anos. Um imperativo natural doma-nos, desde então. Em só uma palavra, o Mundo formou-se na circunferência ordinatória: haja!
E tudo foi existindo aos poucos, feito poder subjacente. Toda a palavra, independentemente do seu tamanho silábico, pode ser, a dado momento, um míssil, uma bomba, uma mala de segredos, um fósforo aceso. Para tal, o nosso comboio conDUTOR DEVE POSSUIR TRAVÕES Afinados. Não há uma enciclopéDIA UNIFICANTE E SOFISTICADA QUE nos capacite para o uso adequado do nosso arcabouço lexical. «Sabes tu quem sou eu?» A partir dessa premissa exorcista, a morte da voz vem imediatamente. Há nisso tudo o hino da intimidação administrativa, algo já antigo.
A mente humana é chamada ao exercício constante da razão, pois nenhuma luz se acenderia sozinha, no meio de UMA FLORESTA. NA COMUNICAÇÃO literária e, talvez, linguística, por exemplo, o efeito catártico é singularizador: tanto é que a SOMA DE UM MAIS UM, AO fim das equações, poderá apresentar um produto para além do convencional dois.
Assim, o racional-homem, no gozo das suas faculdades endógenas, nunca saberá, ao fundo do poço, o sabor de cada morfema que lançar do seu dicionário particular. O que se faz, é uma circunscrição hipotética sobre aquilo que os peritos designam por intenção comunicativa. Destarte, tal intento é um panorama do “eu”, que vai tentando penetrar nos intelectos dos outros e prever reacções próximas à ideia primária da mensagem emitida.
Todavia, fomos formatados a silenciar o nosso próprio cérebro de mais de 45 G. É um silêncio que se distancia da meDITAÇÃO QUE A FILOSOFIA NOS Propõe. O nosso é sinónimo de arma à cabeça, folha ameaçada pelo vento, guerra avulsa e medos conjuntos, sob uma dissertação de fortes intimidações. Infelizmente, determinados poemas, a título de menção, NÃO REFLECTEM O PONTO SITUACIONAL do poeta germinador. Na escrita, temos de valorizar, primeiro, a liberdade. O escritor é uma águia: não pode viver sob uma vigilância de dogmas, ideologias exógenas e preconceitos sociais. Depois, a dúvida nos invade se quantos conseguem, cá entre nós, tal liberdade sem que passem por um banho-maria com as cores comuns. Quantos e quantas?
A dialética da passividade norteia o nosso semáforo contemplativo, nesse mundo feito sob um hipotálamo amedrontador. «Quem abrir a sua insaNA BOCA, CALAR-SE-Á NA INFINITUDE.» Uma máxima sacra. NeNHUMA LUZ SE FAZ O fio CONDUTOR para directrizar as nossas lágrimas rumo ao PARAÍSO, quando a gaja da ENDE desiste de ser ela mesma. A observação do silêncio é uma missão suicida, nunca se saberá quando o inimigo poderá mover a última peça do seu xadrez, no momento crucial.
É na Literatura, pois, onde o “eu” se reacenderia com efervescência cultural, artística, social e linguística, com recurso às asas voadoras, para representar o “nós”. Porém, até a inspiração anda engavetada, somente os donos libertam-na, convindo-lhes. Discussões do tipo nunca têm matriz patriótica, lá no zénite decisivo. O indivíduo, por mais corpulento, endinheirado, famoso, bemfalado que seja, por mais cor e nariz à Michael Jackson que tenha, se não souber que a vida emana da Literatura, que Jesus foi um grande metaforista, então, considere a probabilidade de ser um ente de si mesmo, já que não há como não ser um defunto, quando se não tem o contacto com o papel letrado, por exemplo, dentro da escola, o início de tudo.
E os tais doutores nem sempre são amigos do livre arbítrio nas suas rotinas. Ensinam o QUE NEM ELES ENTENDEM A finalidade prática. Bastará alguém pensar que a primeira pedra seja angular, tem-se o desenho de uma caçada com fracassos sucessivos. Numa terra onde a revolução tivesse, insistentemente, uma tabela salarial, quanto custaria um herói?! Um morcego, ainda que com a sua capacidade elaborativa nocturna, se NÃO FOR INTELIGENTE O SUFICIENTE, nunca descobrirá o medo que lhe cobre o dia.
A Bienal de Luanda - Fórum Pan-africano para a Cultura de Paz – assume no primeiro eixo um compromisso que na edição anterior mereceu o mesmo destaque. Promover o diálogo intergeracional, mostrando a importância que a juventude tem na construção deste propósito por perseguir a cada edição. Para o efeito, a organização criou as condições para que representantes da juventude de todos os países africanos, precisamente dois jovens por cada país, uma mulher e um homem, desfrutem, por via virtual, a possibilidade de dialogarem sem as barreiras e bloqueios “físicos” que até aqui parecem separar como ilhas, como divisões intransponíveis. Ver tantos jovens africanos, juntos no mesmo propósito, faz lembrar uma intervenção no espaço público de um africanista convicto, tomada, naturalmente, com os seus prós e contras. “Sem demagogia, embora a juventude também não seja CULPADA, MAS PARECE QUE FICOU tão abafada pelos problemas, realidades negativas dessa África, que deixou também de ter criatividade”, apontava o historiador Boubacar Keita, um eminente professor universitário, que assumia em entrevista à imprensa, em alusão ao 25 de Maio, Dia de África. Em reacção a desilusões de gerações anteriores, Boubacar exortara a juventude a mostrar capacidade de se levantar, apesar dos problemas com que se debate no dia-a-dia. Neste três dias em que a juventude africana se manterá unida, com muitas expectativas à volta do futuro de África, que haja a imaginação desejada por Boubacar, daquelas à Mongo Beti, sempre voltadas para a África.