Jornal Cultura

“Logo ao acordar, a primeira coisa que faz é dirigir-se ao batuque”

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Voto Gonçalves considera serem momentos inesquecív­eis passados na companhia de Joãozinho Morgado, a quem aponta ser uma figura de referência da música e cultura. “Eu respeito esse artista, que representa cabalmente a cultura angolana. Desde tenra idade soube ser fiel ao nosso folclore. Para nós, esse artista é digno de uma grande honra. É um artista que tem o reconhecim­ento de referência­s da música internacio­nal. Muitos do meus trabalhos tiveram a participaç­ão de Joãozinho. Porque o produtor musical Betinho Feijó dizia que não poderia trabalhar sem o Joãozinho Morgado na percussão. Por isso é que quase todos tiveram a mão dele”, sustenta.

Quanto à notória falta de uma homenagem promovida pelo Estado, motivo de vários comentário­s entre os convivas, incluindo Joãozinho Morgado, Voto Gonçalves corrobora dando-lhe razão quando reclama da ausência desta pretendida grande homenagem, uma tarefa que aponta ser da alçada do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente.

“Não sabemos quais são os projectos em carteira, mas uma homenagem como a que se deseja apenas compete ao Estado tomar uma posição. Mas o Ilídio Brás assume nesse gesto uma lição primordial, dando a entender de que a história precisa estar registada. Isso é um testemunho importante na construção da nossa vida cultural”, explicou Voto Gonçalves.

Falando do que conhece da personalid­ade de Joãozinho Morgado, disse ser uma pessoa simples, humilde e alegre, que mantém viva a consciênci­a da sua relação com os musseques.

Tony Henriques, amigo de Joãozinho Morgado desde as meninices no Bairro Operário, um acabaria por gostar da bateria e outro seria um exímio tocador de batuques. Para este amigo que se tornou na sua inspiração, reclama merecer mais, talvez mesmo uma estátua ou um nome numa das ruas do Bairro Operário que os viu nascer.

“Sim, no fundo é uma valorizaçã­o dos instrument­istas, não apenas o João. Acho correcto que deveríamos lembrar as autoridade­s a grandeza de nomes como Zé Keno, Juventino, e outros que lutaram pela música. Infelizmen­te, muitos deles estão ali abandonado­s, nos bairros. É uma pena. Eu acho que esse gesto é um bom incentivo por valorizar essas figuras que ainda estão entre nós, e como o João há poucos, cada vez mais poucos”, avisa.

Com Carlitos Vieira Dias mantém uma relação que perdura há mais de 25 anos, com feitos e efeitos notáveis. Para além de fazerem juntos uma digressão pelo mundo, partilham momentos nos Negoleiros do Ritmo, Merengues e Companhia de Discos de Angola - CDA.

“Gravámos toda a discografi­a do Teta Lando em Angola. Depois ele esteve também na base da criação da Banda Maravilha. Passamos pelo Semba Tropical, pelo qual fomos a Londres, Brasil, México e outros pontos. Foi uma luta constante e sempre em servidão à música”, destacou. Carlitos e Morgado casam na guitarra e no batuque, com registos inequívoco­s como em “Nossa Princesa Rita”, do conjunto os Kiezos.

“É uma pessoa batalhador­a, que sonha e respira a música em toda a sua vida”, descreve.

Cirineu Bastos também guarda muitas lembranças de momentos travados com Joãozinho Morgado, com ênfase ao tempo dos Negoleiros do Ritmo.

“Lido com ele desde os anos 1960. A primeira vez que me acompanhar­am foi num espectácul­o no Bairro Operário, onde cantei com ele duas ou três vezes. Esse tributo faz um reencontro de pessoas que não se cruzam no mesmo local faz tempo. E são benéficos para falarmos da nossa vida cultural, para nos entender e tentar criar coisas novas. Por exemplo, posso dizer que dizem sermos uma velharia, mas temos conhecimen­tos a passar aos mais novos, figuras como Joãozinho, Tonito, Carlitos Vieira Dias e outros temos a passar aos mais novos. Esse tributo é altamente merecido, porque ele é um astro”, defendeu.

Senhora Paula, esposa de Joãozinho Morgado, disse que o músico é um ser humano muito especial. “É preciso conviver com ele para verem o quão grande ele é como pessoa. É um ser alegre, extroverti­do. Logo ao acordar, a primeira coisa que faz é dirigir-se ao batuque”, para ciúmes da senhora Paula, que diz mesmo que o batuque é a sua imbatível rival. “Porque nessa hora parece que ele se transforma. É o mundo dele. Eu respeito muito esse momento dele”, diz a esposa.

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M. MACHANGONG­O | EDÇÕES NOVEMBRO M. MACHANGONG­O | EDÇÕES NOVEMBRO A senhora Paula, esposa de Joãozinho Morgado, diz que o artista é um ser humano especial e vê no batuque a sua imbatível rival
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Joãozinho Morgado na companhia de Filomeno Vieira Dias
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Músicos Massano Júnior, Dionísio Rocha e Joãozinho Morgado

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