Jornal Cultura

Ismael Botelho

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Alguém tem que me explicar isso! Sim, porque tenho muitas dificuldad­es em perceber a diferença entre as mãos. O que é que uma dá que a outra não pode dar? Dizem ser tradição, mas tradição de quê e de onde? Quem inventou isso?

Um dia recebi umas ofensas de uma Kinguila por ter dado uma nota de cem dólares com a mão esquerda; foi uma dor de cabeça "apagar aquele fogo". Devolveram­me a nota com umas olhadas de apetecer cerveja para esquecer. O assunto foi tão sério que nesse dia não troquei a divisa, que até tinha a cabeça grande, para voltar lá no dia seguinte, mesmo assim não aceitou. O comportame­nto da senhora foi só por causa da mão. Não pode ser, essa mulher tem problemas de ir ao hospital, não devia estar aqui a complicar as pessoas por uma simples mão. Quer ganhar dinheiro ou não?

Desculpa a mão esquerda! Mesmo que a direita esteja ocupada tem que trocar as coisas para a outra mão para entregar ou receber alguma coisa. Uns dizem ser falta de respeito, uma questão de cortesia, de boas maneiras. Que falta de respeito qual quê!. Onde está o desrespeit­o? Que me dessem só então uma mão, seria melhor, não suporto estarem a me censurar uma das mãos porque com essa não se entrega nada, só foi feita para receber e não para entregar.

Se for então com uma mais velho, só piora ainda mais a situação, és capaz de receber uma lição demorada de moral ou até uma praga, mas ninguém explica porque razão a mão esquerda só serve para receber. Desde criança que me questiono porquê. Já levei umas boas palmadas por ter dado a um mais velho algo com a maldita mão.

O que tem a mão esquerda de errado? Que maldição ela traz da sua triste sina para merecer tamanho desprezo. As mãos foram feitas para terem a mesma utilidade e não pode haver discrimina­ção. Coitado dos canhotos, não sei como fazem para lidar com isso.

Não são muitos os que ligam a isso, mas esses poucos, fazem questão de acentuar com toda a força do mundo. Eu também, às vezes, faço questão de dizer "desculpa a mão esquerda", mas não vejo muita lógica. Tudo pela força dos berros que levei ao longo da vida e de ter visto muitos a fazerem o mesmo.

Alguém me deve essa explicação, se não vou trocar de mão e depois ninguém me chama nomes, estou avisar já. Preciso saber da utilidade das mãos e o pecado da esquerda.

A inauguraçã­o do “Passeio dos Cantores Angolanos", realizada no sábado, na Ilha de Luanda, pela mão da Primeira-dama da República, Ana Dias Lourenço, foi mais um sinal claro da importânci­a dos artistas na vida de qualquer cidade. A prestigiar o acto, a Primeira-dama partilhou a sua emoção ao lembrar o tempo em que era ainda adolescent­e e ouvia canções de alguns dos artistas ali expostos, citando Bangão, Teta Lando e outros. Mais do que uma vénia a essas vozes homenagead­as, o “Passeio dos Cantores Angolanos” é parte integrante da rota turística da cidade. Aliás, essa inequívoca relação há muito que rende teses ou dá vazão a prodigioso­s momentos de inspiração. Se de Burity se teve ainda mais reforçado o poderio imagético da Ilha de Luanda, convertida a “pombal do amor”, de Bangão, com toda a pompa que ostentava, o Sambizanga era uma cidade entranhada na sua alma. Resistiu o suficiente até não mais conseguir “largar” o seu Sambila, na zona da Madeira. Quem por necessidad­e profission­al ou por outra razão o visitou no seu “cantinho”, terá segurament­e conhecido mais do artista, pela reverência que a vizinhança rendia ao mesmo. Sinais claros desse avançar há muito desejado. Para quem sabe assim, tal como quem anda hoje pelas ruas Guerra Junqueiro ou Antero de Quental, ambos políticos e poetas proeminent­es da literatura portuguesa, igualmente ai pelo Bairro Operário venha a desejada concretiza­ção da “Rua Ngola Ritmos”, ou noutro ponto convenient­e da cidade do Huambo, escrita orgulhosam­ente num umbundu estaladiço: “Rua Manuel Rui Monteiro”.

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