Da Arquitectura à História
Com um trabalho reconhecido, sólido, enciclopédico e crítico, Paula Nascimento é arquitecta e curadora angolana que, juntamente com Stefano Rabolli Pansera, curou o pavilhão angolano na 55ª Exposição Internacional de Arte - La Biennale di Venezia, que ganhou o Leão de Ouro por "melhor participação nacional". Paula reflecte, enquanto arquitecta, sobre geopolíticas, desenvolvendo projectos multidisciplinares onde constantemente aparece Luanda e a sua “realidade espacial complexa”. Mas é na curadoria de arte contemporânea onde Paula também actua como consultora em vários projectos, e colabora com diferentes instituições artísticas e colectivos, tanto no continente como no exterior. Nesta edição trazemos uma esclarecedora entrevista da curadora que diz não ver, na prática, a sua ligação ao meio artístico como algo distinto da arquitectura, lembrando que o seu meu percurso académico foi pautado por muita experimentação e pelo pensamento. Nesta edição, assinala-se ainda a conversa com o economista e sociólogo camaronês Martial Ze Belinga, membro do comité científico da UNESCO para a História Geral de África e que revela como recebeu o convite para ajudar a rescrever o passado do continente. E, numa espécie de balanço, o colunista da revista Présence Africaine e pesquisador independente em ciências sociais diz que alguns países têm feito esforços para integrar o conteúdo nos seus currículos, como a África do Sul, por exemplo. "África como o berço da humanidade é uma fórmula vazia nos discursos e nos currículos", diz. O colunista da revista Présence Africaine e pesquisador independente em ciências sociais nota bem quando afirma que ainda há nas produções académicas africanas as ideias de africanos “tribais”, "pagãos", "povos sem escrita”, "povos do “oral”. Ora, África é verdadeiramente um eminente produtor de conhecimento, civilizações, escritos, modelos culturais como os demais povos do planeta. É, portanto, legítimo propor livremente os seus próprios modelos de sociedade e sugerir ao mundo soluções confiáveis para uma modernidade materialista e egoísta, que ameaça a sustentabilidade física da vida terrestre.