Jornal Cultura

“Nunca houve ou haverá uma mulher como ela”

Elza Soares (1930-2022)

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Ícone da música brasileira, Elza Soares é sem dúvida uma voz obrigatóri­a da Língua Portuguesa. Irreverent­e e com um história de vida marcada por momentos que os fãs e amigos fizeram questão de lembrar como marcas de uma mulher que venceu a vida, apesar de tantas lutas. Elza Gomes da Conceição nasceu na favela carioca Moça Bonita, em 1930. Nascveu da união de uma lavadeira e de um operário, e segundo a sua história de vida foi obrigada a se casar aos 12 anos, tendo na consequênc­ia sendo mãe aos 13 e já aos 21 assumia o pesado fardo de viúva. Quanto as circunstân­cias que inicia a sua carreira, foi depois de participar no programa “Calouros em Desfile”, no final da década de 1950, e assim Elza começa a procurar lugares para cantar.

CANTORA DO MILÉNIO

Em 2000, foi premiada como "Melhor Cantora do Milénio" pela BBC em Londres, quando se apresentou num concerto com Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Virgínia Rodrigues. No mesmo ano, estreou uma série de shows de vanguarda, dirigidos por José Miguel Wisnik, no Rio de Janeiro. Em Londres, apresentou-se no Royal Albert Hall, mesmo tendo sofrido uma forte queda alguns dias antes, o que lhe rendeu uma semana no hospital.

Em 2002, o seu álbum Do Cóccix até o Pescoço garantiulh­e uma indicação ao Grammy. O disco foi bem recebido pelos críticos musicais e divulgou uma espécie de quem é quem dos artistas brasileiro­s que com ela colaborara­m: Caetano Veloso, Chico Buarque, Carlinhos Brown e Jorge Ben Jor, entre outros. O lançamento impulsiono­u numerosas e bemsucedid­as tournées pelo mundo. Em 2003, Elza lançou o álbum Vivo Feliz. Não tão bemsucedid­o em vendas quanto suas obras anteriores, o álbum continuou a executar o tema de fazer um mix de samba e bossa com música electrónic­a e efeitos modernos. O álbum teve colaboraçõ­es de artistas, como Fred Zero Quatro e Zé Keti. Nos Jogos Pan-americanos de 2007 no Rio de Janeiro, Elza interpreto­u o Hino Nacional Brasileiro, no início da cerimónia de abertura do evento, no Maracanã e lançou o álbum Bebame, no qual gravou as músicas que marcaram sua carreira.

SIMPLESMEN­TE DESLIGOU

Em 20 de Janeiro de 2022, a assessoria de Elza Soares confirmou a triste notícia sobre o faleciment­o da artista, apontado por razões de causas naturais, em sua casa, aos 91 anos de idade. O empresário da cantora comentou que o dia aparentava ser como qualquer outro. Segundo contou, a cantora acordou e fez mais uma sessão de fisioterap­ia, apenas apresentan­do um cansaço maior. Pediu para descansar e aparentava estar ofegante. Depois de um tempo, ela confidenci­ou aos familiares: "Eu acho que vou morrer". Elza estava certa. Morreria mesmo.

"Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo. Morreu de causas naturais. Esse, aliás, era um grande medo dela: ter uma morte sofrida, por doença. Hoje, ela simplesmen­te desligou", disse empresário. Por coincidênc­ia, seu faleciment­o ocorreu exactos 39 anos após a morte de seu ex -marido, Mané Garrincha.

"Teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com a sua voz, a sua força, a sua determinaç­ão. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e nos nossos corações e em milhares e fãs no mundo inteiro. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até ao fim", informou a assessoria de imprensa da cantora. Elza Soares gravou 36 álbuns e seis colectânea­s e percorreu o mundo inteiro em sucessivas digressões.

Entre as muitas colaboraçõ­es ao longo da sua vida, destacam-se Caetano Veloso, Chico Buarque e Carlinhos Brown. A revista Rolling Stone Brasil incluiu-a na lista das 100 maiores vozes da música brasileira de todos os tempos.

Em 2008, a cineasta e jornalista Elizabete Martins Campos começou a pesquisar a vida dela e esse trabalho resultou no filme "My Name is Now". A longa-metragem percorreu dezenas de festivais, conquistou vários prémios e está agora disponível na Netflix.

Dentre as muitas vozes que a admiravam e que foram bastante difundidas pela imprensa, destaca-se a de Chico Buarque: “Nunca houve ou haverá uma mulher como ela”. "Descanse em paz, Elza Soares. Sua música entreteve e inspirou muitos no Brasil e ao redor do mundo. Somos muito gratos," diz Beyoncê no tributo à artista.

Com o seu álbum "A mulher do fim do mundo", lançado em 2015, voltara à ribalta. Elza morreu fazendo o que prometeu: “me deixem cantar até o fim”, e assim fez.

"Teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com a sua voz, a sua força, a sua determinaç­ão. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e nos nossos corações e em milhares e fãs no mundo inteiro. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até ao fim", informou a assessoria de imprensa da cantora

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