"O diálogo inter-geracional na Bienal foi inovador"
Já que fala da juventude, como avalia o diálogo inter-geracional que houve na Bienal?
Essa foi uma inovação. E foi um acontecimento inédito. O Presidente da República apoiou a realização deste momento e foi a grande novidade desta segunda edição da Bienal, em que jovens, com uma representação de dois por cada pais africano, seleccionados por um processo com critério relativamente rigoroso, com a participação da Unesco, União Africana e instituições representativas da juventude. Os candidatos foram apresentando no concreto que tipo de acções estão a realizar e que têm um grande impacto a nível local, mas que oferece um impacto real, levando a juventude a assumir um papel de mediador na prevenção de conflito e violência. Portanto, cada um foi indicando o que tem feito e que tinha a ver com o tema do ano. Foram seleccionados 120 jovens. Inicialmente, a Bienal previa uma presença de cerca de 150 jovens africanos oriundos de diversas partes de África e diáspora. Porque a diáspora também pode dar o seu contributo, visto ter outra experiência e realidade, sobretudo do ponto de vista cultural, para que eles também não se sintam perdidos. Daí o tema dos diálogos entre líderes e jovens, e questionar se a diversidade cultural africana será fonte de conflitos ou uma oportunidade para se construir a paz.
Marcou-lhe alguma iniciativa da juventude, um projecto específico…
Há um projecto que dá muita visibilidade que se chama Jovens Tecelões da Paz. É uma experiência que está a decorrer há mais ou menos dois anos e é um projecto transfronteiriço, entre o Tchad, Camarões e Gabão. É numa zona com tráfico ilícito. Daí a oportunidade de investir muito na mentalidade e criar oportunidade de acções rentáveis dessas comunidades, e fazer um processo de formação. Já são mais de centenas de postos criados. É financiado pelo Fundo de Apoio de Promoção da Paz, das Nações Unidas. É algo de muito concreto que está a acontecer, e os jovens elegeram esse projecto como sendo emblemático, simbólico. Quer dizer que todos os países da África Central entendem que em 2022 e 2023 deve haver uma extensão desta iniciativa nas fronteiras dos dez países membros da comunidade económica. De modo que seja abrangente para mais países. Isso inclui a promoção da juventude como agente de transformações sociais e na prevenção de conflito e resolução pacífica. A nível africano, ocorre que se faça bem referência de como se resolve os conflitos a nível comunitário. Em Angola, desde a primeira edição que se faz referência ao tribunal tradicional que se faz todas as quarta-feira em Mbanza Kongo. Portanto. Ouvem-se as partes e resolve-se o conflito, seguindo as regras da tradição.
Parece-me que essa cultura de paz no reino do Kongo é antiga…
Não só no reino do Kongo. Mas se pesquisar, verá que em todas as comunidades até hoje assim acontece. É valor consuetudinário que nós como africanos temos que elevar como contributo para a consolidação de uma paz duradoira no mundo. Porque é preciso prevenir. E nós temos a prevenção, e até antes do colono já resolvíamos as nossas questões dessa maneira. Portanto, essa é a grande contribuição de África nesse processo. É preciso prevenir, e significa educar a mente da criança que vai crescendo, o respeito pelo outro e a sua condição em tolerar o outro e os valores do outro. Isso vai fazer com que se consolide esse movimento para a paz no mundo...
Voltemos aos ganhos da Bienal ....
Ora, o primeiro ganho foi esse engajamento dos jovens que assumiram o compromisso com acções concretas, que vão desenvolver de 2022 a 2023, e quando chegar o tempo da terceira edição da Bienal de Luanda, em Setembro de 2023, é para fazer o ponto de situação. A partir da segunda estamos a tratar de coisas concretas que se possam conferir qual é o avanço e impacto real. Não nos limitamos apenas às recomendações. Há um plano de acção, e tudo isso foi fruto do debate que se definiu por fórum temático, com contribuições de todos aqueles que procuram acções concretas. O segundo grande ganho é justamente a proclamação da aliança de parceiros. Porque de um lado temos iniciativas, ideias, mas é sobretudo que se defina quem é que apoiou. Porque sabemos que o apoio financeiro é determinante. Tivemos a felicidade de assistir no último dia da segunda edição, 30 de Novembro, a uma proclamação colectiva de mais de 60 entidades que se prontificaram em aderir aos objectivos da Bienal através dessas iniciativas, desde assistência técnica e financiamentos. Estamos a falar de mais de oitenta projectos