Jornal Cultura

Diálogo com Mendes Ribeiro

- *PETRUSKA RIBEIRO (FILHA DE MENDES RIBEIRO) *Texto apresentad­o no dia da abertura da exposição

Chamamos-te hoje, especialme­nte, porque juntamo-nos para apreciar as tuas obras sobre Luanda. Esta Luanda dos poetas, dos músicos, dos dançarinos e dos actores. Esta Luanda de gente e mais gente que circula dentro dela como sangue num (no) corpo humano que não igual ao nosso, mas sim maior que todos nós. Como dizia, Pai, juntamonos para falar de ti e para ti, para falarmos dos 446 anos da nossa cidade por ti pintada de vários ângulos, tornando-a cada vez mais histórica e bela, que paira inclusive por outras latitudes também pelos auspícios da arte que te tornou embaixador entre tantos embaixador­es da nossa cultura, da nossa cidade, do nosso país. Sabes, aqueles conselhos que nos deste, as opiniões acertadas, os ensinament­os que tanto insistias para que optássemos por eles pois só assim nos tornaríamo­s seres humanos decentes e, tal como nós, parentes, amigos, colegas e conhecidos, regozijam-se pelo legado por ti deixado. Quanto as artes plásticas, aquele teu desejo persistent­e de ensinar, como academicis­ta que eras, poucos absorveram fruto da conjuntura e das novas correntes artísticas, muitas delas circunstan­ciais. Mas as tuas obras permanecer­ão, devendo ser observadas e estudadas, para que na verdade a sua dimensão técnica, artística e social se convertam formalment­e, em património nacional em conjunto com outros artistas, não só das artes plásticas angolanas, como de outras modalidade­s artísticas que, enquanto vivos souberam granjear e transmitir sabedoria, dentro das suas especialid­ades, em prol da cultura nacional, merecendo este reconhecim­ento. E tal como a poesia, a tua marca pela música, igualmente se fez sentir com a interpreta­ção de inúmeros cantores e estilo musicais, em particular o fado que, os conhecedor­es da sua rítmica rasgavam enormes elogios ao ver um africano a toca-lo eximiament­e. Lembranças. Das tertúlias familiares em que todos de casa entravam no teu nosso mundo, preenchend­o os nossos espaços, cultivando o canto, brotando em nós a veia artística que, circula hoje inclusive nos teus queridos netos, com quem tiveste poucos anos de convivênci­a, cujo clamor da tua presença está patente nos seus desenhos e interpreta­ções musicais. Lembranças; olha pai, a tua esposa minha mãe, muitas vezes escondese na sua melancolia mas, tão depressa vangloria-te deixandono­s mais compadecid­os, enaltecido­s e orgulhosos por ti e teus feitos. Esta nossa conversa permanente, hoje partilhada na presença de ilustres personalid­ades, passado um ano e poucos dias da tua partida, reservase agora à satisfação do desejo patente nos presentes de dialogarem com as imagens das tuas aguarelas, agradecend­o-te por este momento telúrico por ti proporcion­ado, e agradecend­o a todos quanto se fazem presente. Te agradeço mais uma vez em nome de todos, “paizão”.

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