Diálogo com Mendes Ribeiro
Chamamos-te hoje, especialmente, porque juntamo-nos para apreciar as tuas obras sobre Luanda. Esta Luanda dos poetas, dos músicos, dos dançarinos e dos actores. Esta Luanda de gente e mais gente que circula dentro dela como sangue num (no) corpo humano que não igual ao nosso, mas sim maior que todos nós. Como dizia, Pai, juntamonos para falar de ti e para ti, para falarmos dos 446 anos da nossa cidade por ti pintada de vários ângulos, tornando-a cada vez mais histórica e bela, que paira inclusive por outras latitudes também pelos auspícios da arte que te tornou embaixador entre tantos embaixadores da nossa cultura, da nossa cidade, do nosso país. Sabes, aqueles conselhos que nos deste, as opiniões acertadas, os ensinamentos que tanto insistias para que optássemos por eles pois só assim nos tornaríamos seres humanos decentes e, tal como nós, parentes, amigos, colegas e conhecidos, regozijam-se pelo legado por ti deixado. Quanto as artes plásticas, aquele teu desejo persistente de ensinar, como academicista que eras, poucos absorveram fruto da conjuntura e das novas correntes artísticas, muitas delas circunstanciais. Mas as tuas obras permanecerão, devendo ser observadas e estudadas, para que na verdade a sua dimensão técnica, artística e social se convertam formalmente, em património nacional em conjunto com outros artistas, não só das artes plásticas angolanas, como de outras modalidades artísticas que, enquanto vivos souberam granjear e transmitir sabedoria, dentro das suas especialidades, em prol da cultura nacional, merecendo este reconhecimento. E tal como a poesia, a tua marca pela música, igualmente se fez sentir com a interpretação de inúmeros cantores e estilo musicais, em particular o fado que, os conhecedores da sua rítmica rasgavam enormes elogios ao ver um africano a toca-lo eximiamente. Lembranças. Das tertúlias familiares em que todos de casa entravam no teu nosso mundo, preenchendo os nossos espaços, cultivando o canto, brotando em nós a veia artística que, circula hoje inclusive nos teus queridos netos, com quem tiveste poucos anos de convivência, cujo clamor da tua presença está patente nos seus desenhos e interpretações musicais. Lembranças; olha pai, a tua esposa minha mãe, muitas vezes escondese na sua melancolia mas, tão depressa vangloria-te deixandonos mais compadecidos, enaltecidos e orgulhosos por ti e teus feitos. Esta nossa conversa permanente, hoje partilhada na presença de ilustres personalidades, passado um ano e poucos dias da tua partida, reservase agora à satisfação do desejo patente nos presentes de dialogarem com as imagens das tuas aguarelas, agradecendo-te por este momento telúrico por ti proporcionado, e agradecendo a todos quanto se fazem presente. Te agradeço mais uma vez em nome de todos, “paizão”.