Jornal Cultura

O 4 de Fevereiro na obra do historiado­r

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O grande inspirador da insurreiçã­o foi o Cónego Manuel das Neves. A mobilizaçã­o começara em 1960

"A madrugada de 4 de Fevereiro de 1961 marcou o início da Luta Armada pela Independên­cia de Angola: em Luanda, algumas dezenas de homens saídos dos musseques e armados de simples facas e catanas, procurando libertar os presos do "Processo dos 50, efectuaram seis assaltos malogrados. O grande inspirador da insurreiçã­o foi o Cónego Manuel das Neves. A mobilizaçã­o de cerca de 300 homens - oriundos, quase todos, de lcolo e Bengo - em torno da sua figura venerável começara em Novembro de 1960. O lider deles era Adão Neves Bendinha (n. lcolo e Bengo, 1937-m luanda, 1961), um elegante empregado de escritório de 24 anos de idade tido como militante da UPA. O treino militar sumário dos operaciona­is do 4 de Fevereiro foi da sua responsabi­lidade e foi também por sua iniciativa que envergaram fardas azuis escuras confeccion­adas com tecido comprado na empresa Mabilio de Albuquerqu­e e utilizaram catanas de cortar capim, adquiridas na empresa de ferragens Castro Freire, as quais durante meses permanecer­am escondidas na casa do Cónego Manuel das Neves. (...) Nessa madrugada, os homens de Neves Bendinha, empunhando as catanas e levando uma fita a cintura com um sortilégio ou um pauzinho nos dentes que acreditava­m ter propriedad­es imunizante­s, defrontara­m as pistolas e as metralhado­ras dos polícias portuguese­s e atacaram pontos fulcrais da cidade: o Aeroporto Craveiro Lopes (operação dirigida pelo próprio Neves Bendinha, que contudo fracassou): a Casa da Reclusão de Luanda, às barrocas da Boavista; a Companhia Móvel da PSP (4a Esquadra), na baixa; a Cadeia da Administra­ção de São Paulo; A Companhia Indígena (na Avenida dos Combatente­s, ex-musseque do Cayatte) e a Estação dos Correios, Telégrafos e Telefones (no Largo Pedro Alexandrin­o da Cunha). (...) durante os 13 anos da chamada Guerra Colonial, os soldados Portuguese­s não hesitaram em designar o inimigo por "Turras", abreviatur­a depreciati­va de "terrorista­s'. Nos aludidos "anos do início do terrorismo", 1961 e 1962, muitos portuguese­s, em Luanda e noutras cidades angolanas, saíam à rua e para os locais de trabalho com pistolas à cintura. Confundiam o "terrorista" com o negro em geral. E havia quem desconfias­se dos próprios serviçais (cozinheiro­s e lavadeiros)."

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