Jornal Cultura

Que designação para as literatura­s africanas dos PALOP?

- SALVADOR TITO*

É indubitáve­l: o sintagma “literatura­s africanas” é um rio de diferentes afluentes. O seu emprego, por englobar ideias plurais, tende a sugerir, à partida, várias direções ao pensamento. Deste modo, é, sempre, necessária uma delimitaçã­o, quando se utiliza este sintagma.tencionamo­s, aqui, trazer breves esclarecim­entos sobre a designação das literatura­s africanas nos países africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo-verde, Moçambique, Guiné-bissau e São Tomé e Príncipe). Entretanto, não somos os pioneiros nestas andanças. Citam-se, pelo menos, duas individual­idades que assumem o pioneirism­o neste assunto: Russel Hamilton (Literatura­s africanas / Literatura­s necessária­s; 2 vols. 1975, 1984) e Manuel Ferreira (O discurso no percurso africano; vol. I, 1989).

O escopo fulcral da abordagem é apresentar as maneiras como foram e são designadas as literatura­s dos países africanos de língua oficial portuguesa. Não caberia nesta abordagem, pela sua natureza lacónica, uma exegese sobre os motivos cruciais que estão na base da escolha de cada designação.

Que designação para as literatura­s africanas dos PALOP? A propósito, há muito que se discute sobre a aceitaçãod­o substantiv­o “literatura­s africanas”,visto que África apresenta uma vasta diversidad­e étnica, linguístic­a e cultural. Embora suscite uma flexibilid­ade significat­iva, até ao momento, o nome é utilizado para dar a conhecer a literatura que é produzida e publicada em África, e não só, por africanos; de nacionalid­ade legítima, tendo o universo sociocultu­ral africano como o elemento temático peculiar.

A questão da nacionalid­ade literária africana daria muito o que falar, mas deixemos este assunto para o momento oportuno.

Atualmente, são conhecidas diferentes designaçõe­s para as literatura­s africanas produzidas nos PALOP, mantendo-se em todos os casos um único denominado­r comum, o código linguístic­o, em que elas são escritas. Entretanto, ao olhar para o percurso histórico, encontram-se nomenclatu­ras tais como: literatura­s ultramarin­as de expressão portuguesa, literatura­s luso-africanas, literatura­s lusófonas, literatura­s africanas de língua oficial portuguesa, literatura­s africanas de expressão portuguesa, literatura­s africanas escritas em português, literatura­s africanas de língua portuguesa. Destas, algumas estão em desuso.

No primeiro caderno de poesia negra e antologia utilizou-se o vocábulo “expressão”. Entretanto, o angolano Mário Pinto de Andrade e o são-tomense Francisco José Tenreiro organizara­m o caderno de Poesia negra de expressão portuguesa (1953).Nesta linha, conhecem-se também a Antologia da poesia negra de expressão portuguesa (1958) e Literatura africana de expressão portuguesa (poesia, 1967), ambas publicadas em Paris por Mário Pinto de Andrade. Desta maneira, começava-se a conhecer os escritores de raiz africana de língua portuguesa.

Dentre as designaçõe­s aludidas, parece que a designação “literatura­s africanas de expressão portuguesa” foi a que mais adeptos teve. Quando se mudou o nome da cadeira de Estudos Literários Africanos, criada pela primeira vez na Faculdade de Letras da Universida­de de Lisboa em 1974, a disciplina a que aquela deu lugar passou a denominar-se como Literatura­s africanas de expressão portuguesa. Assim sendo, o professor Manuel Ferreira, em O discurso no percurso africano; vol. I, 1989,adota e defende a nomenclatu­ra; apegando-se às teorias linguístic­as glossemáti­cas sobre expressão e conteúdo do dinamarquê­s Louis Hjelmslev. De igual modo, Pires Laranjeira, Inocência Mata e Elsa Rodrigues dos Santos acolhem o termo no manual Literatura­s africanas de expressão portuguesa, Universida­de Aberta; 1995. Será que esta designação continuou a vigorar?

Mudam-se os tempos. Mudam-se as vontades. A chegada das independên­cias nas excolónias portuguesa­s mudou o panorama político, administra­tivo e também o literário. Dentre os PALOP, Moçambique mostrou de imediato a vontade de eliminar o vocábulo “expressão”; associado aos países, bem como a literatura. Aos poucos, planeava-se o abandonoda designação “países africanos de expressão portuguesa” para Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. No entanto, a literatura acompanhou, sempre, os ecos da mudança. Assim sendo, a imprensa moçambican­a reagiu, alterando os títulos de alguns livros; substituin­do a palavra “expressão” por “língua”.por exemplo, o caderno de poesia organizado por Mário de Andrade e Francisco José Tenreiro em 1953, ganhou o novo título de Poesia negra de língua portuguesa.portanto, era visível a vontade de uma nova designação das literatura­s africanas nos PALOP.

Haverá uma designação unívoca para estas literatura­s? Esperemos que o futuro se responsabi­lize desta tarefa árdua. Hodiername­nte, há duas designaçõe­s que são, frequentem­ente, utilizadas: literatura­s africanas de língua portuguesa e literatura­s africanas escritas em português. Ambas são aceites pacificame­nte. As coisas evoluem e transforma­mse, rapidament­e. Por isso, talvez, com a grande velocidade do tempo, conheçamos outras designaçõe­s para as literatura­s africanas dos PALOP. Mas desde que elas estejam devidament­e adequadas ao gosto destas literatura­s que estão cada

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