Valentino Frederico
Imagina-se num dia como aquele de 10 de Janeiro de 2022, em que, dias antes os taxistas resolveram não colocar os meios circulantes de quatro rodas, nas vias asfálticas da cidade capital, em protesto a determinados comportamentos dos agentes policiais e não só, que em nada abonam ao seu crescimento ou desenvolvimento profissional e financeiro, onde, por este motivo, você é obrigado a calcorrear quilómetros, porque tem compromisso com a labuta, e, o seu chefe não quer saber da paralisação anunciada pelos taxistas. Debaixo de um clima cálido, imagina-se que já andou tanto e pretende repousar um pouco, mas não existe um local para tal. Ficar na varanda da casa de alguém, pode ser desconfiado e confundido com um ladrão ou correr o risco de ser corrido, senão mesmo apedrejado. Com essa moda (de todo reprovável), de fazer justiça por mãos próprias, que Luanda está com ela, e vai se tornando cada vez mais uma realidade em quase todo país, imagina! Agora, imagina se cada um de nós decidisse arranjar uma planta e juntos transformarmos as nossas ruas em verdadeiras alamedas. Se nos uníssemos e arborizássemos as partes adjacentes das nossas estradas, dando mais beleza ao alcatrão que todos os dias é perfumado com o dióxido de carbono, que ao fim e ao cabo acaba por ser para nós um perfume danoso, seria certamente, uma maravilha e as nossas estradas e ruas ficariam muito mais bonitas. Luanda inteira libertaria oxigénio em abundância e as catástrofes por insuficiência do ar puro diminuiriam. Nos momentos em que fôssemos obrigados a percorrer longas distâncias, por falta de táxis e/ou candongueiros (termo quase em “dez uso”), faríamos um “anda pára”, “anda pára”, talvez, do tipo cantado por um dos melhores kuduristas que esta Angola já teve, o William do Amaral a.k.a Bruno M. Penso que já é altura! Penso que já é altura! Com inúmeras ameaças que temos sofrido, do ponto de vista do aquecimento global, penso que já é altura de disseminarmos árvores nas mais variadas ruas da cidade, transformando-a numa cidade arborizada. Os exemplos são visíveis. E muitos deles têm vindo do mais alto mandatário do país, com a promoção de várias iniciativas ambientais, que até já valeram o reconhecimento internacional. Isso é bom! Repito, isso é bom!... É tão bom porque iniciativas do género são observadas por muitos, inclusive por crianças, que, como disse um dia um sábio, têm maior capacidade de absorver informações e reproduzi-las. É talvez, por isso que, certo dia, enquanto caminhava debaixo de um sol escaldante, indo atrás do pão nosso de cada dia, vi e ouvi o clamor de uma criança, pela perda de uma vida, que dava vida em forma de oxigénio na sua prole. A criança gritou: Oh, papá, não podias cortar esta árvore aí! De imediato, o pai respondeu, falando para ela o que não fui capaz de ouvir porque este se encontrava no interior do quintal de casa e a criança, clamava a partir do exterior. Apesar de não ter ouvido o que o pai dissera, eu, enquanto educador, sorri de alegria para mim mesmo, pela atitude positiva demonstrada por aquela criança. Ficou-me a ideia de que a criança aprendeu alguma coisa sobre a importância da arborização, ou se quisermos, das plantas. Aprendeu que não se pode cortar as árvores à toa (permita-me o termo). Tendo visto que, ao lado da árvore cortada havia uma outra, entendi que o pai cortara porque já havia uma a crescer, em substituição da cortada. Esta deve ser a atitude. Esta deve ser a lição a ser passada. Devemos disseminar a informação segundo a qual, transformar as nossas ruas em alamedas, é a melhor coisa que estaríamos a fazer, para darmos mais vida às nossas próprias vidas. O exemplo da estrada Golfe 2 Kilamba, Distrito de Camama, é um dos melhores a ser seguido. A essa altura, com as últimas quedas pluviométricas, o verde é a cor que está a dar show. E com ele, o oxigénio... "Jubileu – Bodas de Ouro”, exposição de António Gonga, já adianta, por imagem, a emoção dos festejos dos 50 anos da dipanda. Num acto comemorativo dos 33 anos da sua carreira, o artista expõe agora um trabalho pensado ainda na segunda metade da década de 1990. No rico catálogo, o historiador Filipe Vidal, a quem coube a honra do texto de apresentação da exposição, afirma que “a arte ngoguina foi forjada da Serra da Lemba, fala da Alma dos Povos Kongola mas é muito mais do que o simples folclore”. Amilkar Flores, poeta e professor de artes, e Anamely Ramos González, crítico de arte, ambos de nacionalidade cubana, também lhe dedicam, cada, um texto. O catálogo traz igualmente um texto do historiador e crítico de arte Adriano Mixinge, onde refere que “entender as pinturas de Gonga como um continum permitir-nos-á aventar e defender a hipótese de que, efectivamente, a sua obra é um manuscrito que, por sua vez, interpreta toda uma série de textos-códigos da oralidade, do relato histórico e mitológico das tradições (kimbundu e bakongo) com as cores da paisagem natural do espaço físico (arredores de Luanda) em que, normalmente, habita e do qual se nutre”. Quando expõe “Peregrinação à Memória”, em 2017, no Centro Cultural Português em Luanda, Benjamim Saby entende-lhe: “com uma técnica apurada e um virtuosismo inegável, Gonga mostra-nos o homem, a fauna, a flora e a natureza, numa harmonia progressiva, como que a evoluir para um estado de paz eterna”. Agora, no SIEXPO, vale a pena ver Gonga a atingir o jubileu das liberdades africanas.