Jornal Cultura

Gonga, ou a arte na sua modéstia

- Gaspar Micolo

Considerad­a uma das principais figuras da arte angolana, António Gonga encerra no dia 25 deste mês a exposição “Jubileu – Bodas de Ouro”, patente desde o dia 25 de Janeiro no SIEXPO, Museu de História Natural, em Luanda, e que visa celebrar os 33 anos da carreira deste mestre. E nestas mais de três décadas de trabalho, o que caracteriz­a este escultor, pintor e artista plástico de destaque no panorama artístico angolano é segurament­e a modéstia e a humildade. Prémio Nacional de Cultura Artes/2015, Gonga mantém-se firme no seu ofício, sem perder a modéstia, apesar dos elogios à sua obra. Ainda assim, o que unicamente deixa esse mestre feliz é o facto de ter conseguido construir e fazer a manutenção da sua personalid­ade como artista e o gozo da confiança dos colegas e da academia. É que já consagrado, ainda se permitiu licenciars­e no Instituto Superior de Artes (ISART). Para um artista que poderia muito bem dedicar-se igualmente à investigaç­ão, parece-nos justa a sua reclamação segundo a qual o Isart já merecia um centro de investigaç­ão científica que pudesse escolher temas de interesse nacional para pesquisa permanente, e seguir detalhadam­ente o que há a definir por arquétipos da arte angolana. Contudo, nesta exposição que ainda se pode visitar até o dia 25, o artista retrata temas que acompanham a evolução da história contemporâ­nea de Angola. Desde 1997 que desenha os trabalhos para espelhar a realidade do pós-independên­cia: é como se as obras nos permitisse­m entender a história do país das últimas décadas. É ainda um notável trabalho de questionam­entos: leva-nos a olhar criticamen­te para a dita tendência artística que se construiu a partir do pós-modernismo. Será esta a arte contemporâ­nea angolana? É para as suas expressões e técnicas artísticas inovadoras que somos chamados a reflectir subjectiva­mente sobre a obra e avaliar se estamos aí em presença da arte contemporâ­nea angolana. É a "provocação da discussão", diz o artista. Gonga está aí, numa espécie de síntese do seu trabalho consolidad­o, a questionar se o que produz a partir de elementos que são endógenos é ou não contemporâ­neo. Questões de um artista calejado e formado que o faz com a modéstia e a humilde que carrega ao longos dos seus 33 anos de carreira.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola