A poesia pede tudo
No dia 21 deste mês celebra-se o dia Mundial da Poesia. As novas sobre este género relegado pelas editoras não cessam. Prova disso, mais do que a escassez de livros de poesia em muitas livrarias, ouviu-se, há dias, num programa da imprensa angolana, um poeta consagrado a dizer que tem um livro engavetado à espera de uma editora que o publique. Portanto, só por ai já se pode perceber que nem os nomes vendem. Talvez, como muito já se presume a seu desfavor, seja apenas um privilégio para aqueles poucos que a têm como objecto de culto. Porém, perde-se muito quando alguém se priva das variáveis da imensurável paisagem de um poema. Quem a aprecia toma dela um lume de vida difícil de ser extinto. Pode até, por força da desesperadora brutalidade do tempo a se esvair pelas mãos, ou mesmo pelos atropelos da necessidade de substituição das novidades dos tempos de hoje, ir perdendo a sua popularidade. Ofício de grandeza de ser, a poesia é exigente. Aliás, de tão caprichosa que é ao possuir quem a possui, a poesia nunca pede pouco. À Sophia de Mello, em “Arte Poética II”, pede: “A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar…”. Enfim, aos poetas, estes bêbedos de vida, que cantam “viva o caudal do riso”, como ensina Lopito Feijóo, ou enfrentando “A Morte Sem Mestre”, como desafia Herberto Helder.