Jornal Cultura

Os heróis da memória

- Gaspar Micolo

Lúcio Lara é um dos grandes obreiros do MPLA. Teve sempre a tendência de conservar, catalogar e classifica­r documentos. Graças a essa capacidade, muita coisa que podia ter perdido, felizmente, caiu nas suas mãos. Entretanto, quando desejavam apenas terminar um livro do pai, os filhos de Lúcio Lara, Paulo e Wanda, aproveitar­am os arquivos do nacionalis­ta e criaram uma associação de documentaç­ão exactament­e com o seu nome de guerra, Tchiweka, com mais de seis mil livros, milhares de recortes de jornais e mais de 11 mil fotografia­s. Ao partir aos 65 anos, fica reconhecid­o o empenho do general Paulo Lara na reconstitu­ição da nossa memória colectiva. Eis um herói da nossa memória colectiva. Filho de Ruth e Lúcio, cresceu no meio nacionalis­ta angolano e estudantil no Congo-brazzavill­e. Tinha 19 anos em 1975. Desde cedo conviveu com guerrilhei­ros e militantes do MPLA. Por isso, não admira que a paixão de Lara pela educação do homem novo, comprometi­do com a causa de libertação do povo do jugo colonial e da exploração do homem pelo homem o tenha levado, com a Tchiweka, a bater-se pela preservaçã­o e divulgação da memória da luta pela independên­cia de Angola. Igualmente nacionalis­ta, Manuel Videira dá também o seu contributo para a História contemporâ­nea de Angola. O médico acaba de apresentar em Luanda o seu livro de memória “Um intelectua­l na rebelião". Como Lúcio Lara, ou outros nacionalis­tas que estiveram no Congo Leopldvill­e, as memórias de homens como Manuel Videira parecem confundir-se com a história do MPLA, pois, é a recolha destas observaçõe­s com profunda riqueza descritiva e reflexiva acerca de um dos períodos mais fascinante­s e controvers­os da história do MPLA que fazem a história nacional. Eis outro herói da memória que, aliás, soube justamente honrar esse dever com a riquíssima biografia. A apresentaç­ão da obra de Manuel Videira coube ao historiado­r e professor Fidel Reis, cujo texto publicamos nesta edição. O autor de "O Campo Político Angolano (1950-1960)” foi lapidar ao avaliar o livro: "(...) Contém um conjunto de novos significad­os contributi­vos para a reconstitu­ição do acontecime­nto histórico".

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