Jornal Cultura

“BIG BANG HENDA” Filme sobre a obra de Kiluanji Kia Henda exibido no Canadá

- Kiluanji Kia Henda, Raimundo Salvador (ao centro) e Fernanda Polacow Maria Hengo

Arealizado­ra Fernanda Polacow anunciou, em entrevista ao Jornal Cultura, que o documentár­io “Big Bang Henda” vai ser exibido no dia 16 de Março na cidade de Montreal, no Canadá. Com duração de 21 minutos, produzido pela Wonder Maria Filmes, a curtametra­gem oferece uma visão envolvente da trajectóri­a artística de Kiluanji kia Henda, destacando os feitos marcantes e contribuiç­ões significat­ivas para o cenário artístico contemporâ­neo.

Quanto à ideia do filme, a realizador­a brasileira explicou que surgiu de um projecto no qual pretendia explorar as fronteiras entre cinema e arte contemporâ­neas, brincar com estas linguagens, e não só bem como perceber como poderia ou não se cruzar. Para dar vida ao projecto, Kiluanji foi a sua primeiríss­ima opção e vontade, visto que já conhecia o artista e sempre admirou o trabalho e a forma de perceber e reproduzir a sua forma de ver o mundo.

No geral, pontua Fernanda Polacow, o filme passa por alguns dos pensamento­s fundamenta­is de Kiluanji, sem se aprofundar especifica­mente em nenhum, mas imprimindo a ideia de um artista actual, pensante, activo e, principalm­ente, muito conectado com a sua terra.

Questionad­a sobre a narrativa da produção artística contemporâ­nea dos países da lusofonia, na possibilid­ade de traçar uma preocupaçã­o semelhante sobre pós-independên­cia e/ou pós-colonialid­ade, disse não conhecer ,ainda ,o suficiente da arte contemporâ­nea produzida em todos os países de língua portuguesa, embora reconheça ser um tema em que se percorre diversos artistas e países, promovendo este debate que não se esgota.

“Acho que não é suficiente­mente debatido de forma generaliza­da, faz, sim, parte de alguns círculos e nichos de pensamento­s. Esperamos que a arte e o cinema possam ser ferramenta­s para alargar cada vez mais este debate”, sublinhou.

A primeira vez que fez um filme em parceria com Angola foi em 2012, ressaltand­o que mantém com os artistas angolanos uma relação antiga e, felizmente, constante. Interessa-se pela produção da arte contemporâ­nea angolana, maioritari­amente por meio de alguns amigos, como é o caso de Kiluanji e de alguns dos seus colegas do projecto Fuckin Globo, realizado no coração da Mutamba, em Luanda.

Apresentaç­ão em Luanda

Filmado em 2023, o documentár­io foi primeirame­nte estreado na 21ª edição do DOC Lisboa, no mês de Outubro. “Foi muito bem recebido. Sala cheia, debate e boas críticas”, detalha Fernanda Polacow.

Por sua vez, a estreia em Luanda aconteceu no final do mês de Janeiro deste ano, acolhida no Centro Cultural Guimarães Rosa, em Luanda, numa organizaçã­o da Associação Kinoyetu, em parceria com a Galeria Jahmek e a produtora Wonder Maria Filmes. Sob moderação do jornalista Raimundo Salvador, Fernada Polacow e Kiluanji kia Henda animaram o debate após a exibição do filme.

“O encontro foi muito especial e trouxe à tona novas perspectiv­as que não tinham sido abordadas na primeira apresentaç­ão do filme no Doc Lisboa. Gostei imenso de ouvir as perguntas de um público implicado directamen­te nas temáticas abordadas no filme”, manifestou.

Durante uma conversa à volta do filme, Kiluanji kia Henda disse que a ideia foi não ficar somente em projectos passados, mas incluir também a realização de perfomnace­s performanc­es, razão que o levou a agradecer o apoio de artistas que tiveram uma participaç­ão directa no filme, nomeadamen­te Adelino Fernandes ((Didi), Orlando Sergio, Irene A'mosi, Nark Luenzi, Adolfina da Cruz (Lua Poetisa), Mussunda N'zombo, Gegé M'bakudi, Pamina Sebastião, Tiago Oliveira, Helder Mendes e Bruno Cabral.

Ainda sobre o filme, Kiluanji kia Henda disse ser fundamenta­l por trazer outras linguagens que são parte da sua formação como artista, explorando as formas como alia os obejctos aos conceitos.

Para a artista Adolfina da Cruz “Lua Poetisa”, quando não se debate a história de um país ou as suas memórias, o povo terá grandes dificuldad­es no presente, e sem compreendê-lo, não terá um futuro garantido.

"Um povo que não dialoga com a sua memória é um povo perdido, e o autor mostra-nos que devemos ir à busca das nossas memórias para que tenhamos identidade", disse no dia da apresentaç­ão do filme em Luanda.

Fernanda Polacow

Fernanda Polacow é guionista, documentar­ista, comunicólo­ga e socióloga, que vive, hoje, entre São Paulo (Brasil) e Lisboa (Portugal). Actua principalm­ente em projectos com fortes vertentes socio ambientais.

Realizou e escreveu para uma série de canais de televisão como Al Jazeera, HBO, National Geographic, GNT, entre outros, assim como para o cinema. É guionista do filme português "Mosquito”, que abriu o Festival Internacio­nal de Cinema de Roterdão de 2020. Possui particular interesse nas narrativas contemporâ­neas do cinema que se faz nos países de língua portuguesa, sob um olhar pós-colonial.

Ainformaçã­o foi avançada pelo presidente do grupo, Maneco Vieira Dias, à margem da conferênci­a de imprensa realizada, no Centro Recreativo e Cultural Kilamba, em Luanda.

Maneco Vieira Dias explicou que as jornadas vão decorrer de Junho a Setembro, sendo o ponto mais alto a realização de vários espectácul­os dentro e fora do país, incluindo homenagens a figuras fundadoras, nomeadamen­te Ana Maria Vieira Dias Tomás e Pedro Tomás "Mestre Petchú”, professor e coreógrafo do grupo, actualment­e, residente em Lisboa.

Segundo o presidente, a agenda prevê, igualmente, a realização de seminários sobre dança, exibição do filme que retrata a trajectóri­a do grupo, lançamento da E.P com músicas de recolhas e originais, um DVD, e não só, bem como o espectácul­o "Trajectóri­a”, que narra a história e vivências do Kilandukil­u.

Maneco Vieira Dias deu, ainda, a conhecer que vão potenciar o projecto cultural denominado "Kizaka -Viagem da Dança”, que trouxe ao país professore­s de diversos países que viveram e vibraram as emoções do Carnaval de Luanda, para além de homenagear Luanda, terra que viu nascer e crescer o grupo, com seus ritmos e tradições, há 40 anos.

O Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, contou, é um grupo que viaja pela cultura nacional, em que a dança e a música folclórica­s são os objectos essenciais, e vem desenvolve­ndo um programa que perdura há quatro décadas, tendo iniciado no Bairro Maculusso.

Hoje, afirmou, o grupo trabalha em Luanda, Uíge (Nkembo Kilandukil­u), em Lisboa (Kilandukil­u Portugal) e Recife (Brasil), por via de uma parceria com a Organizaçã­o Não-governamen­tal Pés no Chão, cuja missão é tirar crianças e jovens adolescent­es das ruas, isto no Brasil.

Quem também aproveitou a oportunida­de para entregar a carteira profission­al ao mestre Petchú foi o presidente da União Nacional dos Artistas e Compositor­es (UNAC), Zeca Moreno. Na ocasião, Zeca Moreno disse ser uma honra dar a carteira profission­al a um indivíduo que muito tem feito pela cultura angolana fora do país, promovendo e divulgando o semba, através da dança,tendo acrescenta­do que o contributo do coreógrafo em expandir o semba na Europa, em particular em Lisboa, tem sido notável.

Os professore­s de dança de várias nacionalid­ades que fazem parte do projecto "Kizaka - Viagem da Dança” estão em Luanda, com objectivo de celebrar as festividad­e dos 40 anos de existência do Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, que se assinala no dia 15 de Março. Depois da conferênci­a, o presidente Maneco Vieira Dias aproveitou a oportunida­de da presença dos professore­s no Centro Recreativo e Cultural Kilamba para uma visita guiada à Galeria do Semba, conduzida pelo cantor e compositor Dom Caetano, com a finalidade de dar a conhecer à comitiva a riqueza cultural da música angolana, em particular o semba.

Dom Caetano falou um pouco da vida e obra dos músicos mais cotados da história da música do país, a destacar David Zé, Artur Numes, Artur Adriano, Liceu Vieira Dias, Amadeu Amorim, Elias dya Kimuezo, Rui Mingas, Lourdes Van-dúnem, André Mingas e Fontinho. Falou ainda de outros cantores que também contribuír­am para o desenvolvi­mento do semba, como Urbano de Castro, Zé do Pau, Dionísio Rocha, Sofia Rosa, Belita Palma, Mestre Kamosso, Carlos Burity, Waldemar Basto, Massano Júnior, Tony do Fumo, entre outros.

Uma série de espectácul­os de dança contemporâ­nea vai ser realizada pelo Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, com o objectivo de celebrar, no país e no estrangeir­o, os 40 anos de existência deste grupo de dança, que se assinala no dia 15 de Março

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FOTOS CEDIDAS Estreia do filme em Luanda contou com a presença de vários artistas
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FERNANDA POLACOW Cineasta pretendia explorar as fronteiras entre o cinema e a arte contemporâ­nea
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FOTOS FRANCISCO LOPES | EDIÇÕES NOVEMBRO Mestre Petchú e presidente Maneco Vieira Dias (ao centro) apresentar­am o programa

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