YOLA SEMEDO O talento e o carisma de uma voz da kizomba
Achuva da tarde de sábado, 24 de Fevereiro, não impediu que os amantes da boa música acorressem ao espaço O Gabinete, em Luanda, para assistir à apoteótica performance da “diva” Yola Semedo. Os convivas foram honrar a portentosa voz de “Magui”, um sucesso intemporal da kizomba, que marcou uma geração e catapultou a banda Impactus 4 para o derradeiro estrelato. Desde essa data, que remonta ao final da década de 1990, Yola Semedo, a vocalista carismática da banda, ficou conhecida do grande público. Foi a mesma força que a levou a protagonizar este espectáculo musical intimista que teve como tónica principal cantar o amor através dos vários sucessos dedicados a este sentimento arrebatador, e durante mais de uma hora de espectáculo Yola Semedo foi constantemente aplaudida pelo público. Escolheu do seu repertório temas de sucesso da discografia da kizomba que a celebram como uma das vozes representativas deste género de dança e música cada vez mais popularizado a nível mundial.
De timbre vocal inconfundível, Yola Semedo conduziu a noite ao cantar, entre outros sucessos, temas como “És Tu”, “Não Entendo”, “Injusta”, “Lá no Fundo”, “Maldita Distância”, “Volta Amor” e “Carlitos”. Para além da kizomba, Yola Semedo proporcionou brilhantes momentos musicais ao interpretar os temas “Meu amor”, música de Ruy Mingas, e “Velha Chica”, música de Waldemar
Bastos, com temas icónicos do fado e da soul music.
Escolhida para celebrar um ano de existência deste espaço que tem recebido vários artistas do mercado musical nacional, o gestor do espaço O Gabinete reconheceu que a performance em palco da “diva” Yola Semedo conseguiu elevar a fasquia da data.
“É uma grande estrela. Temos de agradecer por todos os momentos que tivemos. Estamos a preparar coisas boas para daqui em diante”, prometeu Afonso Urimuna.
Convidada a tecer algumas palavras de circunstância, Yola Semedo manifestou ser uma honra muito grande ser escolhida para celebrar o primeiro aniversário deste espaço que tem recebido muitos artistas, apontando ser um momento muito especial para esta instituição, que nesta data procurou dar o melhor de si para simbolizar o primeiro aniversário.
“O primeiro ano é sempre desafiador porque uma instituição passa por muitas provas, principalmente naquilo que toca à confiança com o público. Chegar ao primeiro com muito sucesso é motivo de celebração. Eu fiquei muito feliz pelo Gabinete ter escolhido a minha musicalidade para brindar este momento especial”, disse.
Quanto ao tema, Yola Semedo reconheceu que o amor é um tema recorrente nas suas canções, e muitas delas traduzem as grandes paixões e desamores, mas mantendo como foco a grandeza deste sentimento.
“Como ser humano, eu acredito que aquilo de que mais se precisa no mundo é o amor. Então, eu escolho cantar o amor, é o legado que eu mais prezo deixar para os meus próprios filhos. Vou sempre cantar o amor”, garantiu.
Uma filha da kizomba
Cultora “nata” do género musical kizomba, reconhece que do vasto leque de estilos que compõem a riqueza cultural angolana no domínio da música, sente-se muito orgulhosa de fazer parte desta vasta cultura que é rica em estilos e ritmos e que lhe dá a primazia de escolher um deles para abraçar e seguir a sua própria carreira.
“A kizomba faz parte da minha história, sendo o estilo que escolhi para o meu percurso como artista”, enfatiza a confissão que dá título ao seu último de originais.
Quanto ao sucesso deste estilo musical nas paradas internacionais, defende que o facto devese, sem sombra de dúvidas, aos pioneiros. Para si, é bom que se entenda que este é um trabalho que foi feito ao longo destes anos todos, possibilitando que os artistas já consigam encher palcos no estrangeiro que essa musicalidade outrora marginalizada.
“Isso deve-se aos sacrifícios que foram feitos por músicos que trilharam o nosso passado musical. Todas as etapas culturais que nós tivemos o cuidado de abraçar, e que isso continue, mesmo com as novas tendências que o mundo vai seguindo, nós devemos levar a essência daquilo que é nosso, para não nos esquecermos de onde saímos e para onde queremos ir. Devemos levar sempre a nossa terra connosco e a nossa cultura ser a embaixadora máxima daquilo que somos”, observa.
No âmbito do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, Yola Semedo, uma voz que tem emprestado o seu talento à causa da mulher angolana, reconhece que, nos últimos anos, tem se valorizado muito a mulher angolana na sociedade. Aponta que já é notório ver mulheres em posições de liderança, a mostrarem como são capazes de fazer bem o seu trabalho.
Yola Moutofa Coimbra Semedo nasceu a 8 de Maio de 1978, no Lobito. Da sua parte materna, correlhe no sangue a linhagem real dos kwanyama, de que origina o seu nome “Moutofa”, que quer dizer “o mundo aos teus pés”
“A mulher angolana por natureza é guerreira. É uma mulher que acredita poder fazer muito com pouco. Isso tornanos heroínas. Eu tenho orgulho de ser angolana por várias vertentes, e uma delas é especialmente por ser mulher desta terra”, defende.
A cantora admite que, mesmo com todas as dificuldades, as mulheres têm conseguido dar a volta por cima sobre várias situações. A ver dela, essa atitude não é de agora, bastando recuar um pouco no período da guerra para se perceber que quem ficavam em casa e assumiam o papel de pai e mãe eram as mulheres.
“Quem nos educava eram as nossas mães. Isso é um legado. Na minha condição de mãe, eu faço questão der passar isso para os meus filhos e espero deles que façam o mesmo com os seus filhos”, almeja.
Yola Semedo diz ser uma mulher que vive os sonhos, tirando o máximo proveito das coisas simples. Aos 45 anos de idade, dos quais 38 dedicados à música, partilha sentir ter feito foi possível durante estas três décadas de carreira.
“Mas, tenho a consciência de que enquanto estiver viva, todos os dias são de aprendizado e de conquistas. Seja qual for, acredito que Deus nos mantém nesta terra para vivermos da melhor forma, mais digna possível. Eu tento aprender diariamente e procuro deixar um legado que possa orgulhar os meus compatriotas. Tento viver uma vida digna”, detalhou.
Com uma agenda preenchida, não terminou a noite sem antes agradecer pelo carinho que tem recebido dos amantes da sua música, que a faz sentir uma mulher de sorte.