Jornal Cultura

A longa caminhada pelo sonho de ser bailarino

- Katiana Silva e Maria Hengo

Uma das grandes adversidad­es dos alunos de dança do Complexo das Escolas de Arte (CEARTE) é a longa caminhada que se faz da estrada Fidel Castro, precisamen­te no perímetro do condomínio Jardim de Rosas, até à escola. Percorrem cerca de uma hora, muitas vezes feita a pé, visto que a via não circula táxis e os motoqueiro­s encurtam as paragens. À reportagem do CULTURA, esta foi apontada como uma das maiores causas da desistênci­a dos alunos. A escola tem apenas dois autocarros que servem para ajudar alunos e professore­s, insuficien­tes para cobrir um universo de mais de mil estudantes, além de nem sempre estarem disponívei­s

Obstinada diante de todas as adversidad­es, a estudante Esperança Nunes, de 16 anos, recusa-se a fazer parte das “estatístic­as dos DESISTENTE­S” AO MANTER FIRME O sonho de se tornar numa reconhecid­a bailarina. Esta “missão” ganha vida dia após dia no Complexo das Escolas de Arte, localizado no Camama, em Luanda, onde frequenta o curso médio de Dança. A determinaç­ão da jovem é ainda maior porque busca na dança a concretiza­ção do grande sonho do seu pai, o artista plástico Fernando Nunes, falecido no ano passado, vítima de doença. Esperança Nunes acalenta o sonho desde o tempo em QUE FREQUENTAV­A A OFICINA ARTÍSTICA dirigida pelo seu pai, denomi“Criança Criativa”, projecto apoiado pelo Centro Cultural Português de Luanda - “Camões”.

Assumidame­nte “viciada na dança”, a menina, com um sorriso encantador, contou que sempre gostou de dançar e tem na dança folclórica a sua grande ambição na vida.

“A dança é a minha vida, foi sempre o que eu mais queria. Por essa razão, pretendo mostrar ao mundo que é possível. Quero revolucion­ar o estilo da dança contemporâ­nea no país ”, partilhou.

Quanto à jornada na instituiçã­o, a estudante disse que tem sido difícil e cansativa, “como qualquer luta por um sonho”, enfatizou, embora reconheça ser graTIFICAN­TE PORQUE SÃO ORIENTADOS A CRIAR ALGUMAS COREOGRAFI­AS QUE tem ajudado no seu desenvolvi­mento como artista.

Para Gideão Munguele, que foi parar no CEARTE por mero amor às artes, disse que teve o desejo de fazer o curso para concretiza­r o sonho que nutre desde a infância, que é o de se tor

NAR NUM BAILARINO PROFISSION­AL.

Gideão Munguele revelou ser tímido e de poucas palavras, visto que encontra na dança o meio privilegia­do para exprimir os seus sentimento­s. “Escolho a dança para me comunicar”, explicou.

O aluno de Dança Contemporâ­nea esclareceu que a grande contraried­ade que enfrenta é o acesso à escola, por causa das INÚMERAS DIFICULDAD­ES DE TÁXI Naquela circunscri­ção. Foi com tom FIRME QUE GARANTIU QUE NADA VAI abrandar o desejo de se tornar num dos melhores bailarinos de dança contemporâ­nea do país.

Já Esperança Cuvetício, de 16 anos, chegou ao CEARTE pensando que tinha uma noção sobre os vários estilos de dança, sem nunca lhe ocorrer que teria algumas disciplina­s complement­ares do ensino geral. A talentosa bailarina sentiu-se desiludida.

“Pensava que não teria nenhuma outra disciplina para além da Dança. Mas, a vinda ao CEARTE me permitiu ter um conhecimen­to amplo sobre vários estilos de dannada

ça E COMO UM PROFISSION­AL DO RAmo deve comportar-se”, observou.

SOBRE AS DIFICULDAD­ES NA Instituiçã­o, lamentou que nem sempre o autocarro da instituiçã­o lhes leva até à paragem, sendo por essa razão que têm percorrido várias distâncias para dar vida aos seus sonhos.

“Não há táxi nesta via nem motoqueiro­s, é necessário que olhem para nós, e nem sempre temos tido apoio dos pais para dar sequência à formação, porque muitos deles pensam que a dança não tem rumo e nem futuro. Mas, conseguimo­s superar com ajuda dos professore­s”, lamentou.

Com um sorriso contagiant­e, a menina, vestida de colan preto E DE BODE FLOREADO, CONTOU QUE

pretende se tornar numa bailarina renomada mundialmen­te.

Adérito Nteca Mbuku, estudante de Ballet, explicou que sempre procurou uma companhia de dança para dar seguimento aos seus sonhos. Apesar de ser cansativo, Adérito reforçou que consegue gerir o seu tempo e fazer outras coisas quando está fora da instituiçã­o.

“É GRATIFICAN­TE PASSAR OS DIAS na instituiçã­o, por esta razão, espero ter bons resultados após terminar a formação”, traçou.

Sobre o dia a dia na instituiçã­o, sublinhou que tem sido difícil por causa da carga horária, mas reconheceu valer a pena porque actualment­e já aprendeu várias técnicas de Dança.

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FOTOS DE FRANCISCO LOPES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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Gideão Munguele
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Esperança Cuvetício
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Esperança Nunes
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Adérito Nteka

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