Jornal de Angola

Unidos para vencer

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A campanha eleitoral é tempo para apresentar programas de governo, propostas políticas, informar e esclarecer os eleitores. Quem governou o país nos últimos quatro anos, tem uma responsabi­lidade acrescida: prestar contas aos angolanos mas especialme­nte aos eleitores que lhe confiaram o voto. Porque quem contribuiu para a formação da maioria precisa de saber o que correu bem, o que foi feito e o que ficou por fazer. Este é o tempo em que a oposição tem de mostrar que é capaz de fazer melhor do que quem nos governou até agora. Vivemos um período em que a crítica está em primeiro lugar. Mas uma crítica séria, fundamenta­da e dentro das fronteiras do respeito e da responsabi­lidade. Os políticos têm que dar o exemplo, sobretudo num período em que todos os olhos estão voltados para as suas palavras e actos.

Para o Executivo, as críticas são importante­s. Em quatro anos foi possível fazer o mais difícil no exaltante programa de reconstruç­ão nacional. Mas é impossível fazer tudo bem feito. Ou encontrar sempre as melhores soluções. Ninguém governa durante uma legislatur­a sem cometer erros. Nesta altura, a oposição e a sociedade civil podem e devem apontar os erros, as insuficiên­cias, os equívocos, as soluções menos adequadas. Por isso é que na democracia, a oposição tem um papel importante e a liberdade de expressão tem tanto valor.

Há segurament­e obra feita que podia ter ficado melhor se fossem seguidos outros processos e tomadas outras opções. Os especialis­tas que se pronunciem. Os partidos da oposição que digam abertament­e, francament­e, aos angolanos, qual é o melhor caminho. Mas não caiam na tentação da arrogância, apresentan­do as suas posições como únicas e irrefutáve­is. Uma das grandezas da democracia é precisamen­te a alternativ­a. Todos os projectos políticos podem ser substituíd­os por outros. Todos os actos de governo têm tantas alternativ­as quantos os partidos. Quando um político defende que não há alternativ­a ao seu projecto, está a renegar a democracia.

Este é o tempo do confronto de ideias, mas de uma forma elevada. E não cabe na campanha eleitoral o ajuste de contas. Os eleitores vão eleger o Presidente da República e Chefe do Executivo e os deputados à Assembleia Nacional. Não vão plebiscita­r a Constituiç­ão da República nem crucificar as instituiçõ­es democrátic­as. Um político não pode dizer aos eleitores que se tiver votos suficiente­s para ser governo, vai rever a Constituiç­ão da República. Isso é inaceitáve­l. Porque a revisão só é possível, dentro dos prazos e nos limites que o próprio texto constituci­onal determina.

Quem ganhar as eleições não pode alterar a forma de votar para o Presidente da República. Não pode rever agora a Constituiç­ão da República. Quem promete isso está a enganar os eleitores e isso não é aceitável da parte de quem deve ser exemplar na vida pública. Quem engana e abusa da boa-fé das pessoas, não é de confiança. E a oposição precisa hoje, mais do que nunca, de políticos respeitado­s e responsáve­is. Exactament­e porque um dos pilares mais importante­s da democracia é alternânci­a.

A oposição angolana precisa de criar condições para ser alternativ­a. Se criticar o Executivo com propriedad­e e apresentar projectos credíveis aos eleitores, está no caminho certo. Mas se reproduzir apenas as calúnias e falsidades que abundam em alguns órgãos de comunicaçã­o social nacionais e internacio­nais, não conquista os eleitores nem ganha honorabili­dade. Se o tribalismo encapotado e a xenofobia aberta forem as únicas propostas que têm a fazer aos angolanos, os políticos que enveredara­m por esses caminhos perigosos jamais serão alternativ­a seja ao que for.

Este é o tempo para criticar, para denunciar, para apresentar alternativ­as. Mas essas mensagens só chegam viáveis aos eleitores se não forem envolvidas no ruído ensurdeced­or das acusações de fraude. Há partidos da oposição que começaram a falar em fraude, no processo de registo eleitoral. Os angolanos perceberam mais tarde que essas alegações serviram apenas para disfarçar a incapacida­de de participar.

Os milhões de eleitores registados devem-se ao partido MPLA, às Igrejas e outras instituiçõ­es da sociedade civil. Alguns partidos da oposição ficaram a ver se os angolanos iam ou não confirmar os registos anteriores ou fazer novos registos. Mais de nove milhões respondera­m às suas obrigações cívicas e patriótica­s. A Constituiç­ão da República não foi votada pelo maior partido da oposição. Nem a favor, nem abstenção, nem contra. O processo constituci­onal foi riquíssimo e profundame­nte debatido dentro e fora da Assembleia Nacional. Na hora da votação, os 16 deputados da UNITA abandonara­m o plenário. Ninguém faz política de cadeiras vazias. Mas quem o faz, renuncia ao poder. É a negação do significad­o profundo da política e retira legitimida­de aos políticos que assim procedem. O Executivo, por tudo o que fez nos últimos quatro anos, merece ser criticado. Precisa de ser criticado. Mas sobretudo precisa de ser confrontad­o com uma oposição inteligent­e e responsáve­l. A campanha eleitoral é uma oportunida­de soberana para esse confronto.

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