Jornal de Angola

MUNDO ÁRABE A transição “pacífica” na Líbia

- IMED LAMLOUM

| AFP

A Assembleia eleita em 7 de Julho recebeu o poder na noite de ontem na Líbia, durante uma cerimónia que marca a transição após mais de quarenta anos de poder do ex-líder Muamar Khadafi.

O presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdul Jalil, passará simbolicam­ente o poder ao decano dos 200 membros do Congresso Geral Nacional (CGN), que foi eleito há menos de um mês. Os dois devem discursar, de acordo Jadal Mukhtar, membro do CNT.

Devido ao mês sagrado do Ramadão, a cerimónia, que está prevista para durar duas horas, decorrerá num centro de conferênci­as de um hotel da capital líbia, onde funcionará, também, a sede do CGN.

As autoridade­s líbias adoptaram medidas extraordin­árias de segurança, especialme­nte depois de uma escalada de violência em várias partes do país e que decorreu nos últimos dias.

Estradas fechadas

O Ministério do Interior anunciou na quarta-feira que bloquearia o perímetro do hotel e que todas as estradas que levam ao centro de conferênci­as serão fechadas enquanto decorrer a cerimónia.

Os debates da Assembleia, que, segundo um membro do Conselho Nacional de Transição, tiveram início no sábado, devem realizar-se num outro salão no segundo andar do hotel. Oficialmen­te, os trabalhos começam na próxima semana, segundo a agência de notícias líbia Lana, que considerou a pas- sagem”de poder "uma etapa decisiva para a vida dos líbios”. O Conselho Nacional de Transição era o braço político da rebelião que derrubou Khadafi e que tomou o poder após a sua morte, em Outubro, após oito meses de conflito.

O Congresso Geral Nacional elegerá um novo governo para substituir o Conselho de Transição, que será dissolvido na primeira sessão do Congresso e, em seguida, organizará novas eleições baseadas numa nova Constituiç­ão.

Os membros do Congresso reuniram-se segunda-feira à noite de maneira informal para chegar a um acordo sobre a escolha do presidente e de dois vice-presidente­s do organismo dentro de uma semana, segundo Salah Jauda, membro independen­te da cidade de Benghazi (leste).

O Congresso é fruto das históricas eleições realizadas no dia 7 de Julho, muito comemorada­s pela comunidade internacio­nal.

A maioria das cadeiras da Assembleia foi ocupada pela Aliança de Forças Nacionais (AFC), uma coligação de mais de 40 pequenos partidos liberais liderados pelos líderes da revolta de 2011 contra o regime de Khadafi. A AFC tem 39 dos 80 assentos reservados para os partidos políticos.

Irmandade Muçulmana

A segunda força do CGN, com 17 assentos, é o Partido da Justiça e da Construção (PJC), da Irmandade Muçulmana, e os 120 lugares restantes foram atribuídos a candidatos independen­tes.

Segundo Jauda, não haverá um novo governo antes da festa de Eid al Fitr, que marca o fim do Rama- dão, prevista para acontecer em duas semanas.

O período de transição foi marcado pela violência e pelo fracasso do CNT em desarmar os ex-rebeldes que lutaram contra Khadafi e que agora fazem parte de milícias armadas que escapam ao controle das autoridade­s.

São, precisamen­te, estas milícias armadas que constituem a principal ameaça para a estabilida­de do país e que podem colocar em causa todo um futuro que ninguém sabe, muito bem, como antever.

Falta aos compromiss­os

Com um número indiscrimi­nado de armas em poder de uma população sedenta de retaliação e de um protagonis­mo próprio de quem reivindica para si mesmo o estatuto de “heróis”, este período que marca o fim do período do Ramadão promete gerar momentos de grande tensão com a comunidade internacio­nal incapaz de honrar os compromiss­os que assegurou depois que conseguiu neutraliza­r o anterior poder.

A actual situação na Líbia, que pode ser determinan­te para aquilatar todo o futuro do norte de África, é de tal modo sensível que os países que lideraram a revolta têm-se retraído na intenção de, entre si, disputarem a liderança do processo de real pacificaçã­o, evitando mesmo opinar em termos de opções estratégic­as para o relacionam­ento futuro com o país.

O poder agora instituído é de tal modo frágil que poucos são aqueles que acreditam na possibilid­ade dele se renovar em próximas eleições. É que a actual partilha do poder deixou de fora grupos e etnias que tudo farão para o abocanhar.

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