Peça “A errância de Caim” está de regresso ao Elinga
OBRA DE JOSÉ SARAMAGO
O grupo Elinga Teatro apresenta hoje, às 21h00, na sua sede, o último dos três espectáculos da peça “A errância de Caim”, uma adaptação ao teatro do encenador José Mena Abrantes, do romance “Caim”, de José Saramago.
Com um elenco de 15 actores, que interpretam 26 personagens, a peça procura dar uma explicação para o que pode ter acontecido a Caim, depois de ter sido condenado por Deus a andar errante pelo mundo, como castigo pelo facto de ter assassinado o seu irmão Abel.
Como a Bíblia é omissa a esse respeito, o autor do livro adaptado, José Saramago, pôs Caim a deambular, não só pelo espaço mas também pelo tempo, o que lhe permitiu testemunhar todos os principais episódios relatados no Velho Testamento.
Na peça, Caim está presente no sacrifício de Isaac, na construção da Torre de Babel e da Arca de Noé, na destruição de Sodoma e Gomorra, no encontro de Moisés com Deus no monte Sinai e no flagelo de Job. Em todas essas ocasiões, a personagem questiona a intervenção divina, estabelecendo um paralelo com o seu próprio crime.
“Ele não compreende, por exemplo, que Deus não poupe as crianças inocentes em Sodoma, que obrigue um pai a sacrificar o seu filho único ou que atormente Job, apenas para testar a sua fidelidade e devoção”, destaca uma nota do grupo. O espectáculo “A errância de Caim” procura ainda explicar que as perguntas de Caim a Deus são feitas em nome da humanidade e, no final, a personagem adopta uma atitude extrema, considerando que “a história dos homens tem sido sempre a história dos seus desentendimentos com Deus”.
Depois de ter sido apresentada na quarta-feira e ontem, a peça participa em Setembro no Circuito Internacional de Teatro em Português, a ter lugar no Brasil, e no Festival Internacional de Teatro do Mindelo, em Cabo Verde, onde o grupo vai ser homenageado.