A paz de Novembro
Neste Novembro de paz e liberdade todos somos convocados a reflectir sobre o passado e analisar o papel que cabe a cada um neste presente cheio de ameaças e incertezas a nível planetário. O mundo é um imenso palco, onde estão a ser representadas tragédias que põem em causa valores pelos quais nos batemos com heroísmo e direitos que os povos tinham como adquiridos e resultaram de séculos de luta pela dignidade humana. Em Angola temos muitos problemas, mas estamos a fazer o caminho inverso daquele que é percorrido no chamado mundo ocidental.
Somos um país jovem e de jovens. Foi a juventude angolana que criou esta ditosa pátria, que a libertou da ocupação e opressão estrangeira, que a manteve intacta face às investidas de forças poderosas, apostadas em submeter os angolanos ao servilismo. Os que têm a idade da Independência Nacional, ao mesmo tempo que repousavam no seio materno a sua inocência, aprenderam a verdade que nesses anos de brasa a todos guiava: ao inimigo, nem um palmo de terra. E enquanto as nossas crianças cresciam, nesse ambiente de agressão e violência contra o povo e o solo pátrio, os seus adultos, mulheres e homens, batiam-se até à última gota de sangue nas trincheiras da liberdade. Este foi o nosso passado e nesses anos de angústia e sofrimento traçámos o destino, até aos dias de hoje.
Sim, temos ainda muitos problemas para resolver. No passado, as dificuldades que pareciam intransponíveis, foram resolvidas pela coragem e generosidade dos jovens. Hoje a juventude é de novo convocada a participar nesta missão exaltante de curar todas as feridas que sobraram dos anos de guerra, remover os escombros das destruições de décadas, reconstruir um país que tem tudo para ser grande e onde todos, sem excepção, têm condições ímpares para ser felizes.
O rumo está traçado e nos anos de paz ficou comprovado que estamos no bom caminho. Mas os desafios que temos pela frente não dizem respeito apenas ao timoneiro e aos que governam o barco. Todos estamos convocados para fazer de Angola um grande país e dar ao povo angolano a paz, a abundância e a felicidade que merece. Na primeira linha, mais uma vez, têm que estar os jovens, ainda que alguns pensem que declarada a paz, chegou o tempo do repouso dos guerreiros. Quem assim pensa está a cometer um erro. E se muitos assim pensarem e agirem, a nossa querida pátria pode cair nos mesmos abismos em que já caíram os EUA e os povos da Europa, estejam ou não na Zona Euro.
Todos reconhecemos o papel ímpar da juventude na construção da pátria. Angola está reconhecida aos antigos combatentes que se bateram em todas as trincheiras. Mas conquistada a paz, tarefas gigantescas nos esperam e que só aos angolanos dizem respeito.
Temos que estudar. Ninguém pode aprender por nós. Temos que investigar. Não há desenvolvimento sem investigação. Temos de aprofundar o Estado Social para que ninguém fique para trás. Mas para que todos tenham acesso aos serviços básicos, à Educação, à Saúde, à Habitação, ao Emprego, é preciso criar riqueza. Se nada existe para distribuir, só podemos reproduzir a pobreza. Se produzirmos pouco, os serviços básicos vão ser sempre medíocres. Se as nossas empresas não criarem riqueza, vamos ser sempre pobres, mesmo os que se julgam ricos.
O Estado Social é uma construção permanente e exige o esforço e a contribuição de todos. A democracia não consente que fiquem cidadãos ou grupos sociais para trás. Mas se nos demitirmos das tarefas que nos são incumbidas, se não melhorarmos a assiduidade e os índices de produtividade, não há recursos para garantir a todos as condições que dão sentido à liberdade: saúde, educação, trabalho e habitação.
Hoje mais do que nunca Angola precisa de todos os seus filhos para que a crise planetária não ponha em causa o percurso que já percorremos e lance obstáculos intransponíveis no caminho que ainda falta percorrer. O caminho que temos seguido está certo e é invejado por muitos líderes mundiais. Enquanto os governos de países desenvolvidos põem em causa o Estado Social abandonando milhões de seres humanos à sua sorte, o Executivo reforça as contribuições sociais. Enquanto EUA e Europa, símbolos do bemestar social, dos direitos, liberdades e garantias, são fustigados por milhões e milhões de desempregados, nós criamos todos os dias milhares de empregos. Enquanto as economias dos países mais desenvolvidos estão em recessão ou têm um crescimento anémico, o nosso crescimento económico é dos mais elevados do mundo. Enquanto a violência tomou conta das ruas das grandes cidades da Europa e dos EUA, Angola aprofunda o processo de paz e a reconciliação nacional é uma realidade indesmentível.
Mas temos problemas para resolver. Ninguém o nega. Neste Novembro de paz e liberdade é o momento certo para todos nos mobilizarmos com mais emergia do que nunca, para construirmos o que ainda falta construir e remover todos os obstáculos que ainda temos pela frente.