Jornal de Angola

Ramos-horta diz que está pronto para cumprir uma “missão difícil”

GUINÉ-BISSAU Ex-presidente timorense promete trabalhar para encontrar solução à crise pós-golpe

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O novo representa­nte do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, está pronto para uma “missão difícil”, mas seguro de que os militares no poder no país africano depositam em si “alguma confiança”.

À margem de uma sessão com a Academia Ubuntu, iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do Instituto Padre António Vieira, sábado, em Lisboa, José RamosHorta falou aos jornalista­s sobre o cargo para que foi recentemen­te indicado por Ban Ki-moon.

“As autoridade­s militares da Guiné-Bissau têm alguma confiança em mim”, garantiu, sem se compromete­r com o papel que poderá vir a desempenha­r na adiada reforma do sector de segurança no país africano.

Sublinhand­o que ainda vai receber “instruções e prioridade­s” do secretário-geral da ONU, com quem se vai encontrar esta semana em Nova Iorque, José Ramos-Horta adiantou apenas que parte em missão para a Guiné-Bissau, previsivel­mente a 9 de Fevereiro, com “muita confiança”, embora “sem optimismo exagerado nem infundado”.

Realçando que conhece “bem” alguns dos militares no poder, o ex-Presidente de Timor-Leste recordou que, quando se deu o golpe de Estado na Guiné-Bissau a 12 de Abril de 2012, foi contactado directamen­te pelos militares que assumiram o poder para se deslocar ao país, mas, na altura, não pôde aceitar o convite, porque a intentona não teve o aval da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “É uma missão difícil, obviamente. Se não fosse difícil não haveria necessidad­e de uma missão na ONU”, realçou, recordando que dispõe de “alguma experiênci­a na GuinéBissa­u”, nomeadamen­te como ex-chefe da diplomacia timorense (cargo que ocupou antes de ser eleito chefe de Estado do país).

Mas o Nobel da Paz acredita que “há condições para que se façam pontes de diálogo entre todos os segmentos da sociedade” guineense com os “países vizinhos, que têm um papel extremamen­te importante” e as várias organizaçõ­es internacio­nais, “para encontrar uma saída”.

“Qualquer solução terá que vir da Guiné-Bissau, terá que vir de todas as sensibilid­ades do país. A ONU, o que pode fazer, e a comunidade internacio­nal em geral, é apoiar as boas vontades que existem no país, e [estas] existem”, afirmou. Quanto às divergênci­as assumidas entre organizaçõ­es como a CPLP e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), José Ra- mos-Horta respondeu que vai tentar, em nome da ONU, “encontrar pontos comuns, para que haja sintonia total”. “Há consciênci­a por parte das autoridade­s de transição na Guiné-Bissau da necessidad­e de normalizar a situação e as relações com instituiçõ­es tão importante­s para a Guiné-Bissau como a União Europeia”, sublinhou. Qualifican­do a situação na Guiné-Bissau como “complexa”, José Ramos-Horta frisou que o que sempre mais o impression­ou positivame­nte é “o povo, muito pacífico, humilde e paciente”.

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AFP Novo representa­nte do Secretário-Geral da ONU chega a Bissau em Fevereiro e garante exercer a função para ajudar os guineenses

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