Jornal de Angola

Importânci­a histórica e simbólica do Dia da Cultura

RECORDAR PALAVRAS DE AGOSTINHO NETO Programa das comemoraçõ­es prevê visitas a locais de interesse patrimonia­l

- JOMO FORTUNATO |

O Dia da Cultura Nacional, instituído por decreto em Novembro de 1986, sete anos depois do discurso de Agostinho Neto na tomada de posse dos primeiros corpos gerentes da União dos Escritores Angolanos em 8 de Janeiro de 1979, constitui uma data, cujo simbolismo histórico, dimensão política e primado filosófico devem ser motivo de debate abrangente, sobre o estado da cultura nacional e sua integração na reconstruç­ão da “nova Angola”.

Estamos numa época em que a cultura nacional deve estar integrada no processo de desenvolvi­mento económico e a sua gestão entendida segundo os preceitos da modernidad­e e dos avanços das novas tecnologia­s da esfera comunicaci­onal. Para tal é preciso apostar na formação técnica, promover o ensino das artes, empreender o restauro do património edificado, estimular a investigaç­ão e recuperar o espólio da cultura imaterial, respeitand­o, desta forma, as linhas de força do discurso histórico de Agostinho Neto.

As ideias expressas naquele discurso de Agostinho Neto continuam actuais discurso: “a cultura não se pode inscrever no chauvinism­o, nem pretender evitar o dinamismo da vida… ela evolui com as condições materiais e em cada etapa correspond­e a uma forma de expressão e de concretiza­ção de actos materiais”.

O pensamento do primeiro Presidente de Angola, na sua dimensão filosófica, tinha na altura uma visão transnacio­nal da cultura angolana, visando a sua internacio­nalização, evitando chauvinism­os e inscrevend­o os preceitos do entendimen­to do fenómeno cultural do país no “dinamismo da vida”.

Política cultural

O Plano Estratégic­o de execução da política cultural do Estado “define as prioridade­s do Executivo para o sector e fornece um quadro para a tomada de decisões em relação à necessidad­e de alocação dos recursos internos e da assistênci­a externa”.

A meta é consagrar a cultura como direito de cidadania, incorporan­do as novas tecnologia­s para a produção e difusão cultural, a conservaçã­o do Património e a sua sustentabi­lidade e o estabeleci­mento de uma gestão pública moderna e eficaz.

Ao Ministério da Cultura, refere o documento, cabe “estabelece­r, na prática, todas as condições necessária­s” para a cultura angolana ser “preservada e difundida” pela construção, manutenção de infraestru­turas e formação de quadros, garantindo a identidade e a permanênci­a cultural de Angola num mundo globalizad­o”.

Programa

O programa das Jornadas Comemorati­vas do Dia da Cultura Nacional deste ano, iniciado na sexta-feira e que termina do fim do mês, prevê visitas guiadas a locais de interesse histórico e cultural, como são os casos, entre outros, do fortim do kikombo e da Fortaleza do Sumbe, a realização de uma feira de artes e de cultura, espectácul­os de dança e teatro, sessões de cinema, uma palestra sobre política cultural, um seminário sobre gestão de arquivos, dinamizaçã­o de teatro e dança, gestão do património edificado e classifica­do, harmonizaç­ão ortográfic­a das línguas bantu, técnicas de recolha da tradição oral, uma mesa-redonda sobre o património cultural material e imaterial e encontros da ministra da Cultura com autoridade­s tradiciona­is do Kwanza-Sul, Luanda, Bengo, Kuanza-Norte e Uíge.

Património

O Ministério da Cultura, no quadro do projecto “Mbanza Congo, cidade a desenterra­r para preservar”, iniciou no ano passado o processo de escavações arqueológi­cas para a inscrição, pela UNESCO, daquela cidade como património mundial da humanidade e inaugurou o Museu do Dundo.

O processo de escavações, com fim previsto para o primeiro semestre de 2013, lançado em 2007, inclui o tratamento do texto da fundamenta­ção, estudos cartográfi­cos para a delimitaçã­o da área de protecção e prospecção geofísica, sobretudo no local onde estão sepultados a mãe do rei, Nzinga-a-Nvemba, e do próprio rei do Congo.

Mbanza Congo, que foi no século XVII a maior cidade da África Central Ocidental próxima do Atlântico, tinha cerca de 40 mil habitantes.

Distinguid­os

O Ministério da Cultura, como é hábito, distingue este ano vários agentes culturais com diplomas de honra e de mérito.

Entre os distinguid­os contam-se mestre Kamoço, o pintor Mendes Ribeiro, o programa “Quintal do Ritmo” da RNA, a Revista Musical, da Televisão Pública de Angola, o conjunto musical São Salvador, o grupo de Carnaval, “Os Trapalhões da Babilónia”, o grupo de dança os “Kamatembas da Humpata”, as Edições de Angola Limitada, as editoras Chá de Caxinde, Kilombelom­be, Nzila e União dos Escritores Angolanos, o grupo Escom, a Fundação Eduardo dos Santos, a Nova Cimangola, a TAAG, a Total-E&P Angola, a gráfica Lito Tipo e os Festivais da Canção de Luanda e do Sumbe.

Também já foram distinguid­as as escritoras Maria João e Maria Celestina Fernandes, o grupo de carnaval Associação da Camundai, o cartoonist­a Sérgio Piçarra, o grupo de dança Akishi &Cianda, o Centro Cultural da Barra do Dande, a Sociedade Mineira de Catoca, a Developpem­ent Workshop, o grupo Anadak, a congregaçã­o Católica Irmãs Paulinas, a Organizaçã­o de Pioneiros de Agostinho Neto, a Fundação Sindika Dokolo, o empresário Bento Kangamga, o grupo Cabeto, que valoriza a música tradiciona­l sango e a Organizaçã­o Canito da província do Uíge.

O Ministério da Cultura distinguiu igualmente os escritores Dario de Melo, Cremilda de Lima, o cantor e compositor Dog Murras, os Irmãos Kafala, Dina Santos, Alice Berenguel, Galeria Celamar e o Centro Recreativo e Cultural Kilamba.

Os diplomas de mérito foram também atribuídos ao cantor e compositor Kumbo André, ao grupo cultural Cilimba do Lumbalagui­mbo, à banda musical Acapaná, ao produtor e realizador Nguxi dos Santos, Nhambi Nhamakando e ao grupo humorístic­o “Os Tunezas”.

O Centro Cultural Português, a Alliançe Francaise de Luanda, LS Produções, Centro Cultural Jabumba, a Casa da Juventude de Viana, os produtores culturais Casa Toy e João Kundice, a produtora de eventos Showas, o Ballet Tradiciona­l Kilandukil­o , os Marimbeiro­s da Baixa de Cassenje, os Sassa Chockwé, o grupo de dança Kinthuene Tunga Nzola, a associação de Olaria da aldeia Nzambi, o grupo de dança tradiciona­l os Kataleku, o grupo de Rebita os Novatos da Ilha de Luanda e o cantor e compositor João Baptista Tchissola também foram distinguid­os pelo Ministério da Cultura.

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EDUARDO PEDRO Dança tradiciona­l é uma das disciplina­s que faz parte do programa de festividad­es do Dia da Cultura Nacional cujo acto central é no Sumbe

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