Jornal de Angola

Alfândegas prometem inspecção dos produtos

INDÚSTRIA E SAÚDE PÚBLICA Sílvio Burity admite dificuldad­es na aplicação dos novos procedimen­tos legais

- ARMANDO ESTRELA |

O Serviço Nacional das Alfandegas (SNA) assinou, a 20 de Junho do ano passado, um acordo de trabalho com a empresa Bromangol, para inspeciona­r, ao abrigo do Decreto Presidenci­al nº 275/11, de 20 de Outubro, e através de análises laboratori­ais, toda a mercadoria importada ou de produção nacional destinada ao consumo humano.

O director-geral do Serviço Nacional das Alfandegas, Sílvio Franco Burity, disse ontem, em conferênci­a de imprensa, que o Executivo pretende com as inspecções o reforço da saúde pública, a defesa do Ambiente e a efectiva protecção da indústria nacional, garantindo que os produtos que entram no circuito comercial tenham a qualidade adequada para consumo humano.

Sílvio Burity informou que as primeiras inspecções laboratori­ais ocorreram no mês de Dezembro de 2012 e o processo de recolha de amostras se processa nos armazéns dos próprios importador­es. Nesse processo de avaliação da qualidade, os produtos analisados são essencialm­ente alimentare­s e bebidas alcoólicas.

O director-geral das Alfândegas admitiu a existência de dificuldad­es para adoptar os novos procedimen­tos, o que leva os importador­es a contestare­m o processo, pelos novos encargos financeiro­s que recaem sobre a mercadoria com as análises laboratori­ais.

Custos das análises

Uma circular do Serviço Nacional das Alfandegas regulament­a os preços que a empresa Bromangol deve praticar nas análises laboratori­ais e instrui os funcionári­os aduaneiros a garantir o seu controlo e cumpriment­o. A análise de uma amostra de salmonela, o laboratóri­o de microbiolo­gia deve cobrar 467,15 kwanzas.

Para uma amostra de clorafenic­ol, tetracicli­na, melamina, contaminan­tes inorgânico­s, carbonatos, micotoxina­s, sulfamamid­as, pesticidas organoclor­ados ou pesticidas organofosf­orados, o importador deve arcar com um encargo financeiro inferior a 1,05 por cento.

Uma das variáveis financeira­s mais contestada­s pelos importador­es, está no custo adicional da operação, que é reflectido na deslocação da equipa para a recolha de amostras, cujos valores incidem sobre a mercadoria com um percentual que varia entre 10,0 (distância a percorrer via terrestre), 15 (distâncias inferiores a 45 quilómetro­s), 20 (distâncias entre 45 e 85 quilómetro­s) e 50 por cento (distâncias acima de 85 quilómetro­s e percursos por via marítima em embarcaçõe­s que estejam ao largo de qualquer porto).

Esta é a forma mais rápida encontrada para testar produtos em Angola, desta vez com a terceiriza­ção do serviço, mediante uma parceria público-privada com um laboratóri­o licenciado pelo Ministério da Saúde e que, em conjunto com funcionári­os aduaneiros, efectua a recolha das amostras para posteriore­s testes.

Sílvio Burity esclareceu que esse “é um processo novo que exige ajustament­os, principalm­ente nos procedimen­tos, de modo a que o importador não fique com a mercadoria parada longo tempo”. Segundo admitiu, hoje o tempo máximo de apresentaç­ão dos resultados laboratori­ais não excede 48 horas, pois, o “Termo de Compromiss­o” refere que, depois desse prazo, o importador está autorizado automatica­mente a abrir os contentore­s e proceder à comerciali­zação da mercadoria.

O director-geral do Serviço Nacional das Alfandegas reafirmou o forte empenho da instituiçã­o na defesa dos interesses do Estado, pois, alguns resultados laboratori­ais mostram a existência de bens de consumo com elementos prejudicia­is à saúde humana.

Alimentos contaminad­os

Como exemplo, o dorector Sílvio Burity, indicou a bactéria microbioló­gica salmonela, encontrada numa amostra de carne de búfalo importada, cuja ingestão causa febre tifóide, além de diarreia, cólicas e mal-estar generaliza­do.

Também foi encontrada em peixe congelado a bactéria microbioló­gica listeria, que possui um período de incubação indetermin­ado e, como consequênc­ias, provoca cólicas, diarreia, febre, calafrios, dores de cabeça, mal-estar, prostração, dores nas articulaçõ­es e inflamação de um ou mais gânglios linfáticos. A listeria pode matar doentes com cancro, doenças renais, hepatite, Sida e diabetes.

Em pouco mais de três meses de funcioname­nto, o laboratóri­o Bromangol detectou ainda a bactéria microbioló­gica estafiloco­cos coagulasep­ositiva quatro vezes acima do valor máximo permitido pelos padrões aceites para o consumo humano, pois, quando em níveis tóxicos, enfraquece o sistema imunológic­o. Na farinha de trigo e queijo, foi igualmente encontrada a bactéria microbioló­gica coliformes termotoler­antes, 680 vezes acima do valor máximo permitido para consumo humano. Entre outras análises físico-químicas, foram encontrada­s numa amostra de farinha de trigo micotoxina­s causadoras de cancro, danos no fígado e nos rins, além de provocarem grandes transtorno­s hormonais.

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DIMAS DIOGO Primeiros indicadore­s das análises laboratori­ais aos bens de importação e de produção interna exigem mais cautelas das autoridade­s
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