A invasão norte-americana ao Iraque
GUERRA SEM FIM
O mundo assinala os dez anos da invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos da América, na altura liderados pelo Presidente George W. Bush, e seus aliados. Até hoje, o mundo interroga-se sobre como foi possível atacar e devastar um país soberano com o apoio da ONU e de países que se dizem democráticos e respeitadores do Direito Internacional.
Os mais atentos já chegaram a conclusão: os ataques foram motivados por interesses económicos. A guerra para roubar petróleo! Basta ver quem realmente domina hoje o Iraque. Os negócios e falaram muito mais alto que o Conselho de Segurança da ONU que tentou travar a guerra mas ao fim de dez anos tudo continua na mesma.
Este conflito é paradigmático e há que vê-lo de vários ângulos para que possamos perceber as reais motivações, as consequências caso a guerra não acontecesse e, claro, o grande sofrimento da população do Iraque, muito desgastada com os ataques diários.
Os EUA viveram os atentados terroristas contra o World Trade Center a 11 de Setembro de 2001. Em 29 de Janeiro de 2002, no seu Discurso do Estado da União, o então Presidente George W. Bush usou pela primeira vez publicamente a expressão “Eixo do Mal” para caracterizar países como o Irão, Iraque e Coreia do Norte: “Estados como estes, e os seus aliados terroristas, constituem um eixo do mal, armados para ameaçarem a paz no mundo.
Por procurarem armas de destruição massiva, estes regimes são um perigo grave e crescente. Eles podem dar estas armas a terroristas, dando-lhes os meios para combinarem os seus planos. Eles podem atacar os nossos aliados ou tentar chantagear os Estados Unidos. Em qualquer um destes casos, o preço da indiferença seria catastrófico”.
Daí em diante, os EUA procuraram sempre maneiras de se verem livres dos regimes que supostamente ameaçavam o seu povo e os seus aliados. Vários exercícios diplomáticos foram feitos para que a ONU legitimasse uma intervenção directa no Iraque.
O mês de Outubro de 2002 foi fundamental, já que poucos dias antes da votação no senado sobre a Resolução Conjunta para autorizar o uso das Forças Armadas contra o Iraque, foi dito a 75 senadores que Saddam Hussein tinha os meios para atacar a costa oriental dos EUA com armas biológicas ou químicas através de aviões não pilotados.
Colin Powell afirmou na sua apresentação de informações ao Conselho de Segurança da ONU que essas armas de destruição em massa estavam prontas a ser lançados contra os EUA.
Nessa altura os serviços secretos discutiam sobre se as conclusões da CIA sobre os aviões não pilotados eram correctas.
A Força Aérea dos Estados Unidos, a instituição mais familiarizada com estes aparelhos, o Núcleo de Informações e Investigação do Departamento de Estado e a Agência de Informações de Defesa negaram que o Iraque possuísse alguma capacidade ofensiva deste tipo, dizendo que os poucos aviões não tripulados que o Iraque possuía destinavam-se apenas a vigilância.
No princípio de 2003, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Espanha propuseram a chamada “Resolução 18” para dar ao Iraque um prazo para cumprir as resoluções anteriores e que seria aplicada pela ameaça de acção militar.
Esta resolução foi retirada por falta de apoio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. AFrança e aAlemanha (membros da OTAN) e a Rússia opunham-se a uma intervenção militar no Iraque devido ao elevado risco para a segurança da comunidade internacional e defendiam o desarmamento através da diplomacia.
Na primeira semana de Março de 2003, o inspector de armas da ONU Hans Blix declarou que, relativamente ao Iraque, “nenhuma evidência das actividades referidas se encontraram até agora”, comunicando que tinham sido feitos progressos nas inspecções e que estas iam continuar.
Contudo, o governo norte-americano anunciou que a diplomacia tinha falhado e que ia intervir com uma coligação de países aliados para eliminar as armas de destruição maciça do Iraque.
O que aconteceu de 20 de Março de 2003 até os nossos dias dá que pensar. Um país destruído, as suas elites mortas ou exiladas, mais de 110.000 mortos civis, o enforcamento do Presidente Saddam Hussein.
A ONU, diversas Organizações Não Governamentais como a Iraq Body Count Project (IBC), revistas cientificas como a “Lancet” e outras instituições fazem o balanço das pesadas perdas humanos. Mas, nos últimos anos, a Opinion Research Business (ORB) conduziu vários estudos que colocam o número de vítimas da guerra e da sua violência em1.220.580.
Quanto aos EUA, que a 15 de Dezembro de 2011 passaram oficialmente a missão às autoridades iraquianas retirando grande parte das suas forças. Tiveram 4.409 mortos durante a guerra.
* Docente universitário