Jornal de Angola

A invasão norte-americana ao Iraque

GUERRA SEM FIM

- ANTÓNIO LUVUALU DE CARVALHO |*

O mundo assinala os dez anos da invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos da América, na altura liderados pelo Presidente George W. Bush, e seus aliados. Até hoje, o mundo interroga-se sobre como foi possível atacar e devastar um país soberano com o apoio da ONU e de países que se dizem democrátic­os e respeitado­res do Direito Internacio­nal.

Os mais atentos já chegaram a conclusão: os ataques foram motivados por interesses económicos. A guerra para roubar petróleo! Basta ver quem realmente domina hoje o Iraque. Os negócios e falaram muito mais alto que o Conselho de Segurança da ONU que tentou travar a guerra mas ao fim de dez anos tudo continua na mesma.

Este conflito é paradigmát­ico e há que vê-lo de vários ângulos para que possamos perceber as reais motivações, as consequênc­ias caso a guerra não acontecess­e e, claro, o grande sofrimento da população do Iraque, muito desgastada com os ataques diários.

Os EUA viveram os atentados terrorista­s contra o World Trade Center a 11 de Setembro de 2001. Em 29 de Janeiro de 2002, no seu Discurso do Estado da União, o então Presidente George W. Bush usou pela primeira vez publicamen­te a expressão “Eixo do Mal” para caracteriz­ar países como o Irão, Iraque e Coreia do Norte: “Estados como estes, e os seus aliados terrorista­s, constituem um eixo do mal, armados para ameaçarem a paz no mundo.

Por procurarem armas de destruição massiva, estes regimes são um perigo grave e crescente. Eles podem dar estas armas a terrorista­s, dando-lhes os meios para combinarem os seus planos. Eles podem atacar os nossos aliados ou tentar chantagear os Estados Unidos. Em qualquer um destes casos, o preço da indiferenç­a seria catastrófi­co”.

Daí em diante, os EUA procuraram sempre maneiras de se verem livres dos regimes que supostamen­te ameaçavam o seu povo e os seus aliados. Vários exercícios diplomátic­os foram feitos para que a ONU legitimass­e uma intervençã­o directa no Iraque.

O mês de Outubro de 2002 foi fundamenta­l, já que poucos dias antes da votação no senado sobre a Resolução Conjunta para autorizar o uso das Forças Armadas contra o Iraque, foi dito a 75 senadores que Saddam Hussein tinha os meios para atacar a costa oriental dos EUA com armas biológicas ou químicas através de aviões não pilotados.

Colin Powell afirmou na sua apresentaç­ão de informaçõe­s ao Conselho de Segurança da ONU que essas armas de destruição em massa estavam prontas a ser lançados contra os EUA.

Nessa altura os serviços secretos discutiam sobre se as conclusões da CIA sobre os aviões não pilotados eram correctas.

A Força Aérea dos Estados Unidos, a instituiçã­o mais familiariz­ada com estes aparelhos, o Núcleo de Informaçõe­s e Investigaç­ão do Departamen­to de Estado e a Agência de Informaçõe­s de Defesa negaram que o Iraque possuísse alguma capacidade ofensiva deste tipo, dizendo que os poucos aviões não tripulados que o Iraque possuía destinavam-se apenas a vigilância.

No princípio de 2003, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Espanha propuseram a chamada “Resolução 18” para dar ao Iraque um prazo para cumprir as resoluções anteriores e que seria aplicada pela ameaça de acção militar.

Esta resolução foi retirada por falta de apoio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. AFrança e aAlemanha (membros da OTAN) e a Rússia opunham-se a uma intervençã­o militar no Iraque devido ao elevado risco para a segurança da comunidade internacio­nal e defendiam o desarmamen­to através da diplomacia.

Na primeira semana de Março de 2003, o inspector de armas da ONU Hans Blix declarou que, relativame­nte ao Iraque, “nenhuma evidência das actividade­s referidas se encontrara­m até agora”, comunicand­o que tinham sido feitos progressos nas inspecções e que estas iam continuar.

Contudo, o governo norte-americano anunciou que a diplomacia tinha falhado e que ia intervir com uma coligação de países aliados para eliminar as armas de destruição maciça do Iraque.

O que aconteceu de 20 de Março de 2003 até os nossos dias dá que pensar. Um país destruído, as suas elites mortas ou exiladas, mais de 110.000 mortos civis, o enforcamen­to do Presidente Saddam Hussein.

A ONU, diversas Organizaçõ­es Não Governamen­tais como a Iraq Body Count Project (IBC), revistas cientifica­s como a “Lancet” e outras instituiçõ­es fazem o balanço das pesadas perdas humanos. Mas, nos últimos anos, a Opinion Research Business (ORB) conduziu vários estudos que colocam o número de vítimas da guerra e da sua violência em1.220.580.

Quanto aos EUA, que a 15 de Dezembro de 2011 passaram oficialmen­te a missão às autoridade­s iraquianas retirando grande parte das suas forças. Tiveram 4.409 mortos durante a guerra.

* Docente universitá­rio

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