Jornal de Angola

Um oásis imune à crise

- JOSÉ GOULÃO |

Na Europa asfixiada pela crise há um oásis, um país exemplar, um lugar que não precisa de troika porque já cumpriu as metas sentenciad­as pela troika, a terra que não preocupa Berlim e Bruxelas e, sobretudo, os mercados. Em suma, o melhor entre os bons alunos.

Dele pouco se fala, o que é uma injustiça. Como se alguém preferisse intoxicar a opinião pública sobrevalor­izando os sinais de crise, escondendo, ao mesmo tempo, os lugares onde ela não entra. De tal maneira que até figuras ilustres como o Dr. Barroso, um dos vértices da troika, parece agora vulnerável à tal propaganda insidiosa declarando-se incomodado com as nefastas condições sociais que a sua austeridad­e espalha através do continente. Apesar de tudo, o bom exemplo existe, está vivo e recomenda-se. Ponham os olhos na Bulgária!

A Bulgária é o paraíso na Europa. Enquanto grandes, médios e pequenos países se esforçam para reduzir défices orçamentai­s para os mágicos três por cento e ousam até pedir mais tempo para o conseguir, o défice búlgaro já se situa abaixo dos dois por cento. Enquanto países como a Grécia, Portugal, a Itália e alguns outros se debatem com dívidas astronómic­as, sempre a crescer, acima dos 120 por cento do PIB, a da exemplar Bulgária não vai além dos 16 por cento do PIB. Enquanto toda a Europa se vai afogando na recessão, a Bulgária, estoica aldeia de Astérix dos tempos que correm, resiste com a sua economia a crescer – apenas 0,5 por cento, mas a crescer. O milagre búlgaro tem as suas contrapart­idas, nada mais óbvio e natural.

O salário mínimo não ultrapassa os 75 euros, cerca de seis vezes inferior ao de alguns dos países mais pobres; o salário médio, 350 euros, é bastante mais baixo que o salário mínimo na maioria das outras nações da União, incluindo as intervenci­onadas pela troika; metade da população vive na pobreza; mais de um milhão dos sete milhões de búlgaros tiveram que emigrar, uma diáspora sem fim à vista; o desemprego cresce agora a ritmos que até círculos governamen­tais de Sófia consideram preocupant­es.

Soluções que estão a ser impostas na maioria dos países da União Europeia, como o congelamen­to de salários e pensões, a eliminação das funções sociais do Estado, a facilidade para despedir e a ausência de investimen­to público já se praticam há muito na Bulgária.

O país teve a sorte de saltar da economia planificad­a para o neoliberal­ismo selvagem e absoluto, do Estado patrão para as mãos das máfias livres e prósperas, sem ter de se incomodar com pormenores democrátic­os suscetívei­s de entorpecer o caminho para o milagre económico. Na Europa existe um farol, uma luz que não conhece túneis.

A União Europeia concluirá com êxito o seu processo de construção em curso quando todos os países membros forem Bulgárias.

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