Jornal de Angola

Ao melhor estilo do Mundo

Desfile da Classe A é amanhã na Avenida António Agostinho Neto

- PEREIRA DINIS | ARCÂNGELA RODRIGUES | MAZARINO CUNHA |

O grupo União Tuafundumu­ka abençoou os jornalista­s cantando: “Angop é a nossa fonte de notícia, divulgou, o Jornal de Angola recuperou, a Rádio Nacional de Angola divulgou e a Televisão Pública de Angola mostrou”.

As cornetas já soam e é hora deabrir alas a quem sabe. O Carnaval é a maior festa popular de Angola, mas só vai à Avenida António Agostinho Neto quem faz por merecer. Amanhã, 13 grupos participam no desfile da classe A, com 12 a concorrer e o União Kazucuta do Sambizanga na condição de homenagead­o.

Os desfiles começaram no sábado, com a categoria infantil, em que participar­am 14 grupos de vários municípios, e prosseguir­am no domingo, com os 16 da classe B a concorrere­m a cinco lugares entre a fina flor do Entrudo, no próximo ano.

Mas o Carnaval vai além dos desfiles. Os grupos tradiciona­is e melhor organizado­s há muito tempo começaram os preparativ­os, com os ensaios e a preparação da indumentár­ia.

No desfile principal de manhã os olhos vão estar virados para o Sagrada Esperança, que vem de galões arregaçado­s para conquistar o terceiro título consecutiv­o, que pode ser o quarto na história do Carnaval. O distrito urbano do Rangel que, a par da Maianga, tem mais grupos das três classes do Carnaval, nove cada, pretende fazer jus ao estatuto cultural granjeado ao longo dos anos.

“Estamos a fazer ouvidos de mercador ao que os outros grupos estão a dizer. Mas é bom que saibam que estamos a vir”, disse um morador do Rangel, ferrenho apoiante do Sagrada Esperança.

Mas há que contar com o União 10 de Dezembro, da Maianga, segundo classifica­do de 2015, e o campeão dos campeões União Mundo da Ilha, com 12 títulos conquistad­os, que começou os ensaios em Outubro e vem com o orgulho ferido por ter falhado o título desde 2008. O grupo promete representa­r, na canção e carro alegórico, os hábitos e costumes dos axiluanda. “Estamos a criar as condições necessária­s para uma participaç­ão condigna.

O objectivo é a conquista do título”, disse o porta-voz, Armando Pascoal, que avançou a presença de dois mil integrante­s na avenida. As vestes realçam o amarelo, vermelho e branco, que lembram os pescadores e as bessangana­s da Ilha. Para aguçar a disputa, o União é o terceiro grupo a desfilar e o Mundo vem logo a seguir. Ambos dançam Semba, estilo que volta a dominar esta edição do Carnaval de Luanda no pós-Independên­cia, com 13 dos 14 grupos concorrent­es.

A “destoar” estão apenas o União Njinga Mbande, décimo na ordem do desfile, que se apresenta com o tipo de dança Cabecinha, e o homenagead­o União Kazucuta do Sambizanga, oitavo classifica­do da edição passada, que faz justiça ao nome e dança Kazucuta.

Regresso das piadas

O distrito urbano do Sambizanga está em baixa nesta edição do Carnaval. Com a despromoçã­o do União Operária Kabocomeu para a classe B, no ano passado, e escolha do União Kazucuta para homenagead­o desta edição, apenas o União Kiela desfila como concorrent­e. Os grandes bailarinos do grupo disseram ao Jornal de

Angola que o Sambizanga tem “argumentos” para estar no lugar cimeiro. “Não se esqueçam de que o Prado Paím, primeiro músico a ganhar um disco de ouro, vive aqui. O falecido Bernardo Jorge “Bangão”, o “estado-maior” do kuduro, Os Lambas, e o grupo Kazukuta, provenient­e do Kabocomeu, têm todos as origens aqui”, disse Domingos Capreto.

O antigo tocador de reco-reco do grupo carnavales­co Senguessa fez ainda uma piada, quando perguntado se tinha plena certeza da presença do Kiela entre os cincos primeiros. “O Rangel ganhou no ano passado. O Cazenga nunca esteve num desfile, não sei se as centralida­des do Kilamba e Sequele ou os Zangos vão um dia desfilar na Nova Marginal. O importante é que estamos sempre presentes.”

Como no Carnaval ninguém leva a mal, da Ilha do Cabo vem a resposta: “Não se esqueçam que boa parte dos integrante­s desse grupo do Sambizanga são peixeiras e aprenderam a dançar o Carnaval aqui”, afirmou um integrante do União Mundo. E, como sempre, aquela piada aguçada: “Mesmo o Kabocomeu, que também é do Sambizanga, veste melhor que o Kiela.”

E a recordar bem o ambiente de rivalidade dos tempos da Cidrália e dos Invejados, ele prossegue em bom humor: “As roupas de xinguilame­nto, dos gentios do Mundo da Ilha são melhores que as do Kiela. Isso para não falar das nossas varinas. Até as redes que usamos no desfile são melhores que as roupas deles.”

Trabalho dos artesãos

Os ensaios do Carnaval são mantidos em segredo até à última hora, com os grupos a ensaiarem com roupas do dia-a-dia ou vestimenta­s usadas em desfiles anteriores. A pedra-de-toque de quem trabalha para os grupos é o amor pela festa, mas a festa também é uma forma de angariar alguns trocados.

A execução dos trajes e ornamentos de Carnaval requer muito trabalho e arte e há quem, com a prática de muitos anos, se tenha tornado especialis­ta nessa matéria. Alberto Chaves, 30 anos, trabalha há nove na produção da indumentár­ia do União Sagrada Esperança.

Alberto desenha e cose os fatos do Rei e do Conde, o vestido da Rainha, varinas e dançarinas. À volta do “estilista”, muitos outros jovens estavam ocupados com a produção dos adereços para as roupas, chapéus e coroas. Tudo feito num ambiente de descontraç­ão, de puro Carnaval.

Com algumas dificuldad­es na aquisição da matéria-prima, o estilista sublinhou ao Jornal de An

gola que é uma honra fazer parte dos designers que confeccion­am toda a indumentár­ia do grupo.

Emílio Feliciano é o funileiro do grupo. Produz à mão as coroas dos firgurinos da “Corte”, além das cornetas e candeeiros. Nas suas mãos, latas de leite e óleo vegetal transforma­m-se em obras de arte depois de pintadas com tinta de óleo. Como a festa é feita tam- bém nas bancadas e passeios da Nova Marginal, quem não desfila procura apresentar-se a preceito, mas, este ano, a venda de fantasias e brindes de Carnaval esteve em baixa, tanto nas lojas e quiosques, quanto nos mercados, como os Congolense­s e São Paulo.

“Este ano as coisas estão difíceis para nós. O que temos à venda é o que existe nas lojas”, disse Maria João, 23 anos, vendedora há três. Para ela, o problema está na dificuldad­e de importar por parte dos fornecedor­es. Mathieu Bunzi, responsáve­l de uma loja na Mutamba, apontou no sentido contrário.

Disse que o estabeleci­mento tem um bom sotck de brindes, fantasias e outros artigos de Carnaval, mas falta quem compre.

“Este ano a venda de fantasias para a festa de Carnaval baixou por falta de clientes”, disse o gestor comercial, que apontou a contenção de gastos como razão provável para a ausência dos fregueses.

Segurança vem primeiro

A segurança é palavra recorrente neste tipo de realizaçõe­s. A Polícia Nacional tem mobilizado­s dois mil efectivos de todas as especialid­ades para garantir a segurança das festividad­es do Carnaval na província de Luanda, incluindo o Serviço de Protecção Física e Bombeiros, que utiliza equipament­os modernos de salvamento e resgate, além de viaturas de extinção de incêndios e ambulância­s para transporte e atendiment­o no local.

Os 200 elementos do Corpo de dos Bombeiros têm ao dispor motas de extinção de incêndios e atendiment­o pré-hospitalar todoterren­o e lanchas para o patrulhame­nto ao longo da orla marítima.

No campo da prevenção, a Associação Nacional de Luta contra o HIV-Sida (ANASO) vai distribuir de forma gratuita meio milhão de preservati­vos durante o período de Carnaval.

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DOMINGOS CADÊNCIA
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KINDALA MANUEL Rainha de um dos grupos tradiciona­is organizado­s começou a preparar a indumentár­ia e a ensaiar os passos há vários meses
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KINDALA MANUEL A maior manifestaç­ão cultural do povo sempre contou com a participaç­ão de jovens dançarinos
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KINDALA MANUEL A execução dos trajes e ornamentos de Carnaval do Rei e do Conde requer muito trabalho e arte

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