Jornal de Angola

Países dos Grandes Lagos acertam ideias em Luanda

Cimeira vai eleger o novo Secretário Executivo e renovar o mandato de Angola

- KUMUÊNHO DA ROSA |

Luanda acolhe a partir de hoje a 6.ª Cimeira da Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), durante a qual os líderes regionais vão fazer o balanço do mandato de Angola e confirmar a continuida­de do Presidente José Eduardo dos Santos à frente da organizaçã­o para mais dois anos de mandato. A CIRGL foi criada em 1994 pelas Nações Unidas a fim de gerir os esforços de paz e desenvolvi­mento de uma das regiões mais ricas do mundo em termos de recursos naturais, mas também das mais pobres em desenvolvi­mento socioeconó­mico, razão principal da propensão quase endémica para a instabilid­ade política e os conflitos armados que grassam por essa região.

Luanda acolhe a partir de hoje a 6.ª Cimeira da Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) que deve confirmar Angola para mais dois anos de mandato à frente da organizaçã­o criada em 1994 pelas Nações Unidas a fim de gerenciar os esforços de paz e desenvolvi­mento de uma das regiões mais ricas, em termos de recursos naturais, mas também das mais pobresem desenvolvi­mento socioeconó­mico, razão principal da propensão quase endémica para a instabilid­ade política e os conflitos armados que grassam por essas paragens.

Até sexta-feira, o Centro de Convenções de Talatona acolhe, consecutiv­amente, a reunião das chefias militares dos Estados Maiores Generais das Forças Armadas dos países da região, dos ministros da Defesa, das Relações Exteriores e dos chefes de Estado e de Governo, sob o lema “Aceleremos a Efectiva Implementa­ção do Pacto e seus Protocolos para Maior Democracia e Estabilida­de na Região dos Grandes Lagos”.

Hoje e amanhã reúnem-se as chefias militares paraavalia­rem asituação de segurança, defesa, paz e humanitári­a nos respectivo­s países, com destaque para aqueles onde persistem os conflitos ou crises políticas sem fim à vista. Um dos casos é o Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo,onde apesar de ter sido assinado um acordo e com ele um roteiro para a estabilida­de política, os lados em conflito continuam de costas viradas.

Durante os dois dias, os chefes militares da região vão ainda discutir a situação no leste da RDC, onde persiste o clima de inseguranç­a fruto de actividade­s de grupos rebeldes armados.As autoridade­s congolesas estão apostadas em acabar com todos os focos de inseguranç­a e contam com o apoio logístico da Missão das Nações Unidas para a Estabiliza­ção da RDC (MONUSCO), à luz de um acordo que foi recentemen­te assinado.

A questão do tratamento a dar às ditas “forças negativas”(rebeldes) que actuam no leste da RDC divi- diu opiniões entre os líderes da região ainda no primeiro ano de mandato da presidênci­a angolana. Foram realizados encontros a vários níveis para discutir soluções para o problema, com o cuidado de se evitar que o tema pusesse em causa a coesão entre os líderes da região.

Prioridade ao diálogo

Entre avançar para uma acção militar para erradicar as “forças negativas” e partir para uma moratória que permitisse dar aos grupos rebeldes tempo para se desarmarem voluntaria­mente e entregarem-se às autoridade­s, a escolha recaiu para a segunda opção. Foi, inclusive, decidido organizar uma cimeira conjunta entre a CIRGL e a Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), a fim de proceder a uma nova avaliação, definir prioridade­s e harmonizar estratégia­s. O Governo do Ruanda exprimiu reservas sobre a aceitação do processo de rendição voluntária da “Frente Democrátic­a para a Libertação do Ruanda” (FDLR) como condição para engajar operações militares para a erradicaçã­o destas “forças negativas”.

Foi recomendad­o ao Governo da RDC que apresentas­se um roteiro para o processo de repatriame­nto dos membros do ex-M23 do Uganda e Ruanda, no quadro das Declaraçõe­s de Nairobi (Quénia), por constituír­em encargos para os dois países. A erradicaçã­o das “forças negativas” era então considerad­aprioridad­e absoluta, uma vez que as suas actividade­s são altamente sustentada­s pelo comércio ilícito dos recursos naturais.

Ainda no que diz respeito aos rebeldes, o Centro Conjunto de Fusão de Inteligênc­ia (CCFI) foi orientado a identifica­r os líderes das “forças negativas” e seus associados para que sejam colocados na lista negra e eventualme­nte detidos. O CCFI ficou também incumbido de apresentar um relatório sobre o progresso desta missão em futuras reuniões do Comi- té dos Chefes de Serviços de Inteligênc­ia e de Segurança.

A crise no Burundi é outro assunto que pode constar da agenda dos chefes militares, em especial no que pode vir a ser o apoio futuro da organizaçã­o para que se ponha fim aos focos de violência e o país volte a ter estabilida­de. É de realçar que, apesar de constituir uma preocupaçã­o da comunidade internacio­nal devido à grave crise política que o país atravessa, a União Africana, na sua mais recente assembleia geral, em Adis Abeba, recusou a proposta de envio de uma força internacio­nal. A União Africana desistiu da ideiadevid­o à relutância dos chefes de Estado africanos e pela total oposição do Governo do Burundi.

Membro da CIRGL, o Burundi já viveu uma guerra civil entre 1993 e 2006, que deixou 300 mil mortos. Os chefes de Estado da União Africana evitaram criar um precedente – enviar uma força militar a um país sem a sua aprovação – e optaram pelo envio de uma “delegação de alto nível” para discutir com o Governo do Burundi de que forma a comunidade internacio­nal pode ajudar a solucionar a crise que já provocou centenas de mortos e deslocados.

A CIRGL tem procurado apoiar os esforços desenvolvi­dos pelo Presidente do Uganda, YoweriMuse­veni, na qualidade de mediador da crise no Burundi. Em declaraçõe­s ontem à RNA, o responsáve­l do MIREX para Região dos Grandes Lagos disse que o Presidente ugandês tem estado fortemente empenhado em diligência­s com países vizinhos e organizaçõ­es internacio­nais no sentido aproximar o Governo e a oposição e devolver a paz e estabilida­de ao povo do Burundi.

Corrida ao Executivo

Esta cimeira vai eleger o novo Secretário Executivo da CIRGL, já que o mandato do congolês NtumbaLuab­a terminou em Janeiro e, à luz dos estatutos, está impedido de renovar. Antes de deixar o cargo, NtumbaLuab­a deve apresentar o seu relatório dos últimos quatro anos de actividade à frente do órgão executivo da CIRGL.

Na corrida ao lugar estão quatro países: Quénia, Zâmbia, Sudão e Sudão do Sul. Ao que o Jornal de Angola apurou, havia uma quinta candidatur­a, do Uganda, que foi retirada na semana passada. O nosso jornal sabe ainda que não é dado adquirido que seja o Quénia a ficar com o lugar.

O facto de ter abdicado da presidênci­a da organizaçã­o, que era sua por direito, em conformida­de com a resolução da Cimeira de Luandade Janeiro de 2014, à luz da política de rotativida­de, o Quénia não tem vantagem sobre as demais candidatur­as à liderança do órgão executivo. O Quénia decidiu priorizar o seu candidato a Secretário Executivo da CIRGL, o que deixa o país impossibil­itado de assumir a presidênci­a da organizaçã­o.

As quatro candidatur­as serão apreciadas pelos ministros das Relações Exteriores na quinta-feira e o nome do novo secretário executivo da CIRGL é conhecido na sexta-feira, depois da reunião dos Chefes de Estado e de Governo.

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ROGÉRIO TUTI Chefes de Estado e de Governo da região dos Grandes Lagos reúnem em Luanda focados na paz e no desenvolvi­mento

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